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Crítica | O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio conquista só pela nostalgia

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20th Century Fox
20th Century Fox

Meu intuito é sempre analisar um filme em si e por si em casos de sequências, remakes, reboots, retcons ou franquias: mesmo que muitos dos espectadores sejam fãs, ninguém é obrigado a conhecer tudo para assistir a um filme e é bom quando uma obra é capaz de sustentar a si própria, sem necessitar de outras como muleta (a não ser em caso de sequências, claro). Em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, no entanto, se esquecermos toda a história dos personagens e nos atentarmos ao que nos é dado pelo roteiro de David S. Goyer, Justin Rhodes e Billy Ray, o filme perderá muito do pouco peso que tem.

A franquia nasceu em 1984, quando James Cameron dirigiu O Exterminador do Futuro e, então, o filme não somente era espetacular em termos de efeitos visuais, como também se tornou canônico no gênero de ação, além de levantar discussões sobre o futuro, a era das máquinas e sobre inteligência artificial. O sucesso continuou em 1991, com O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, também de James Cameron, e trouxe melhorias para a história, ressignificando personagens e outros pontos da trama. O que veio depois, é motivo de controvérsia.

A presença de James Cameron na produção deu a sensação de que a chama dos dois primeiros filmes seria reacendida em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, mas, ao contrário dos originais, diretor e roteiristas foram completamente diferentes, o que certamente altera muito a receita.

Atenção! A partir daqui, a crítica pode conter spoilers.

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Questões filosóficas

Ainda que O Exterminador do Futuro seja um filme consagrado em seu gênero e que tenha alguns momentos e personagens exaustivamente referenciados na cultura pop, sempre haverão espectadores nas salas de cinema que simplesmente desconhecem o passado do personagem. Diante disso, O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio não complica e cria uma história que se desenrola como uma tremenda sequência de ação, com poucas pausas para reflexões e explicações (às vezes desnecessárias). O simples, que muitas vezes é necessário e pode funcionar, não encontra espaço nesse novo filme, sobretudo pelo cenário político que invoca ao ser uma produção estadunidense que nos mostra logo nos primeiros minutos uma família de mexicanos que luta para não perder seus empregos para as máquinas.

A simplicidade torna-se uma falha no momento em que os roteiristas abrem uma discussão, mas não a exploram. Há uma intensa luta entre a humanidade e as inteligências artificiais que irão surgir no futuro e, pelo visto, a questão central dos humanos não é com a máquina em si, mas com a manutenção daquilo que nos faz humanos. Nesse contexto, a personagem Mackenzie Davis, Grace, é um excelente símbolo pouco explorado: a melhoria do corpo humano através da tecnologia não nos aproxima das máquinas e é possível perder a humanidade mesmo sendo completamente humano. Por outro lado, uma máquina, o T-800 ou Carl (Arnold Schwarzenegger), como agora é conhecido, parece adquirir humanidade através dos sentimentos. Há uma grande profundidade nessas questões, mas a opção por um roteiro mais raso priva o espectador de um filme muito mais memorável e significativo. Ainda pior que não se aprofundar na própria história, é a criação de diálogos artificiais, pouco verossímeis e que por vezes tem como único objetivo elucidar a trama óbvia para o espectador.

Ação

O que há de mais memorável em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio é justamente a união dos talentos de James Cameron e de Tim Miller, ou seja, tecnologia e direção de cenas de ação. Da recriação dos corpos jovens do T-800 e de Sarah e John Connor às cenas de ação, que misturam efeitos digitais e práticos, é tudo um grande espetáculo de ação que honra a franquia.

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As habilidades de Tim Miller, consagradas na direção de Deadpool (2016), são suficientes para a criação de cenas de luta que são claras e valorizam as habilidades sobre-humanas dos personagens. As lutas são espetáculos visuais, mas carecem de originalidade para quem acompanha de perto os filmes de ação: há a constante sensação de que já vimos isso em outro lugar. Nesse sentido, é possível ver que em Deadpool Tim Miller foi capaz de imprimir uma marca própria que parece apagada e reduzida apenas a competente em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio.

Multiversos

Ao fazer um retcon (do inglês retroactive continuity), optou-se por ter como ponto de partida do novo filme o final do filme de 1991 e recontar alguns pressupostos. Ao destruir um futuro possível, Sarah Connor não antecipou a possibilidade de um outro futuro tão ruim quanto, o que é mais um dos pontos que o roteiro não ousa discutir.

Ao mesmo tempo que a franquia tenta reviver o espírito original, acaba também abandonando boa parte daquilo que a fazia memorável. Apesar de Sarah Connor ter sido a donzela em perigo no princípio, sua personagem tornou-se tão forte, relevante e icônica quanto o T-800. Retomá-la como a grande heroína no novo filme da franquia é um grande acerto, mas, embora Grace seja uma personagem muito interessante, é justamente a pretendente a substituta de Sarah Connor que deixa a desejar: Dani Ramos (Natalia Reyes) nem sequer tem a chance de demonstrar se era uma personagem à altura da franquia, porque o próprio roteiro tira dela todos os potenciais: seus diálogos são quase risíveis, suas motivações são mal fundamentadas e mesmo sua personalidade não pareceu bem construída, soando muito mais como um objetivo para os personagens ao seu redor do que um verdadeiro símbolo de resistência.

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Passadas as duas horas de filme, o que resta é muito mais o retorno de Linda Hamilton e Arnold Schwarzenegger do que qualquer outra coisa (ainda que Grace mereça sobreviver na memória de todos). Resta-nos aguardar por roteiristas e diretores que sejam capazes de reacender a chama dos dois primeiros filmes. Ainda que tenha a produção de James Cameron, muito provavelmente O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio será lembrado com o mesmo sentimento de missão não cumprida das demais tentativas de atualizar a franquia.