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Crítica O Culpado | A culpa que nos sufoca em um suspense de tirar o fôlego

Por| Editado por Jones Oliveira | 05 de Outubro de 2021 às 20h30

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Divulgação/Netflix
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A culpa é um sentimento bastante traiçoeiro. Ela envenena nosso pensamento e sabota nossas ações, pois sempre estamos tentando compensar um erro — por mais que ninguém esteja pedindo por isso. Assim, por mais bem intencionados que sejamos, ela está ali para enviesar nosso juízo, nossa forma de ver o mundo ou mesmo as nossas decisões. E O Culpado é uma bela demonstração de como esse sentimento é sufocante.

Para isso, o novo filme da Netflix produzido e estrelado por Jake Gyllenhaal nos coloca dentro da rotina de trabalho de Joe Baylor, um detetive de polícia que foi rebaixado a atendente do serviço de emergências. E é no que pode ser o seu último dia na função que ele recebe a ligação de uma jovem vítima de sequestro e precisa encontrar uma forma de ajudá-la.

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O grande ponto aqui é o modo com que O Culpado conduz essa trama aparentemente simples. Toda a ação é mostrada a partir da perspectiva de seu protagonista, ou seja, de dentro de uma central telefônica. Sem poder ir às ruas solucionar o crime ou fazer as diligências necessárias para investigá-lo, tudo é limitado às informações que consegue por telefone — o que se torna cada vez mais agoniante à medida que a situação começa a se complicar.

Ao mesmo tempo, a própria história de Joe é desenvolvida dentro desse contexto, sendo uma espécie de mistério secundário que se desenrola em paralelo. Sabemos que ele foi realocado para o serviço administrativo, mas não exatamente o que aconteceu e nem por que isso o afeta tanto.

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E é a partir desse clima claustrofóbico que essas duas narrativas apresentam que O Culpado traz uma das mais intensas e melhores surpresas da Netflix neste ano.

De tirar o fôlego

O Culpado é uma excelente lembrança de que o cinema nem sempre precisa de grandes efeitos e cenas de ação monumentais para nos prender. Em muitos casos, basta uma boa história e um bom uso de câmera para criar toda a tensão que um suspense exige.

A ideia de um crime que precisa ser solucionado apenas pelo telefone não é necessariamente nova e já vimos coisas parecidas em outros filmes, como Por um Fio e Chamada de Emergência, isso sem falar de Culpa, o filme dinamarquês que inspirou este remake estadunidense da Netflix. O diferencial está no modo como o roteiro de Nic Pizzolatto (True Detective) constrói a tensão e como a cinematografia e a ambientação criam uma sensação de impotência que afeta não apenas o protagonista, mas o próprio espectador.

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Tanto que você se vê rapidamente envolvido naquela história e fica tão agoniado quanto o personagem de Gyllenhaal à espera de novas informações e imaginando a ação dos demais policiais apenas a partir de suas narrações pelo telefone. É um tipo de recurso simples, mas que funciona muito bem ao se encaixar na narrativa apresentada. Ouvir o policial falar sobre a cena do crime é muito mais agoniante do que realmente vê-la e isso faz com que, aos poucos, a gente passe a compartilhar da tensão que vai tomando conta de Baylor à medida que a situação vai se tornando mais urgente e ele não pode fazer nada.

E O Culpado sabe explorar muito bem essa tensão. Embora o drama pessoal do protagonista não seja nada interessante perto do crime em andamento, o filme se aproveita de seu cenário único e da própria situação claustrofóbica para criar esse efeito sufocante que extrapola o sequestro em si e passa a englobar todo o protagonista.

E é aí que a culpa entra em cena. Embora a gente não saiba ao certo o que aconteceu com o personagem de Gyllenhaal, é claro que há algo que afetou sua carreira e sua vida pessoal — e essa sensação de que precisa consertar e compensar esse erro é que o motiva a tomar decisões que nem sempre são as melhores. Não por acaso, suas crises de asma passam a ser mais frequentes: a cada minuto que passa, a situação se torna mais sufocante e a própria culpa lhe tira o fôlego.

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Assim, o que temos é uma história que se desenrola de forma bastante imprevisível e um protagonista que não reage nada bem a essas reviravoltas. A partir de uma atuação excelente de Gyllenhaal, vemos o quanto a culpa afeta Baylor e faz com que ele cada vez mais perca o controle da situação e ultrapasse limites que não deveriam ser avançados. E por mais que não saibamos ao certo o que aconteceu para que ele fosse parar no serviço de emergências, aos poucos vamos conhecendo mais desse personagem e entendendo o porquê de ele ter sido retirado das ruas.

Desequilíbrio e correria

Apesar da condução de dois mistérios em paralelo ser realmente muito tensa, a conexão entre eles não é tão clara quanto parece e, ao longo de todo o filme, você fica com a sensação de que as duas histórias não conversam. Ainda que seja fácil ver como a culpa liga Baylor à vítima do sequestro, a conexão entre as duas narrativas só acontece nos últimos minutos do filme e, até lá, você fica com a sensação de que uma história está atrapalhando a outra.

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Isso não chega a ser um grande problema, mas é inegável que o mistério do sequestro é muito mais interessante do que o drama do policial rebaixado. Tanto que, em vários momentos, você se sente incomodado quando a trama pessoal invade a criminal.

Além disso, sem entrar em spoilers, a revelação do que aconteceu com Joe Baylor é muito menos impactante do que a reviravolta que o crime oferece — ainda mais para nós, brasileiros, infelizmente. Tanto que, tão logo o primeiro mistério é solucionado, o filme não se importa em acelerar as coisas e entrega um final bastante apressado por saber que ele não vai conseguir gerar o mesmo efeito do que foi mostrado até então.

Ainda assim, não é nada que estrague o clima construído até ali. Mesmo com essa perda de ritmo, O Culpado entrega um suspense que faz um excelente trabalho com muito pouco. Por mais que nem todas as reviravoltas sejam brilhantes, a forma como ele conduz o espectador ainda faz tudo valer a pena.

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O Culpado está disponível no catálogo da Netflix para todos os assinantes.