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Crítica | Ela Morre Amanhã e o alerta de um réquiem em cores

Por| 19 de Agosto de 2020 às 10h17

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Neon
Neon

O tema de She Dies Tomorrow é sério. O filme em si é quase tão complexo quanto o assunto ao optar por uma narrativa não expositiva e muito mais focada na atmosfera que envolve os personagens, ajudando a expor a evolução dos seus sentimentos. Embora não seja classificado como um terror, há uma tensão típica do gênero, que é potencializada pelo elemento de contágio que o enquadra no gênero de ficção científica.

Acompanhamos a personagem Amy (Kate Lyn Sheil) e sua trajetória permeada por flashbacks, uma história que ganhará ramificações e trará os demais personagens para a mesma atmosfera. Os sinais de depressão são claros e os detalhes introduzidos pela diretora Amy Seimetz ajudam o espectador a compreender que, quando se trata de depressão, os sinais podem ser bastante sutis e que o apoio de amigos e familiares é de suma importância.

Embora o anúncio das intenções seja explícito, como no título, não há pressa em desenvolver o roteiro, permitindo que as imagens deem abertura para a reflexão, assim como para a apreciação estética da parte técnica do filme, que tem um trabalho de fotografia que se destaca pela precisão e sutileza, além de ajudar a compor o elemento horror/sci-fi deEla Morre Amanhã (como foi traduzido para o português).

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Cores

A animação Divertida Mente é bastante didática e segura ao falar do desenvolvimento de sentimentos e pensamento complexos a partir dos cinco personagens que habitam a mente da protagonista e não é a toa que a tristeza é azul. Embora a utilização de cores varie de uma cultura para a outra, o azul é bastante ligado à representação desse sentimento nas mais diversas artes e, portanto, também no cinema. É interessante notar como a fotografia insere com sensibilidade essa cor ao longo de todo o filme, mesmo quando compartilha o quadro com outras cores que estão em maior destaque.

O vermelho, por outro lado, surge como alerta e ajuda a compor o elemento sobrenatural de contágio imediato dessa tristeza exacerbada transmitida a Amy e inocentemente passada adiante. O ponto de virada de cada personagem é marcado pela alternância de cores que banham todo o quadro, abandonando completamente a sutileza nesses momentos.

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As atuações são essenciais para o desenvolvimento da narrativa e mostram as mais diversas formas que a depressão pode tomar: enquanto Amy luta com a apatia e a constante volta ao passado, sua amiga Jane (Jane Adams) torna-se desleixada e desenvolve sintomas voltados para a paranoia; o médico (Josh Lucas) é o único que recorre a um choro mais intenso; Brien (Tunde Adebimpe) potencializa o luto; Tilly (Jennifer Kim) torna-se friamente sincera e assim por diante, com cada novo personagem trazendo uma nova dimensão.

Não são expostas justificativas para esses desdobramentos, justamente porque cada pessoa é um universo complexo em si e cabe a um profissional especializado a análise das causas. Por outro lado, a exposição dos efeitos é um importante manifesto que nos convoca à atenção: a depressão e suas consequências precisam deixar de ser um tabu e os sinais emitidos por quem sofre dessa condição precisam ser levados a sério. Em She Dies Tomorrow, enquanto cada um apresenta sintomas diferentes a partir dos desdobramentos das suas experiências pessoais, é comum a todos os personagens a reação de descrença que eles recebem toda vez que expõem em primeira pessoa o título do filme.

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Vamos conversar?

Não acredito na censura das obras de arte, mas é importante lembrarmos que nem todos os filmes são adequados para todos os momentos. Há situações em que precisamos evitar o contato com o que nos afeta, por mais tentador que seja. Ela Morre Amanhã traz uma excelente reflexão sobre relações sociais e a depressão, mas provavelmente não é uma boa opção para quem sofre dessa condição.

Ele apresenta uma série de agravantes causados pela descrença de quem não leva a sério justamente o que deve ser levado muito a sério. O que o filme não mostra (e este é provavelmente seu maior defeito) é que a depressão tem cura e que existem os profissionais adequados para isso: os psicólogos (que podem contar com a ajuda dos psiquiatras, brevemente citados pelo médico de Jane).

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Caso você se identifique com quaisquer dos sintomas de depressão, procure ajuda profissional especializada. É importante lembrar que em casos de a condição evoluir para o seu sintoma mais extremo, uma das opções é recorrer ao Centro de Valorização da Vida – CVV através do número de telefone 141 (ligação paga) ou através do site www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita.