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Crítica | Artemis Fowl: O Mundo Secreto mal nasceu e já merece reboot

Por| 19 de Junho de 2020 às 11h18

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Disney
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A Disney tomou a decisão correta ao estrear Artemis Fowl: O Mundo Secreto diretamente na internet, não aguardando o retorno dos cinemas para o lançamento. Isso porque a adaptação é bonita o suficiente para deixar as crianças entretidas, mas o roteiro é tão fraco que o filme provavelmente teria tido dificuldades de se sustentar em cartaz por mais de uma ou duas semanas.

Não pretendo me deter em questões de adaptação, mas acho útil lembrar que o nome do primeiro livro Artemis Fowl é justamente “O Menino Prodígio do Crime”, tudo o que é absolutamente ignorado na versão cinematográfica. Artemis Fowl: O Mundo Secreto até mantém o sono distante com todas as cores, tecnologias, artefatos e sua versão própria de personagens míticos, mas parece brincar com a inteligência do espectador.

Atenção! A partir daqui, a crítica pode conter spoilers.

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Apego quase nenhum

Desde os livros, Artemis Fowl não tem uma boa personalidade: com um QI altíssimo, Artemis utiliza seu conhecimento e habilidades para interesses próprios. No filme, Artemis conta com uma escolha fraca de elenco e é difícil imaginar Ferdia Shaw liderando uma franquia de sucesso, não somente por questões de atuação, mas simplesmente porque ele não consegue transpassar para o espectador a complexa personalidade de Artemis Fowl Jr. O caso de Shaw, na verdade, é mais complexo do que parece: embora o garoto não pareça ter o carisma de um jovem Daniel Radcliffe para se sustentar no papel apesar da má atuação, também não há oportunidades no roteiro para que Fowl se mostre como mais do que um menino mimado com acesso a tecnologia de ponta.

Além de Shaw, a atuação de Nonso Anozie é sofrível e sua caracterização poderia ter sido mais digna do personagem e do ator. Artemis Fowl teve muitos problemas até finalmente ser realizado, o que certamente prejudica muito o filme, mas é difícil entender o que aconteceu. Enquanto a presença de Colin Farrell parece apenas um desperdício de talento, os desempenhos de Josh Gad e principalmente Judi Dench são capazes de salvar a experiência do espectador.

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O Mulch Diggums de Josh Gad parecia bastante artificial a princípio, como se forçasse o lado cômico do personagem, mas com o desenrolar da trama esse se tornou o mais complexo e profundo dos personagens, o único do qual conhecemos diversas nuances. Por outro lado, a austeridade e seriedade transmitida por Judi Dench transforma automaticamente o mundo das fadas em algo crível e o figurino, que está a um passo do ridículo, acaba ganhando a seriedade necessária justamente porque Dench consegue transmitir sua personagem como algo absolutamente sério e digno. A Holly Short de Lara McDonnell, por fim, parece ter muito a ser desenvolvido, mas não encontrou espaço suficiente para isso no roteiro.

Obras menores

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Algumas obras literárias fazem sucesso suficiente para chamar a atenção da indústria cinematográfica como se uma adaptação fosse imperativa. O sucesso de Senhor dos Anéis e Harry Potter marcou profundamente o universo de adaptações voltadas para um público mais nerd. Artemis Fowl, assim como outras adaptações de sagas literárias "menores", parece sofrer com dois objetivos que não se encaixam: agradar os fãs e economizar dinheiro.

O roteiro de O Mundo Secreto é corrido e superficial, porque já corta os gastos antes mesmo do início da produção: o filme tenta adaptar não somente um, mas os dois primeiros livros do personagem. Assim, a Disney nos conduz logo para uma batalha cheia de efeitos e criaturas mágicas, mas não nos dá o suficiente para desenvolver apego pelos personagens, o que podemos notar sobretudo com a quase morte de Domovoi Butler, que chega a ser nada comovente.

Depois de diversos problemas de produção, a adaptação caiu nas mãos de Kenneth Branagh, que chamou a atenção com a direção de blockbusters como Thor, Operação Sombra: Jack Ryan, Cinderela e Assassinato no Expresso do Oriente, mas parece apenas conduzir Artemis Fowl: O Mundo Secreto dentro dos limites do suficiente para terminar o trabalho.

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A empreitada de adaptar Artemis Fowl para o cinema deu muito errado e é difícil imaginar muitos fãs ansiando sequências desse primeiro filme, que mal chegou e já merece um reboot.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech