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Crítica | A Viúva das Sombras, o primo russo (e distante) de A Bruxa de Blair

Por| 26 de Fevereiro de 2021 às 09h15

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Paris Filmes
Paris Filmes

Estamos vendo a formação de uma corrente do cinema de horror russo através da distribuidora Paris Filmes. Em 2017, eles lançaram A Noiva, escrito e dirigido por Svyatoslav Podgaevskiy, que, ao lado de Christopher Bevins, lançou A Sereia: Lago dos Mortos no ano seguinte. Este segundo filme, também distribuído no Brasil pela Paris Filmes, contou com a dupla de roteiristas Natalya Dubovaya e Ivan Kapitonov, que se juntaram ao diretor e roteirista estreante Ivan Minin para lançar o recente A Viúva das Sombras.

Com uma divulgação que lembra as dos genéricos filmes estadunidenses de fantasmas amaldiçoados, pode ser uma surpresa para o espectador se deparar com um aparente documentário. Não fossem as indicações de que os entrevistados estavam falando sobre a lenda da personagem-título, é possível se perguntar se não entrou na sala de cinema errada. A Viúva das Sombras é, na verdade, uma espécie de amálgama de dois famosos found footage, formato em que conhecemos a história dos personagens a partir de gravações que foram encontradas.

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Atenção! A partir daqui, a crítica pode conter spoilers.

“Nada se cria…

… tudo se copia”, já dizia o ditado. Os filmes que fazem parte da mistura que é A Viúva das Sombras são o canônico A Bruxa de Blair e o espanhol [REC]. De um, extraíram a ideia da misteriosa floresta assombrada por um maligno espírito feminino; do outro, aproveitaram a dinâmica de uma repórter que acompanha um dia de trabalho de uma equipe de especializada em situações emergenciais.

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A relação com A Bruxa de Blair, em alguns momentos, é incrivelmente óbvia, o que pode significar pelo menos duas coisas: ou a homenagem é forte o suficiente para ser explícita, ou a equipe criativa julgou que o filme de 1999 era antigo o suficiente para que A Viúva das Sombras soasse mais original. A primeira opção é até fofa, mas a segunda certamente seria um ato de má-fé. Seja o que for, o filme russo consegue ser muito próximo de A Bruxa de Blair sem realmente parecer uma cópia e com a vantagem de conseguir empolgar os espectadores com a reprodução de uma das sequências mais icônicas de sua "inspiração".

Ao longo do filme, o charme de found footage se perde com a inserção de imagens com câmeras em terceira pessoa, quando passamos a não ver mais apenas as imagens captadas pelas câmeras dos personagens. As câmeras em primeira pessoa, sobretudo as GoPro, passam a ser utilizadas apenas em momentos específicos da trama e ajudam a criar a tensão do momento, demonstrando que a mistura de found footage com a linguagem tradicional ajuda na criação de tensão através da montagem.

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É notável, inclusive, o excelente trabalho de pós-produção de A Viúva das Sombras, que parece ter salvado completamente o filme. Há pouquíssimo terror na direção de Ivan Minin, o que é péssimo para um roteiro que é bastante bom dentro do gênero. Susto e medo, quando existem, são graças à montagem e à trilha sonora. Enquanto a trilha não é lá tão boa e às vezes força demais a criação de tensão sem justificativa, a montagem é a verdadeira heroína da obra. O mais incrível é que a montagem usa recursos realmente muito simples, como interromper a sinistra história da viúva com closes da motosserra tentando ser ligada. Eis uma boa obra para ser estudada por realizadores independentes de terror.

Apenas… ok

Embora seja um bom filme que, se visto por si mesmo, pode entreter ou até mesmo ensinar, A Viúva das Sombras não consegue ir muito além disso se comparado a outros filmes do gênero, do formato ou mesmo se posto ao lado da sua principal referência. A Bruxa de Blair consegue assustar muito mais sem sequer mostrar a bruxa, enquanto o longa russo entretém, mas não arrepia cabelos nem ao mostrar a tal assombração.

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Os personagens são razoavelmente cativantes, o suficiente para sentirmos pena, mas sem um aprofundamento que nos permita realmente sentir a morte deles, algo que A Bruxa de Blair também faz em nome do prazer sadista dos espectadores. O que falta, realmente, em A Viúva das Sombras, é uma equipe mais apaixonada, ainda que inexperiente. Emular o título que inaugurou o gênero found footage funciona apenas em parte e o filme acaba deixando a sensação de que o diretor Ivan Minin não se aventurou muito nos estudos do terror.

Se é um terror assustador ou não, não é possível dizer, porque isso depende muito do nível de sensibilidade do espectador com o gênero. Para os fãs mais assíduos do terror, A Viúva das Sombras não surpreende, mas também não se mostra descartável. Como sempre, todo filme vale a pena, apesar dos seus tropeços.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech