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Crítica | A Escavação transforma biografia em belíssimo drama histórico

Por| 09 de Fevereiro de 2021 às 09h52

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Tensão, curiosidade, empolgação e mistério geralmente não são sensações ligadas a dramas, mas de tempos em tempos surgem obras simples que conseguem nos fisgar como se fosse uma complexa investigação sobre um serial killer. A Escavação é desses filmes, que consegue transformar uma quase monótona e pequena escavação arqueológica em uma história que atiça nossa curiosidade e nos segura até o final.

A Escavação ainda faz um papel muito importante de sedimentação histórica, que se torna ainda mais importante ao final do filme. Baseada em acontecimentos reais, a trama toma a liberdade de criar uma ficção apoiada em documentações para, no microcosmo do filme, levantar bandeiras necessárias, como o reconhecimento de Basil Brown, interpretado pelo sempre incrível Ralph Fiennes.

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Atenção! A partir daqui a crítica pode conter spoilers.

Pessoas

O roteiro de A Escavação, ainda que seja excelente e ajude a explorar temas que vão além da descoberta histórica, atém-se à escavação de modo geral e não entrega aos espectadores mais sedentos por adrenalina motivos suficientes para acompanhar a história por si só. Logo de cara, no entanto, somos arrebatados pelo trabalho de direção de Simon Stone e de cinefotografia de Mike Eley, no que parece ser o melhor trabalho da carreira de ambos.

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Interpretando personagens também não muito atrativos à primeira vista, A Escavação tem ainda a presença de Carey Mulligan, Lily James e Ben Chaplin, além do já citado Fiennes. O grupo central de personagens e seus respectivos atores ajudam muito para que o filme se torne melhor e mais profundo do que o roteiro poderia nos oferecer antes de sair do papel.

Assim, A Escavação se torna uma grande metáfora e muito mais do que apenas um filme biográfico ou a reprodução de um evento histórico. Destoam dessa beleza e perfeição as figuras caricatas dos diretores de museus e especialistas que pretendiam tomar para si a descoberta. O surgimento desses personagens lembra antigas aventuras como Indiana Jones e peças satíricas como as do grupo Monty Python.

Essas caricaturas chegam a se destacar negativamente diante dos demais personagens, mas, como a ridicularização é merecida, a caricatura encontra seu lugar na trama como algo realmente intencional e, de uma forma bem inglesa, chega a encontrar seu alívio cômico. Assim, os especialistas são diminuídos ainda mais para que o sutil, sábio e comedido Basil Brown surja como figura de destaque sem grandes esforços da produção.

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Paisagem

A Escavação se passa quase que exclusivamente nas terras de Edith Pretty (Mulligan) e, mesmo sem paisagens de tirar o fôlego, as imagens têm esse efeito. Produto do tripé arte-fotografia-direção, a beleza impressionante de diversas sequências do filme não devem passar despercebidas, sobretudo pela utilização de lentes contra-intuitivas, como o uso de grandes angulares que distorcem nitidamente a paisagem, mas dão ao filme uma caracterização necessária.

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Com essa beleza própria, A Escavação, que já havia se destacado por outros setores, ganha uma identidade visual original que não distancia o filme do que já foi feito até então, mas cria um destaque difícil de ser ignorado. Não parece haver, neste filme, uma audácia digna das vanguardas, mas é uma excelente compreensão do que funciona e do que não funciona para narrativas mais lentas e com doses britânicas de adrenalina.

Junto a tudo isso, o longa ainda conta com doses interessantes de tensão pela ambientação temporal da história: enquanto a escavação é feita, a Segunda Guerra Mundial está em andamento e o Reino Unido está prestes a declarar guerra, gerando uma sensação de que, a qualquer momento, todo o trabalho será perdido pela guerra.

A Escavação, enfim, é um ótimo filme sobre um assunto muito importante, mas pouco ou nada atrativo para muitos espectadores. Para quem tiver a atenção fisgada, uma excelente experiência pode estar ali, escondida entre discussões sobre períodos históricos e civilizações antigas, um verdadeiro drama dos problemas cotidianos, com reflexões sobre poder, conhecimento, amor e morte. Tudo isso, de certa forma, tem a ver com arqueologia, não?

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A Escavação está disponível no catálogo da Netflix.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.