Shein é acusada de enganar influenciadoras para passar uma boa imagem
Por Guilherme Haas • Editado por Douglas Ciriaco |
A viagem de um grupo de influenciadoras para uma das fábricas que produz roupas para a Shein, na China, está repercutindo nas redes sociais — mas pelo motivo oposto ao esperado pela gigante varejista.
- Estados aprovam imposto de 17% para compras em Shopee, Shein e Aliexpress
- Shein promete injetar R$ 750 mi no Brasil para nacionalizar 85% das vendas
Diversos comentários nas redes sociais acusam as influenciadoras de terem sido enganadas pelo setor de relações públicas da Shein, de não terem critério e distanciamento crítico ao aceitar a viagem de relacionamento e até apontam os sinais de que a fábrica visitada é apenas uma fachada preparada para iludir as webcelebridades.
Tiro saiu pela culatra
Em meados de junho, as influenciadoras Dani Carbonari, Destene Sudduth, Aujené, Fernanda Stephany Campuzano, Kenya Freeman e Marina Saavedra embarcaram para Guangzhou para visitar uma fábrica que produz roupas para Shein.
O objetivo era desmistificar algumas das críticas mais ferozes contra a gigante chinesa: de que utiliza mão de obra escrava e infantil, que as condições de trabalho são precárias e abusivas, e que suas roupas são fabricadas com materiais perigosos.
Os vídeos publicados pelas influenciadoras em suas redes sociais, no entanto, mostram uma “realidade” muito diferente dessa.
Em um dos posts, Destene comenta que ficou surpresa com a visita à fábrica, pois “esperava que ela parecesse como nos filmes, bastante escura e suja, mas ali cada peça é manuseada com cuidado”, enquanto o vídeo mostra um espaço amplo, organizado e com pessoas sorridentes.
As publicações nas redes sociais, porém, começaram a atrair críticas na seção de comentários e algumas influenciadoras chegaram a excluir as postagens sobre a viagem.
Muitas reações acusam as influenciadoras de desinformação ao propagar sem julgamento o que a Shein lhes apresentou, enquanto eram tratadas com luxo e regalias. “O fato de terem convidado vocês para irem lá e passar uma boa imagem deles deveria ter sido o primeiro sinal”, escreve uma usuária.
Outra crítica aponta que até a própria fábrica que as influenciadoras visitaram é apenas uma fachada feita para enganar o grupo e, potencialmente, seus seguidores.
No Twitter, a usuária Susan Bailey, que diz ter “20 anos de experiência visitando fabricantes de moda na China”, lista sinais de que todo o local foi encenado para iludir as influenciadoras, como a falta de roupas no maquinário e a ausência de sinalização de emergência.
A Shein se pronunciou sobre os comentários negativos e defendeu a autenticidade dos vídeos compartilhados pelas influenciadoras. Segundo a empresa, “a oportunidade de mostrar a um grupo de influenciadoras como a Shein trabalha por meio de uma visita ao centro de inovação e permitir que elas compartilhem suas próprias ideias com seus seguidores” é uma forma de mostrar “comprometimento com a transparência.”
O tiro, no entanto, parece ter saído mais uma vez pela culatra. Na última segunda-feira (26), a influenciadora Dani Carbonari comentou que “Toda essa experiência me fez reavaliar a mim mesma, a minha marca, e lutar ainda mais por opções de sustentabilidade para pessoas plus size. Preciso ser mais específica com quem trabalho e fazer a pesquisa que deveria ter feito desde o início.”
O fast fashion da Shein
A Shein se tornou referência no segmento de fast fashion com a oferta de roupas por preços muito baixos que estimulam a compra de múltiplos itens e o rápido descarte de peças.
A companhia cresceu exponencialmente durante a pandemia, quando as pessoas não podiam ir às lojas e substituíram seus hábitos de compra pelo e-commerce.
No entanto, a Shein começou a ser acusada de praticar “capitalismo de vigilância”, no qual coleta dados de contas nas redes sociais e usa as informações de compras e interesses dos usuários para fabricar cópias de peças ou imitações baratas.
Em defesa, a Shein informou que “fornece aos clientes produtos de moda, beleza e estilo de vida acessíveis e sob demanda, de forma legal e com total respeito pelas comunidades onde opera”.