Novas "namoradas de IA" reforçam estereótipos e preocupam até o Ashley Madison
Por Nathan Vieira • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

O mercado de aplicativos e redes sociais de encontros enfrenta um novo e inesperado concorrente: as “namoradas de IA”. Plataformas que permitem criar companheiras virtuais hiper-realistas, capazes de conversar, flertar e até enviar conteúdo adulto personalizado, estão se popularizando rapidamente, e ameaçam abalar o modelo dos apps baseados em interações humanas, como Tinder, Bumble e até o polêmico Ashley Madison.
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Esses sites prometem eliminar o constrangimento das interações reais e oferecer relacionamentos “sob medida”, moldados ao gosto do usuário. A ascensão é tão intensa que, segundo relatos do setor, novas empresas de “AI dating” aparecem e desaparecem “como cogumelos”, em um mercado descrito como “uma guerra sangrenta” por quem atua nele.
Enquanto aplicativos tradicionais apostam na conexão emocional e na autenticidade, as plataformas de namoradas de IA vendem a fantasia da parceira perfeita: obediente, submissa e sempre disponível. Essa diferença de proposta está gerando inquietação dentro do próprio setor de encontros virtuais.
Em sites como Candy.ai ou Joi AI, os usuários podem escolher entre dezenas de perfis femininos prontos ou criar sua própria companheira digital, selecionando aparência, profissão, idade e até traços de personalidade. Termos como “obediente, dócil e feliz em seguir ordens” são usados como descrições-padrão, revelando uma preocupante tendência de reforço de estereótipos.
Além de conversar, essas namoradas artificiais enviam fotos e vídeos explícitos gerados por IA, em troca de tokens pagos via transferência bancária.
Apps de namoro e IA
Até empresas acostumadas com o lado polêmico dos relacionamentos online, como o Ashley Madison, conhecido por facilitar encontros extraconjugais, demonstram preocupação. Uma executiva da marca que não quis se identificar afirmou que trata-se de uma competição desleal.
“Como competir com plataformas que permitem criar a fantasia perfeita em vez de viver uma conexão real? Quando alguém finalmente quiser encontrar uma pessoa, ninguém vai corresponder a essa expectativa", questionou.
Enquanto os desenvolvedores vendem o conceito de “praticar habilidades sociais” com IA, críticos temem que esses produtos aprofundem o isolamento e alimentem visões distorcidas sobre relacionamentos. O resultado pode ser uma geração acostumada a controlar cada aspecto da “parceira ideal”, perdendo o interesse nas relações humanas autênticas.
Vale lembrar que os apps de relacionamento já aderem à IA: o Facebook Dating ganhou um novo assistente de namoro e o Happn quer que você use IA para planejar 'dates perfeitos'.
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Fonte: The Guardian