Como a Teoria dos Jogos melhorou os apps de relacionamento
Por Carlos Dias Ferreira | 27 de Julho de 2018 às 16h31
Para o escritor Uri Bram, há uma “falha terminante” na dinâmica tradicional de aplicativos de relacionamento para heterossexuais. Além da desproporção usual entre usuários do gênero masculino e feminino – 60% e 40% do total, respectivamente -, as mulheres normalmente acabam com uma enxurrada de mensagens de teor desinteressante. Isso porque os homens não são apenas a maioria, mas também utilizam esses serviços com muito mais frequência.
“Chega ao ponto em que checar a caixa de entrada se torna uma tarefa desagradável”, escreveu Bram em uma coluna escrita para o site 1843 Magazine. É claro que o desconforto aparece de ambos os lados, já que os homens acabam tendo suas mensagens solenemente ignoradas. Mesmo algumas que poderiam cativar determinada dama acabam arrastadas pela correnteza de cantadas grosseiras e abordagens insossas.
Mas a resposta ao imbróglio não tardaria, surgida – pasme – de um tradicional ramo da matemática aplicada: a “Teoria dos Jogos”. Mais especificamente, da situação identificada como “Tragédia dos Comuns”.
A Tragédia dos Comuns
Originalmente popularizado pelo ecologista Garret Hardin, o conceito da Tragédia dos Comuns (ou Tragédia dos Bens Comuns) descreve um modelo em que indivíduos, agindo de forma independente e racional, segundo seus próprios interesses, acabam afetando negativamente a coletividade. Isso porque fazem esgotar um recurso comum.
“O exemplo clássico disso é a pesca em excesso”, escreve Bram. “Cada pescador, individualmente, é tentado a colher do oceano sempre um pouco mais, aumentando o seu quinhão – mas se todos os pescadores fizerem o mesmo, haverá uma diminuição na população de peixes, e todos vão sofrer no longo prazo.”
Limites para os Don Juans
Mesmo correndo o risco de soar sexista, Bram expõe o paralelo: a atenção (paciência) das mulheres, relativamente escassa, deve ser poupada, a fim de favorecer a todos os envolvidos. Seguindo ainda com a Teoria dos Jogos, seria muita ingenuidade acreditar que, espontaneamente, os usuários do sexo masculino deixariam – de bom grado – de bombardear as caixas de entrada das usuárias.
A solução, portanto, foi limitar as ações do público masculino. O app Coffee Meets Bagel, por exemplo, tornou-se conhecido pela política de conceder aos usuários apenas uma mensagem por dia – tendo posteriormente concedido mais algumas tentativas. Já o Bumble tem a regra exclusiva de que apenas a mulher pode enviar a primeira mensagem, embora reserve um período de apenas 24 horas para dar continuidade ao papo, antes que o contato seja perdido.
Para além do romance
Segundo Bram, o segredo é não baratear as interações; é fazer valorizar cada mensagem, cada nova tentativa. E isso não deve valer apenas para os romances virtuais. “No mercado de trabalho online, é trivialmente ‘barato’ submeter mais um currículo para determinado posto, de maneira que os empregadores recebem centenas de pretendentes inadequados para cada vaga aberta.”
Bem, nesta era interconectada e incrivelmente célere, quem sabe se não é mesmo a Teoria dos Jogos que dará aquela mãozinha na hora do flerte – seja com o futuro cônjuge ou com o RH de uma boa empresa? “Quando o amor indica o caminho, talvez as outras coisas sigam”, conclui Bram. Parece razoável.
Fonte: 1843 Magazine, Science Mag, New York Times