Celular no trânsito mata 150 pessoas por dia no Brasil, mesmo com o viva-voz
Por Ares Saturno |
Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), o uso de celular no voltante é a terceira maior causa de morte no trânsito no Brasil, perdendo apenas para o excesso de velocidade e motoristas embriagados. As estatísticas são alarmantes: cerca de 150 pessoas morrem por dia, vítimas de motoristas desatentos devido ao uso do celular. Isso equivale a cerca de 54 mil óbitos por ano.
E não pense que o problema está em manusear o aparelho: o estudo promovido pela Abramet constatou que, mesmo no viva-voz, o celular diminui a atenção dos motoristas, resultando em mais acidentes. Com o uso de um simulador de direção, oito voluntários se dispuseram a serem observados enquanto dirigiam e mantinham conversação com uso do viva-voz. A pesquisa mostrou que o tempo de reação apresentado pelos voluntários era bastante maior quando eles se encontravam interagindo pelo celular. Até aí, nenhuma surpresa. Porém, a média de infrações de trânsito, que normalmente ficou em 2,5 ocorrências por motorista, passou a 4,75 quando falavam ao celular. O número de acidentes provocados passou de 0,5 por motorista para 1,5 ocorrência.
Utilizando dados internacionais, o estudo da Abramet também divulga que gastamos cerca de 8 a 9 segundos para atender uma chamada telefônica, contando desde o instante em que ouvimos o toque, até pegar o aparelho, desbloqueá-lo e atender a chamada. Se o motorista estiver a 80 km/h, isso significa que ele percorrerá cerca de duas quadras inteiras com a atenção reduzida. No caso de mensagens de texto, o tempo médio de resposta é de 20 a 23 segundos, que significam, caso o motorista esteja a 60 km/h, quase quatro quadras sem a completa atenção do condutor.
Segundo o médico especialista em trânsito Aly Said Yassine, “o que prejudica os condutores não é o fato de estarem com apenas uma mão no volante; o pior é dividir a atenção entre a via e o conteúdo da mensagem". Ele continua: "Imagine a concentração de uma mãe na direção, se está falando com alguém da escola do filho, avisando que ele está com febre, por exemplo”.
Segundo Yassine, o tempo de resposta do motorista em relação a obstáculos, ou situações que necessitem rápida reação, também influi no número de óbitos. “Com a atenção desviada para o celular, o tempo de frenagem, para desviar de um pedestre ou para respeitar o semáforo é mais devagar. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a desatenção causada pelo ato de falar ao celular é maior em comparação à falta de concentração que acomete um motorista sob o efeito do álcool”, diz.
Um terceiro fator elencado pelo especialista é a diminuição da visão periférica: “Em condições normais, o motorista consegue perceber o que acontece nas laterais, como a aproximação de um ciclista, mas quando desvia sua atenção para o telefone, não consegue perceber o que acontece no entorno”, comentou Yassine.