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IA e a essência por trás da briga entre recrutadores e candidatos

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IA e a essência por trás da briga entre recrutadores e candidatos
IA e a essência por trás da briga entre recrutadores e candidatos

Recentemente surgiu uma discussão enorme a partir de um artigo publicado no Financial Times sobre a utilização de Inteligência Artificial (IA) por mais de 50% dos candidatos a vagas de emprego, e em como isso estava impactando de forma negativa os processos seletivos que, ironicamente, são operacionalizados através de soluções baseadas em IA. E se é fato que a era da IA está trazendo uma transformação significativa nos processos de recrutamento, parece que essa transformação está longe de ser efetiva.

Vou explicar: Com o objetivo de tornar os processos seletivos mais eficientes, as equipes de recrutamento e seleção têm adotado ferramentas baseadas em IA para filtrar candidatos. A ideia é que tais ferramentas vão auxiliar na otimização dos resultados agilizar o processo da triagem. Para se ter uma noção, em uma pesquisa da IBM realizada no final de 2023 com mais de 8.500 profissionais de TI globais, 42% das empresas já utilizavam IA para melhorar o recrutamento e os recursos humanos, enquanto outros 40% estavam considerando integrar a tecnologia aos processos seletivos.

No entanto, conforme o artigo “AI hiring tools may be filtering out the best job applicants” publicado pela BBC em fevereiro, esses sistemas enfrentam sérios problemas de viés, falta transparência e clareza sobre como as decisões são tomadas por esses algoritmos autônomos, e há apontamento de falhas na captura de nuances e aspectos humanos importantes, colocando em xeque a real eficácia dessas plataformas.

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O problema, afirma o professor Hilke Schellmann, é que "um profissional de recrutamento e seleção tendencioso pode prejudicar muitas pessoas em um ano, e isso não é bom. Mas um algoritmo de IA que seja usado em todas as candidaturas em uma grande empresa… isso poderia prejudicar centenas de milhares de candidatos" — este trecho teve tradução livre, a partir do artigo do mesmo artigo da BBC.

Por outro lado, os candidatos também estão explorando a IA de forma inadequada. Conforme apontado no artigo “Jobhunters flood recruiters with AI-generated CVs” , em uma pesquisa a cerda do tema no Reino Unido, 50% dos candidatos entrevistados utilizaram IA para criar seus currículos e cartas de apresentação.

Ferramentas como ChatGPT e Gemini são usadas para produzir textos conversacionais e polir declarações pessoais, adicionando palavras-chave importantes para o cargo desejado, por exemplo. No entanto, esses documentos acabam sendo genéricos e superficiais, não possuindo a profundidade desejada pelos recrutadores se capturar a verdadeira essência do candidato. Alguns chegam até a usar IA para manipular respostas em testes de recrutamento, o que só aumenta os problemas na seleção, pois acaba gerando “falso-positivos”.

A ironia é evidente: um reclamando do outro, e tanto recrutadores quanto candidatos munidos de estratégias ineficientes de IA, acabam se anulando mutuamente. E se por um lado os recrutadores criticam a superficialidade dos currículos gerados por IA, eles próprios utilizam sistemas falhos que não conseguem captar as nuances necessárias para uma boa seleção.

Assim, a promessa de processos mais rápidos e otimizados, paradoxalmente, está resultando em uma seleção mais ineficiente, menos humana e totalmente impessoal. A impressão que eu tenho é que, em um cenário onde todos tentam ser espertos e utilizam inteligência artificial para favorecer unicamente o seu lado da equação, essa tecnologia, que deveria potencializar as capacidades de recrutadores e candidatos está, na verdade, está minando essas possibilidades.