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Por que é um erro achar que Coringa “venceu” os Vingadores no Oscar

Por| 21 de Janeiro de 2020 às 10h55

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Por que é um erro achar que Coringa “venceu” os Vingadores no Oscar
Por que é um erro achar que Coringa “venceu” os Vingadores no Oscar
Tudo sobre Warner Bros

Coringa é o grande nome na temporada de filmes de Hollywood. Além de abocanhar dois prêmios no Globo de Ouro, incluindo o de ator para Joaquin Phoenix, o longa de Todd Phillips foi indicado para nada menos do que 11 categorias do Oscar.

Enquanto isso, outro filme que veio dos quadrinhos, o campeão de bilheteria Vingadores: Ultimato, foi lembrado somente uma vez pela Academia. Não demorou a muitos sites e pessoas dizerem que a “DC venceu a Marvel” ou “o Coringa bateu os Vingadores”. Mas há um grande equívoco nessas afirmações e explico logo abaixo.

Bem, basicamente, tudo gira em torno do fato de Coringa nunca ter sido encarado realmente como uma adaptação de quadrinhos. Talvez, inicialmente, e em alguns momentos do roteiro, a Warner e Phillips tenham visto o personagem como o vilão de Batman — o que até mesmo teria afastado Martin Scorsese, creditado inicialmente como produtor. Mas, não passou disso.

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O orçamento do filme, o tratamento dado pela fotografia, pelo comando de Phillips e até mesmo pela própria performance de Joaquin Phoenix, nada disso vai de encontro com o que temos visto nos trabalhos baseados na Nona Arte nos últimos anos. Isso não é ruim, pelo contrário, mas não deixa de ser um erro comparar o título aos lançamentos do Marvel Studios.

Warner começou tentando reproduzir sucesso de Harry Potter

Embora não se encaixe exatamente nas adaptações de quadrinhos, o filme representa grandes mudanças nos escritórios da Warner Bros. Primeiramente, é preciso lembrar que a companhia, que sempre deteve todos os direitos da DC Comics, só começou a olhar para essas propriedades com o fim da saga de Harry Potter. “Qual será nossa nova galinha dos ovos dourados?”

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Os heróis, então em alta com o nascimento do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês), surgiram como uma resposta natural. Só que… a Warner é uma empresa quase centenária, e não um estúdio criado para fazer filmes feitos “sob medida”. Depois disso, quem começou cuidando da DC Comics no cinema foram os responsáveis por Harry Potter — e sabemos que não se trata da mesma coisa.

O resultado foi o fracasso chamado Lanterna Verde, de 2011, com Ryan Reynolds. Assim como em qualquer grande empresa, os envolvidos nas adaptações eram os profissionais “da vez” dentro do grupo — e não exatamente os mais indicados para isso.

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A essa altura, a Warner já tinha a parceria de Geoff Johns, roteirista que se tornou um pilar da DC Comics e transformou o Lanterna Verde na franquia número um da editora durante seu comando na revista mensal — e essa foi a razão pela qual o Gladiador Esmeralda tinha sido escolhido como o primeiro projeto do Universo Estendido DC (DCEU, na sigla em inglês).

Geoff Johns não vingou no comando da DC Films

Depois de estar, supostamente, no comando da recém-criada DC Films, Johns viu uma morna recepção do bom Homem de Aço e os fracassos de Superman vs Batman: A Origem da Justiça e Liga da Justiça. Era visível seu desconforto em uma posição de comando que não tinha muito autonomia. Embora ele tivesse um bom acesso nos corredores da DC Comics e com criadores de séries, a exemplo de Greg Berlanti e Marc Guggenheim, idealizadores do Arrowverse, Johns não é muito amigo dos executivos e produtores do alto escalão da indústria de Hollywood.

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Isso limitou bastante suas decisões, o que até ele mesmo admitiu, com seu pedido de demissão do cargo. Depois disso, Johns voltou a escrever quadrinhos e, na verdade usou muito de suas ideias para um universo compartilhado no Arrowverse. Sua saída foi boa, porque ele realmente fez a diferença nessas duas frentes, com Renascimento e Relógio do Juízo Final na DC Comics, e várias outras atrações interessantes no canal CW e no DC Universe, a exemplo de Titans, Monstro do Pântano e Patrulha do Destino.

E quem substituiu Johns? Walter Hamada, que veio da New Line Cinema e tem muito mais experiência no setor. Muita coisa mudou desde o início de 2018, quando ele assumiu. O DCEU passou a ter mais coerência, com projetos mais conectados. Nada mais foi aprovado sem um roteiro finalizado e revisado e todos os orçamentos passaram a ser mais sustentáveis.

Além disso, Hamada abraçou de vez o Multiverso DC, dizendo que a DC Films não precisa copiar o estilo do MCU, produzindo até mesmo filmes menores, que não teriam necessariamente uma conexão com os blockbusters do DCEU. É aí que entra o Coringa, que, veja só, custou menos de US$ 70 milhões e arrecadou mais de US$ 1 bilhão, com direito a surra de estatuetas e indicações em premiações.

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Filme deve abrir caminho para novos estilos de adaptações de HQ

Como dá para notar, é por isso que comparar Coringa com Vingadores é um erro. O que podemos dizer, é que a mentalidade da indústria e do público pode mudar com esse sucesso todo. Antes vistos como “gibi para crianças”, as histórias em quadrinhos amadureceram muito nos anos 80 e voltaram a ser relevantes com o boom de super-heróis no cinema.

Agora, podemos dizer que as adaptações de HQs chegaram a uma maturidade nunca vista. Coringa tem tudo a ver com isso. De repente, a partir de agora possamos ver mais investidas alternativas de grandes estúdios nessa seara, assim como profissionais do calibre de Martin Scorsese envolvido em projetos que antes não eram considerados “cinema”.

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E, se não dá para colocar Coringa e Vingadores: Ultimato lado a lado, pelo menos dá para celebrar: a Nona Arte está com tudo em Hollywood e essa onda, que já dura mais de dez anos, parece não parar tão cedo.