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O inferno branco norte-americano d'Os Oito Odiados

Por| 08 de Janeiro de 2016 às 18h00

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O inferno branco norte-americano d'Os Oito Odiados
O inferno branco norte-americano d'Os Oito Odiados

Tanto por seus roteiros quanto pela direção, Quentin Tarantino tem características marcantes que deixam evidente o seu toque em qualquer obra. Em Os Oito Odiados, oitavo filme do diretor, ele usa com maestria o estilo narrativo que tornou seus longas anteriores cultuados, criando um terror psicológico em um impasse mexicano verborrágico e visceral ao contar a história dos Estados Unidos pela metalinguagem.

Na trama ambientada após a Guerra da Secessão, John Ruth (Kurt Russel) é o oficial de lei que precisa levar a criminosa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) até a cidade de Red Rock para que ela seja enforcada. No meio do caminho, o militar negro Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson) consegue uma carona na carruagem com os dois e se salva da forte nevasca que se aproxima. São os três personagens que introduzem o contexto da história, seja com amostras de violência ou a necessidade de estar sempre preparado para atacar.

Desde o encontro do trio até os últimos minutos do filme, a narrativa cria o terror psicológico necessário para todo bom impasse mexicano. Você não só percebe que os personagens desconfiam de quem está ao redor como também que eles desejam atacar e acabar com toda aquela tensão, o que torna os ataques verbais ainda mais libertadores.

Os dois capítulos iniciais do filme podem parecer um pouco arrastados e até maçantes por causa dos longos, mesmo que excelentes, diálogos que até soam repetitivos quando novos personagens são introduzidos. Mas tudo tem propósito. Como é dito por um deles, eles estão participando de um jogo de paciência e é isso que o telespectador precisa ter para tirar o melhor do longa e apreciar a evolução da trama.

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Para que toda a eloquência dos personagens funcionasse, Tarantino teve no seu elenco estrelado ótimas atuações. Samuel L. Jackson, que conhece de longa data o diretor, é o protagonista da história e entrega os momentos mais impactantes do filme com frases engraçadas e pesadas numa atuação excelente. A Daisy Domergue de Jennifer Jason Leigh é uma criminosa que mesmo apanhando mais do que qualquer outro na trama ainda merece todo o ódio recebido. A atriz ainda consegue entregar todas as variações de humor da personagem, fazendo com que a alteração entre loucura, desespero, prazer e humor flua bem. Walton Goggins e Tim Roth chamam atenção pela forma caricata que seus personagens funcionam, principalmente em seus extremos de caipira ou pomposidade britânica.

A trilha sonora de Os Oito Odiados é tão impactante quanto a de Kill Bill. Ennio Morricone faz com que desde o começo do longa você espere por algo grandioso, sendo que ele consegue aumentar a tensão entre os personagens no crescendo das músicas. A cabana onde a maior parte do filme se passa é rica em detalhes, seja no simples pote de guloseimas ou na forma que os cobertores são colocados pelo cenário. Entretanto, a fotografia enclausurada do longa não mantém a mesma qualidade de quando aproveita a ambientação nos locais gélidos e na movimentação dos cavalos.

Quentin Tarantino sempre faz dos seus roteiros brutais algo muito maior do que algo simplesmente violento. Em Os Oito Odiados, a história dos Estados Unidos é exemplificada nas diferenças de cada personagem, suas origens, preconceitos e ambições. Fazendo com que a carta de Abraham Lincoln criada no longa seja ainda mais impactante, seja pelo uso dela nas mãos do militar negro ou na forma que ela exemplifica o futuro que o país ainda precisa trilhar.

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Mesmo que pareça mais longo do que o necessário, com praticamente 3 horas de duração, para contar a sua história, Os Oito Odiados tem a essência das obras de Tarantino e entrega o que realmente se espera, seja no impasse mexicano, que lembra o brilhantismo da cena do bar em Bastardos Inglórios, ou nas palavras sabiamente escolhidas para os diálogos.