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Crítica | Predadores Assassinos tem sobrevivência claustrofóbica e exagerada

Por| 19 de Setembro de 2019 às 10h11

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Paramount Pictures
Paramount Pictures

Você com certeza já ouviu falar da lenda de que jacarés estão vivendo sob nossos pés e nos esgotos da cidade, prontos para atacar a partir do encanamento. A lenda tradicionalmente novaiorquina coloca em contraste o cotidiano cosmopolita das grandes cidades com uma ameaça visceral e selvagem que parece distante, justamente o mote de Predadores Assassinos, que chega às telas brasileiras na próxima quinta-feira, 26 de setembro.

Produzido por Sam Raimi, um dos figurões do terror e responsável por clássicos como a franquia Evil Dead e títulos recentes como O Homem nas Trevas, o longa não é exatamente um filme de horror, apesar de sua ameaça definitivamente aterrorizar a dupla de personagens principais. O roteiro de Michael e Shawn Rasmussen (Aterrorizada), entretanto, acaba contribuindo um bocado no sentido oposto.

Se você já assistiu a qualquer filme de animal assassino, sabe o que esperar ao entrar na sala para ver Predadores Assassinos. Uma relação familiar problemática é o que leva Haley (Kaya Scodelario) a enfrentar um furacão de nível 5 e seguir para a pequena cidade onde mora o pai, interpretado por Barry Pepper. Ela o encontra ferido, mas rapidamente percebe que as condições climáticas serão os menores de seus problemas.

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Quando um dos jacarés assassinos que antagonizam os protagonistas entra em cena, com um jump scare que até assusta por vir absolutamente do nada, começa uma luta pela sobrevivência contra dentes afiados e uma força animal implacável. O longa não perde muito tempo com explicações, tentando passar uma sensação de urgência que é maior do que a busca pelos motivos pelos quais os animais estão querendo um almoço suculento naquele dia chuvoso.

Ideias interessantes pipocam aqui e ali como uma forma de dar um certo plano de fundo a Predadores Assassinos. O pai é técnico de natação e a filha, uma atleta competitiva, e ambos, dentro da água, parecem se sair melhor do que fora dela. É um aspecto que bate de frente com a inundação causada pelo furacão e a presença de ameaças que habitam a enchente. Tais fatores, ao mesmo tempo, geram um certo nível de confiança nos personagens, na mesma medida em que torna o ambiente em que eles sempre foram tão bons uma ameaça terrível.

A ideia aterroriza os protagonistas, tentando fazer o mesmo com o espectador ao adicionar um caráter fantástico aos monstros. Falar de Predadores Assassinos como meros animais não seria de todo correto, já que o filme faz questão de dar a eles um aspecto agressivo e quase demoníaco, com direito a olhos vermelhos, couro resistente e força física impressionante, além de um comportamento que lembra até mesmo os dinossauros de Jurassic Park.

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É como se o argumento tentasse, o tempo todo, mostrar ao espectador como aqueles animais são violentos e implacáveis, sendo que todo mundo que já viu um ataque de jacaré sabe muito bem o terror de algo desse tipo. Ocultos enquanto nadam na água barrenta, os bichos de Predadores Assassinos geram muito mais terror do que no amplo investimento que o filme faz em closes nos dentes e nos momentos em que eles correm com uma contagem de quadros maior que a do restante da película.

Sufocante, mas não o suficiente

Essa abordagem também depõe contra um dos aspectos interessantes do filme, que compõe toda a sua primeira metade. Logo no primeiro ato, Haley e o pai acabam confinados no porão da casa da família pelos jacarés. Os momentos são claustrofóbicos e sufocantes, literalmente, já que além de estarem sendo caçados pelos animais, também estão vendo o nível da água subir. Ficar significa morrer afogado, e sair, virar almoço.

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Não podemos falar que esse é o caso dos irmãos Rasmussen, mas é como se os dois tivessem ideias completamente diferentes sobre como levar adiante as ameaças de Predadores Assassinos. A pressão da inundação e as dificuldades de Haley para sobreviver ao lado do pai gravemente ferido servem muito mais como elemento de tensão do que o já citado comportamento irreal dos jacarés, mas o filme acaba investindo muito mais nesse segundo aspecto do que no primeiro.

A direção de Alexandre Aja (Viagem Maldita) ajuda na sensação de sufocamento e claustrofobia, além de entregar um contato bem direto com a violência dos ataques desses animais. Fraturas expostas e desmembramentos são uma realidade muito bem trazida para o filme, mas também acabam sujeitas a conveniências de roteiro e até mesmo uma falta de noção, com um encontro igual com as criaturas tendo desfechos totalmente diferentes para dois personagens.

Quando Haley e o pai deixam o porão, entretanto, o longa dá uma guinada para um rumo completamente diferente, enquanto os aspectos de falta de base voltam a incomodar. O roteiro até tenta entregar um lampejo do motivo pelo qual os animais continuam atacando mesmo após estarem de bucho cheio, mas a cena é tão rápida que nem permite ao espectador pensar nesse sentido. Talvez uma forma de manter o sentimento de urgência dos protagonistas, mas provavelmente um foco nos dentes e na carnificina.

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Nessa toada, o filme também acaba desperdiçando a criação de mais um foco de tensão, já que sair do porão, para Haley e o pai, acaba longe de significar a salvação. Eles estão subindo, mas a água também está e, com isso, os animais também acabam tendo acesso a novas áreas da casa. Logo de início, o personagem de Pepper deixa claro que, sem poderem nadar, os jacarés estão em desvantagem, e o longa faz um trabalho interessante em desequilibrar a balança em prol dos bichos sempre que os humanos parecem prestes a conseguirem uma vantagem.

Porém, os buracos no argumento acabam transparecendo mais do que esse trabalho. Elementos que funcionavam no primeiro arco de Predadores Assassinos deixam de operar na segunda metade do filme, enquanto o sentimento de urgência é transformado em uma sensação de caos que acaba não colando. Novamente, comportamentos e dinâmicas apresentadas no começo deixam de operar como deveriam a partir de determinado momento, tudo de acordo com o que o roteiro precisa para seguir adiante.

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Scodelario e Pepper também não ajudam muito e, por mais que até sustentem o filme ao longo de sua curta duração, com menos de 1h30, o espectador se verá muito mais envolvido e preocupado com a cadelinha Sugar do que com eles. Como normalmente acontece em longas desse tipo, o relacionamento entre pai e filha dá uma guinada importante, mas o pouco interesse por isso, novamente, é deixado abruptamente de lado por uma necessidade em mostrar dentes, sangue e gente morrendo.

Mais alguma coisa?

O que exatamente um espectador espera quando vai assistir a um filme de animal sanguinário? Se a intenção era fazer o arroz com feijão desse tipo de gênero, aderindo também a um pouco da cartilha dos filmes de catástrofe, Predadores Assassinos acerta, mas suas qualidades meio que param por aí, afinal de conta seu erro foi, justamente, tomar a decisão consciente de deixar de lado aquilo que daria um tempero a mais.

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Para os fãs de Raimi, existem alguns acenos interessantes, como ângulos de câmera que mostram que Aja passou um bom tempo assistindo a Evil Dead, ou a sanguinolência usual de alguém que nasceu nos longas de horror. Este, entretanto, soa mais como um filme qualquer do que um que traz a assinatura do cineasta, podendo acabar frustrando sua legião de fãs quando olhado do panorama.

Na maioria do tempo, ao apostar no exagero e na falta de contexto em prol de uma violência brutal e uma sensação de ameaça que nunca vem de verdade, Predadores Assassinos acaba ficando abaixo da média. Ele não tem nem metade da força de sua ameaça principal e vê seus esforços de mostrar jacarés violentos e ameaçadores irem por água abaixo.