Crítica Planeta dos Macacos: O Reinado | Um novo e poderoso começo
Por André Mello • Editado por Durval Ramos |
Durante muito tempo, a franquia Planeta dos Macacos parecia algo distante, ainda que bastante interessante. A imagem de atores vestidos de símios, vivendo em uma sociedade no futuro com humanos que nem conseguem falar, rendeu boas histórias, mas ainda parecia algo do passado.
O remake de 2001, dirigido por Tim Burton, apesar de suas falhas, mostrou que a ideia por trás da história ainda poderia render algo para as novas gerações de espectadores. Planeta dos Macacos: A Origem deu início a uma nova trilogia, ignorando os filmes do passado e mostrando exatamente como os macacos começaram a evoluir rapidamente e a guerra entre eles e os humanos.
Os dois últimos filmes da trilogia, Planeta dos Macacos: O Confronto e Planeta dos Macacos: A Guerra, dirigidos por Matt Reeves (O Batman), podem ser considerados como alguns dos melhores filmes de toda a franquia, apresentando um dos personagens mais marcantes dos últimos tempos, o macaco Caesar, interpretado por Andy Serkis.
Só que a trilogia apresentou um começo, meio e um fim para essa história. Com Planeta dos Macacos: O Reinado, o diretor Wes Ball, de Maze Runner - Correr ou Morrer e do vindouro The Legend of Zelda, encarou a tarefa de começar tudo de novo, mas dessa vez, respeitando tudo o que veio antes e ainda fazer valer as quase 2h30 de filme para contar uma nova história que avança a franquia para novos caminhos.
Um novo herói
Ao longo de três filmes, os espectadores tiveram a oportunidade de conhecer e se apegar a Caesar, o primeiro dos macacos a evoluir mentalmente em um nível que o equiparava a um humano, até mesmo conseguindo falar.
A atuação de Andy Serkis, conhecido por seu trabalho como Gollum na trilogia O Senhor dos Anéis, era digna de prêmios, entregando uma profundidade que muitos atores não conseguem passar mesmo com todas as vantagens de ter a própria cara estampada na tela do cinema.
Só que a história de Caesar, o líder dos macacos, termina em Planeta dos Macacos: A Guerra. Continuar a história logo em seguida poderia ser um erro, já que traria uma bagagem emocional para quem for que fosse o personagem principal da nova trama.
De maneira bastante inteligente, O Reinado joga o espectador 300 anos no futuro, focando no herói chamado Noa, um chimpanzé que vive em uma vila com seu clã. Noa teve pouquíssimo contato com humanos ou sequer ouviu falar sobre Caesar e suas ideias de coexistência.
Só que, quando seu clã é atacado por outra tribo de macacos e todos são levados como escravos, Noa se vê no dever de amadurecer e tentar encontrar sua família para trazê-la de volta para casa.
Interpretado por Owen Teague (Black Mirror), Noa é carismático e interessante, principalmente por crescer perante os olhos dos espectadores. O personagem nunca saiu de perto de sua casa e, ao explorar o mundo pela primeira vez, tem a mesma surpresa que o público ao saber como tudo mudou após 300 anos desde o último filme.
O vírus que fez com que macacos evoluíssem dizimou bilhões de pessoas e inverteu a cadeia evolutiva, com humanos agindo mais como animais irracionais, incapazes de falar ou agir com inteligência enquanto vivem em bandos. Isso já havia sido explorado nos primórdios da franquia, mas ver isso pelos olhos de Noa é bem interessante.
As ideias de Caesar
O Reinado dá uma virada com a apresentação de Nova, personagem interpretada por Freya Allan (The Witcher), uma das únicas humanas de destaque no longa. Nova cruza o caminho de Noa e Raka, um orangotango que ajuda o chimpanzé na sua jornada e é um dos últimos estudiosos da palavra de Caesar.
Ao ver que Nova é inteligente como os humanos de antigamente, a maneira como Noa reage ao mundo muda, embalado pelo que Raka falou sobre as ideias de Caesar.
A grande sacada de O Reinado, além de ser uma divertida ficção científica, é explorar como o personagem de Andy Serkis na trilogia passada se transformou em uma figura a ser seguida. Isso se torna ainda mais gritante quando Noa encontra o grupo que atacou seu clã, liderado por Proximus Caesar, um macaco que, em teoria, seguia a palavra de Caesar.
Assim como acontece com figuras religiosas, séculos após sua morte, o macaco tem a sua palavra difundida, mas às vezes de maneira distorcida e completamente contra o que ele de fato pregava.
Planeta dos Macacos: O Reinado acaba contando uma história bastante humana, ainda que seus personagens sejam, em maioria, símios. Apesar de o filme não ir mais fundo nessa questão, ele não deixa de tocar, ainda que de maneira superficial, como a construção de uma sociedade similar à dos humanos leva aos mesmos erros, independente da espécie no centro de tudo.
Os mesmos erros são cometidos, preconceitos e ideias que giram em torno de poder e medo do que é diferente reaparecem, mostrando que os macacos estão cada vez mais humanos.
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Um deleite para os olhos
Os dois últimos filmes da saga de Caesar já apresentavam efeitos impressionantes, com macacos cada vez mais realistas. Planeta dos Macacos: O Reinado consegue avançar esse realismo, fazendo com que, em várias cenas, seja possível se perder completamente nas imagens e acreditar que tudo aquilo está acontecendo de verdade.
Aliado às excelentes atuações do elenco, que trabalhou com Alain Gauthier, coreógrafo que trabalhou com o Cirque du Soleil para se portarem como macacos e ajudar na captura de movimentos, o trabalho dos profissionais da Weta Digital é impressionante.
O Reinado traz algumas boas cenas de ação, ainda que elas não sejam tão presentes como o esperado. O filme tem um ritmo que às vezes chega a ser lento demais, mas que faz sentido para o seu desenvolvimento.
Outro ponto que pode incomodar algumas pessoas é a personagem de Freya Allan, principalmente no terceiro ato do longa, que passa por algumas mudanças que são muito mais preparar terreno para uma possível sequência do que para ajudar na história que está sendo contada agora.
O Reinado é um ótimo capítulo da franquia e que mantém a qualidade vista na trilogia passada, ainda que não consiga superá-la. Para quem gosta da série ou de uma boa ficção científica na tela do cinema, é uma produção imperdível.
Planeta dos Macacos: O Reinado estreia nos cinemas de todo o Brasil no dia 9 de maio.