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Crítica Pinóquio | Adaptação de del Toro é inteligente, bonita e sensível

Por| Editado por Jones Oliveira | 13 de Dezembro de 2022 às 19h30

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Reprodução/ Netflix
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A história de Pinóquio já foi contada e recontada de muitas maneiras, mas desta vez recebeu uma nova roupagem pelas mãos de Guillermo del Toro, cineasta mexicano famoso pelo seu estilo gótico. O desafio de del Toro era criar uma narrativa diferente, que acrescentasse algo de novo à história e fugisse da banalidade, e é isso que ele faz magistralmente.

Afastando-se totalmente das adaptações feitas pela Disney, o diretor constrói uma história mais sombria que fala de amor, luta e morte. Em Pinóqui por Guillermo del Toro, conhecemos Gepeto, um carpinteiro solitário que vive triste depois que seu filho, Carlo, morreu. Um dia, ele constrói um boneco de madeira para ser sua companhia, e sua vida muda quando descobre que tal criação magicamente ganhou vida.

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O enredo parece ser o mesmo de sempre, mas a história se afasta das adaptações tradicionais ao explorar mais a relação de Gepeto e Carlo. A primeira meia hora do filme mostra como o garoto era a razão da vida do carpinteiro, e como o homem vivia em um profundo luto pela sua morte.

Esse já é o primeiro acerto do filme da Netflix, que constrói um plano de fundo coerente para a história e não deixa ponta soltas. Além de mostrar Carlo — o que poucos longas fizeram —, Pinóquio por Guillermo del Toro também retrata sua morte causada por uma bomba de guerra. Isso aproxima o espectador da dor de Gepeto e ajuda a criar empatia pelo carpitenteiro.

A partir desse ponto a história segue seu rumo natural e vemos a relação do criador (Gepeto) e da criatura (Pinóquio) ganhar forma. Uma questão interessante é que, ao contrário do que foi retratado em outras adaptações, o carpitenteiro não morre de amores por Pinóquio logo de cara. Isso acontece porque ele se decepciona ao ver que o boneco falante não é como o seu filho humano era. Desse modo, só resta ao menino feito de pinheiro lutar pelo amor de seu pai.

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E ele, de fato, luta. Pinóquio faz de tudo para conquistar Gepeto, mas, ao ouvir do pai que era um fardo, decide sair de casa e ir trabalhar em um circo itinerante.

O circo e a baleia

Dois atos importantes da história de Pinóquio são quando ele vai para um circo cujo dono é desonesto e o explora e quando ele é engolido por uma grande baleia. Essas duas passagens estão no filme, porém com algumas diferenças de roteiro.

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Embora del Toro tenha gozado de uma maior liberdade para contar a história, ele se atém aos elementos principais dela, o que faz com que o público também consiga reconhecer a trama tradicional. E, por falar em trama, é nítido que a adaptação do diretor é a que mais se aproxima do conto original escrito por Carlo Collodi em 1881.

Ficção e realidade se misturam

Se em (quase) todas as histórias de Pinóquio a trama é totalmente ficcional, aqui é diferente. O conto de del Toro é ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Itália era regida por Benito Mussolini. No filme, além de vermos soldados usando braçadeiras fascistas, também os vemos fazendo a saudação nazi-fascista que consiste em levantar o braço direito.

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Além disso, Pinóquio é recrutado para fazer parte do grupo de soldados jovens que irão lutar na guerra, isso porque, o fato de ele ser um boneco de madeira faz com que ele não morra, sendo considerado um soldado ideal.

Outro ponto interessante é que o diretor retrata o próprio ditador, em uma caricatura inteligente e bem executada. No filme, Mussolini aparece no circo no qual Pinóquio trabalha para assistir a uma apresentação dele. Ao ver que o extremista está na plateia, o boneco, então, faz um número debochado e crítico.

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Esse plano de fundo pode até não ser compreendido por uma criança que veja a animação, mas certamente será entendido pelos adultos que a assistam. Além disso, tornou a trama mais rica, interessante e inteligente, fugindo do comum e enriquecendo o enredo.

Stop motion é o ponto alto da animação

Se o texto e o desenvolvimento dos personagens agradam, o stop motion surge como a cereja do bolo. Muito bem executada, a arte do filme encanta os olhos e faz com que a obra se diferencie ainda mais das demais adaptações disponíveis.

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Uma das cenas mais bonitas e emocionantes é quando Gepeto chora pensando que Pinóquio morreu e nunca mais o verá novamente. Realmente encantador.

Desfecho que foge do comum

E por falar em emoção, um destaque não menos importante fica para o final do filme. Ao contrário do que acontece em uma muitas adaptações, o longa não termina no “felizes para sempre”.

Após conseguirem sair do monstro marinho que os engoliu, Gepeto, Pinóquio, o Grilo Falante e Spazzatura vivem felizes até o momento em que pouco a pouco todos morrem de velhice, exceto Pinóquio.

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O boneco é o único que continua vivo por muitos e muitos anos, seguindo seu caminho com as boas recordações do que viveu ao lado daqueles que amava.

A forma como o final é conduzida encerra com chave de ouro uma das adaptações mais primorosas do conto de Collodi. Del Toro acerta a mão e consegue criar um longa que foge do comum, mesmo se tratando de uma história tantas vezes contada.

Vale a pena assistir Pinóquio por Guillermo del Toro e o filme já está disponível na Netflix.