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Crítica | MIB: Homens de Preto – Internacional ou o bolo está na mesa

Por| 14 de Junho de 2019 às 09h58

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Sony Pictures Entertainment
Sony Pictures Entertainment

Em MIB: Homens de Preto (de Barry Sonnenfeld, 1997), há, sem muitas firulas, o embate clássico entre o veterano Agente K (Tommy Lee Jones) e o novato Agente J (Will Smith), em uma espécie de parceria muito bem aproveitada no cinema. Seja na constante entre mestre e aprendiz de praticamente todos os capítulos de Star Wars, seja ganhando ares dramáticos como na relação entre os detetives Somerset (Morgan Freeman) e Mills (Brad Pitt) em Seven: Os Sete Crimes Capitais (de David Fincher, 1995), seja até mesmo no nacional O Palhaço (de Selton Mello, 2011) quando do encontro entre Pangaré (Mello) e Puro Sangue (Paulo José), a relação funciona se é explorada com algum carinho.

Aquele primeiro filme, lançado há mais de duas décadas, explora ao extremo as incompatibilidades. De um lado, o aparentemente apático K, do outro, o extrovertido e falador J. As faíscas desse relacionamento saltam aos olhos, divertem e, no final das contas, unem os personagens pessoalmente, transformando a dupla em algo como Lilo e Stitch: uma união completamente empática apesar de estranha.

Cuidado! A partir daqui esta crítica pode conter spoilers!

A credibilidade das palavras

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MIB: Homens de Preto – Internacional, nesse sentido, parece errar desde o princípio ao transformar o contraste de K e J em uma parceria de igual (ou quase isso) carisma entre M (Tessa Thompson) e H (Chris Hemsworth). Thompson e Hemsworth, claro, não têm culpa alguma e transmitem tanta naturalidade que não é difícil se sentir imerso pela simpatia do casal – algo já percebido em Thor: Ragnarok (de Taika Waititi, 2017). Aliás, ela vai um pouco além, distanciando a Agente M da Valkyrie, enquanto ele parece encarnar um Thor playboy.

O problema está na função dessa relação – e é um incômodo bem delicado: Na ânsia por incluir personagens femininas, os roteiristas Matt Holloway e Art Marcum (ambos de Homem de Ferro) dão a impressão de completo desleixo, especialmente na construção das falas. Toda a verossimilhança criada pelo elenco começa a ruir justamente a partir dos diálogos frágeis e forçados, claramente direcionados à inclusão de M. Por mais que Thompson se esforce para dar credibilidade às palavras que saem de sua boca, muitas vezes somente a situação já poderia traduzir tudo, como exatamente acontece com a Agente O (Emma – também – Thompson): sem muita exposição por meio de diálogos sobre o papel poderoso que exerce pela agência, ela simplesmente é – e é nítida a sua importância e a sua competência na função.

Por outro lado, a comicidade do pequeno Pawny (com voz de Kumail Nanjiani) é um trunfo que precisa ser levado em consideração – inclusive pela esperteza de Holloway e Marcum na escrita de piadas rápidas, de situação. As reverências às rainhas de sua vida são um capítulo à parte tanto pelo grau de honradez latente ao personagem quanto pelo direcionamento extrafilme. É a partir de Pawny que M consegue ser inserida no filme da forma mais orgânica possível. Inclusive, ao fazer com que ela seja salva, em certo ponto, pelo alienígena e não pelo galã, os roteiristas demonstram entender a situação e, ao mesmo tempo, que não conseguem criar conversas sobre o contexto, revelando o óbvio lugar de fala.

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O bolo está na mesa

Se Pawny pode ser a prova de que há vida inteligente na construção de MIB: Homens de Preto – Internacional, o diretor F. Gary Gray (de Velozes & Furiosos 8) parece perdido em suas escolhas – se não perdido, deslocado, visto que sua competência com um bom texto em mãos é mais do que clara nos excelentes Straight Outta Compton: A História do N.W.A. (2015) e Código de Conduta (2009). A verdade é que os planos propostos por Gray assumem um grau de aleatoriedade difícil de entender. Seja ao revelar, gerando pistas por meio de planos detalhes, objetos que jamais são vistos novamente (quebrando a importância de sua opção e enganando a atenção do espectador), seja por fazer questão de destacar as já ditas péssimas falas – que poderiam até soar menos deslocadas não fossem os closes nos momentos –, o diretor sucumbe ao seu próprio talento, fazendo com que sua forma atrapalhe o conteúdo.

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Ainda, desperdiçando a interessante vilã de três braços Riza (Rebecca Ferguson) com um tempo em cena que não condiz com a aparente profundidade de sua relação com H e explorando sem qualquer delicadeza o reencontro entre seu escudeiro tarantiano (interpretado por Spencer Wilding) e Molly, a sensação de que a tentativa de chegar ao clímax existe e sempre falha pode ser inevitável. Do mesmo modo, os aliens gêmeos são tão graficamente interessantes quanto são mal explorados e a morte deles é tão banal quanto a explicação do Grande T (Liam Nesson) para a ocasião: algo como “é só encontrar a voltagem certa do tiro”.

No final, o bolo de clichê está na mesa (com uma revelação final tão batida quanto claras em neve) coberto de figuras esteticamente interessantes – de uma inventividade visual de encher os olhos. Mas, apesar disso e das referências tão bem encaixadas aos três filmes anteriores – os quadros na sala do Grande T são de uma demonstração de respeito enorme por parte do desenho de produção de Charles Wood (de Vingadores: Ultimato, 2019) –, é só começar a passar a faca para ver que o interior é oco ou, na melhor das hipóteses, a massa é abatumada.

E, apesar de tanto, há quem consiga aproveitar um bolo solado. Trazendo para o meu mundo particular: eu não nego uma fatia. Muito menos se estiver quente.