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Crítica Fúria Primitiva | Um Homem Macaco que tem alma e também coração

Por| Editado por Durval Ramos | 22 de Maio de 2024 às 13h35

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Diamond Films
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Todo filme de ação em que a pessoa não parece um lutador ou um astro de ação à primeira vista, mas que sai estancando todo mundo na bordoada na primeira oportunidade, vem recebendo a classificação "tipo John Wick". Nesse caso, Fúria Primitiva, filme estrelado e dirigido por Dev Patel (A Lenda do Cavaleiro Verde) pode ser chamado de um longa "tipo John Wick".

Porém, com poucos minutos de história, é possível notar que Patel quis ir um pouco além dessa ideia de vingança pela vingança, entregando um longa que mistura pancadaria com críticas relacionadas à sociedade indiana, onde o filme se passa. Com pouco mais de duas horas de duração, é impossível não ficar empolgado com a lenda do Garoto, o Homem Macaco.

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Lá vem o homem macaco correndo atrás de mim

Fúria Primitiva mostra a história de um jovem sem nome, apenas chamado por todos como Garoto. Ele vive em Mumbai, a mais importante cidade da Índia, sobrevivendo como pode, participando de lutas clandestinas em que seu trabalho é sempre apanhar. O uso de uma máscara de macaco deu a ele o personagem de Homem Macaco, onde ele consegue tirar uma grana.

Em paralelo, ele busca informações sobre como entrar no Kings, um hotel de luxo onde apenas a elite do país tem entrada garantida. Aos poucos, o filme vai revelando o motivo por trás da missão do Garoto de se infiltrar a qualquer custo no local. 

Um acontecimento do seu passado deixou marcas reais na vida do Garoto, que agora busca vingança contra aqueles que festejam e esbanjam suas riquezas, enquanto boa parte da população vive em completa miséria.

Algo bastante interessante em Fúria Primitiva é a forma como Dev Patel, que além de estrelar e dirigir o filme, também é um de seus roteiristas, é como ele usa a ideia de um filme de ação para colocar um holofote na forma como a sociedade indiana funciona. A Índia nunca está no centro de grandes produções do cinema ocidental, então a escolha de colocar toda a trama no país dá certo frescor à ação.

O fato de a história abordar essa discrepância da população comum com a elite, misturado com elementos religiosos da região, tornam a experiência de Fúria Primitiva bastante intrigante. 

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Nem tudo são flores, já que os primeiros trinta minutos do filme são difíceis de engolir, talvez por um problema de ritmo e uma fotografia que ainda parece não saber muito bem como mostrar as cenas. Fiquei com a impressão de que Patel tentou fazer algo mais dinâmico no começo do filme, o que o deixou um pouco esquisito.

Porém, quando o filme parece ganhar mais confiança na história que está contando, as coisas engrenam de vez e tudo fica mais emocionante.

Gritando tão alto e querendo me pegar

Algo que me deixou absorvido pela história e a forma como Fúria Primitiva se desenvolve é que o personagem principal, apesar de estar em um filme "tipo John Wick", uma referência que inclusive é feita no próprio longa, não é um exímio lutador.

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Ao contrário da franquia estrelada por Keanu Reeves e outros filmes do gênero, o Garoto não é alguém que você pode falar "esse cara sabe lutar". Ele claramente sabe brigar, mas existe uma diferença entre as duas coisas. 

Durante boa parte das lutas em que ele se mete, é possível sentir um nervosismo, algo que beira o desespero, de alguém que tem noção do que está fazendo, mas não o suficiente para fazer tudo aquilo parecer bonito. É uma briga feia seguida de pancadaria horrorosa, e isso acaba fazendo parte do desenvolvimento do personagem.

Existe um motivo por trás do nervosismo, dessa urgência em cada soco dado e tomado, que inicialmente fará fãs de filmes de ação simplesmente acharem que é tudo coreografado de um jeito feio, até o momento que deixa de ser assim e tudo faz sentido.

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É realmente impressionante que Patel, que apesar de sua considerável carreira como ator, está fazendo sua estreia como diretor e consegue trazer até mesmo esse elemento para a maneira que está contando essa história. É o tipo de visão que me deixa curioso para saber do que mais ele é capaz atrás da câmera, mesmo sabendo que ele teve a ajuda na produção de Jordan Peele, de Corra!.

Se esse cara me pega, ele vai me matar

O que me leva a comentar o que Patel faz na frente da câmera. Boa parte do elenco de Fúria Primitiva é formado por atores e atrizes indianos que não são conhecidos no ocidente, mas que fazem um ótimo trabalho em seus papéis. Além de Patel, apenas Sharlto Copley (Distrito 9) pode ser facilmente reconhecido como o responsável pelas lutas clandestinas que o "Homem Macaco" participa.

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Porém, Patel realmente brilha ao contracenar com o ator indiano Vipin Sharma. Sharma interpreta Alpha, líder de Ardhanarishvara, um tempo em que a comunidade hijra vive e que acaba ajudando o Garoto em sua jornada. 

Particularmente, eu não conhecia muito bem a comunidade religiosa, que impõe a emasculação, fazendo com que eles se vistam e se portem como mulheres, considerados por cortes indianas como membros de um terceiro gênero.

A inclusão desse elemento ao filme, até contrastando a pluralidade da Índia e um contraste entre o povo e a elite, me pegou desprevenido, marcando uma virada no filme para mim. É a partir desse encontro que Fúria Primitiva deixou de ser uma boa ideia para se tornar uma excelente produção.

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É realmente impressionante ver a transformação do garoto no Homem Macaco, simplesmente descendo a porrada de um jeito bastante violento e empolgante para qualquer fã de ação. Todo o terceiro ato do filme é realmente divertido para quem gosta desses filmes ou até mesmo de cinema como um todo, já que considerando que o longa é uma produção com orçamento modesto, custando US$ 10 milhões, Dev Patel conseguiu fazer milagre.

Além disso, todo o terceiro ato me fez imaginar como seria o ator em filmes de ação maiores, já que consegue se mostrar bastante convincente na arte da briga no cinema.

Fúria Primitiva estreia nos cinemas de todo o Brasil no dia 23 de maio.