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Crítica: A Maldição do Espelho é tentativa sonolenta de terror adolescente

Por| 11 de Março de 2020 às 13h33

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Paris Filmes
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Em 2015, o cinema russo de terror conquistou relativo sucesso com A Dama do Espelho: Ritual das Trevas, que explora uma lenda antiga sobre os espelhos serem portais para o mundo dos mortos e um acesso à Rainha de Espadas. Com isso, o longa conseguiu o impulso necessário para fazer uma sequência, baseado nesse mesmo cenário. Assim, temos a estreia de A Maldição do Espelho, que chega nesta semana ao circuito nacional. 

Dirigido por Aleksandr Domogarov Jr. (do filme Por que Você Não Morre?), a história tem como personagens centrais dois irmãos, Olga (Angelina Strechina) e Artyom (Daniil Izotov), que perdem a mãe em um acidente de carro logo no início da trama. Eles, então, são enviados para um colégio interno, onde conhecem um grupo de estudantes que gosta de se aventurar com os mistérios do local.

A partir daí, essa turminha tenta aprontar altas confusões e sustos, mas o que vemos é uma história que poderia até ser mais interessante e que esbarra em um roteiro frágil e sonolento, com limitações de baixo orçamento.

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Atenção: daqui em diante o texto contém pequenos spoilers que podem estragar algumas surpresas

Falta de conexão emocional

Uma das primeiras coisas que chamam a atenção é o fato de A Maldição do Espelho ser dublado para o inglês na cópia distribuída no Brasil. Isso afeta a interpretação dos atores, que já é irregular, pois esse trabalho não foi bem feito. É comum vermos completa falta de sincronia com os lábios e ações e até mesmo a personalidade de cada integrante da trama fica prejudicada sem seus trejeitos vocais do registro original. 

Em seguida, temos a introdução da situação de Olga e Artyom de forma relâmpago: a morte da mãe e a falta de conexão sentimental entre os irmãos não é muito bem aprofundada. O roteiro passa tão rapidamente por essas questões (centrais na trama) que fica difícil você se relacionar exatamente com a perda, com o luto e com as próprias motivações de cada um.

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Para piorar, a introdução do grupinho do internato é um show de estereótipos: Kirill (Vladislav Konoplyov) é o almofadinha rebelde que sofre sem a atenção do pai, Alisa (Anastasia Talyzina) é a garota sem filtro que adora flertar, Sonya (Alyona Shvidenkova) é a jovem insegura acima do peso e Zhenya (Vladimir Kanuhin) é talentoso e quieto. Olga surge como misteriosa e impulsiva e Artyom, bem, serve apenas com isca para a Rainha de Espadas.

Toda essa galera se veste como personagens da série Elite e a mansão parece uma casa mal-assombrada. Até aí, até que há uma premissa interessante de jovens lidando com uma situação de mistério e fuga em meio a uma mitologia que envolve bruxas — algo bastante comum na cultura russa.

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Baixo orçamento e trama sem profundidade incomodam

A partir do segundo ato, começamos a notar os problemas de orçamento, narrativa e do próprio roteiro. Primeiro que a mansão que serve como cenário parece ter apenas três cômodos: o refeitório, o quarto das meninas e um tipo de porão onde ficam os cacarecos velhos e o tal do espelho onde as pessoas invocam a Rainha de Espadas.

São pouquíssimas as cenas externas e não há efeito especial algum, apenas alguns truques de edição e som para promover o famoso “jump scare” — que surte o mesmo resultado se alguém estiver no semáforo e você chegar gritando na orelha da pessoa. O recurso de mostrar uma pessoa no reflexo do espelho ou em algum lugar, para depois alguém olhar novamente e não ter nada por lá é tão utilizado que já na segunda ou terceira vez não provoca susto algum.

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Embora vejamos alguns figurantes aqui ou acolá, parece que o colégio se limita mesmo a esse grupo de pessoas e o onipresente Igor (Valeriy Pankov), o único professor do lugar e que serve como uma espécie de herói durante a projeção — uma figura protetora que sempre está perto dos adolescentes.

A mitologia até flerta com algo que já vimos em outros filmes, como Candyman, pois é preciso olhar para o espelho e invocar a Rainha de Espadas algumas vezes antes de realizar desejos mortais. Existem algumas citações sobre de onde essa lenda teria nascido, com uma condessa que assassinou crianças, mas nada é muito aprofundado, então a sensação que fica é que isso poderia enriquecer uma trama que, a cada minuto que passa, relaciona-se menos com a audiência.

Vá ver se estiver precisando dormir

Mas vale a pena ver? Então, é realmente um teste de paciência para os amantes do bom cinema e um exercício de adoração aos filmes de terror, pois, no final das contas, não há assim tantos sustos e nem mesmo uma história muito interessante. Além disso, a interpretação dos atores, que já não é das melhores, fica bastante prejudicada com a dublagem para o inglês — não se preocupem, há legendas em português.

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Então, se você gosta desse tipo de distração para passar um tarde vendo mais do mesmo para comer uma pipoquinha, pode ser que A Maldição do Espelho seja bom para você. Ou, se não estiver dormindo direito em casa, está aí uma opção para cochilar na sala de exibição, são apenas 1 hora e 30 minutos de projeção — o que, convenhamos, não deveria acontecer com um filme de terror, que normalmente tira o sono das pessoas. E olha, com o que acontece no final, pode ser que tenhamos uma continuação...