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Observatório brasileiro de importância internacional tem futuro incerto

Por| 05 de Setembro de 2019 às 19h30

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Mackenzie
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O Rádio-Observatório de Itapetinga faz parte da história mundial da astronomia: ele foi o primeiro instrumento a detectar vapor de água em outra galáxia, localizada a 10 bilhões de anos-luz da Terra. Isso foi na década de 1980. Hoje, ele está passando por reformas e é motivo de discórdia entre cientistas e moradores da região.

Não que ele esteja obsoleto. Pelo contrário, o observatório é considerado pelos cientistas como um dos principais equipamentos de pesquisas meteorológicas e espaciais do país. Além disso, não é fácil encontrar um desses por aí. Em toda a América Latina, só existe outro como ele, localizado na Argentina.

Inaugurado em 1972 no bairro Itapetinga, na região de Atibaia, interior do estado de São Paulo, ele também é usado na educação de universitários, crianças e adolescentes em estudos sobre o clima e o espaço. Também é muito utilizado por pesquisadores e engenheiros do INPE (que detêm o controle administrativo), Universidade Mackenzie, Univap, USP e outras instituições.

Para os moradores da região, no entanto, ele é visto como um obstáculo para o desenvolvimento turístico da cidade. Eles afirmam que a Atibaia cresceu muito nas últimas décadas, e querem construir pousadas e outros recursos para atrair turistas até a área vizinha do observatório. No entorno, também há alguns pontos turísticos importantes para a região, como a Pedrinha e a Grota Funda, onde turistas costumam fazer trilhas e acampar.

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Por que o observatório é um problema?

Existe uma lei municipal que impede a construção de indústrias ou imóveis com fins comerciais no local. Acontece que qualquer equipamento eletrônico ou que emita sinais de rádio causa interferências prejudiciais ao desempenho do rádio-observatório. Os cientistas afirmam que dar a partida em um carro ou fazer uma ligação de celular já é o suficiente para interferir no bom funcionamento do equipamento astronômico.

Por isso, são proibidos loteamentos de terrenos dentro de um raio de 2 km a partir do observatório. O objetivo é evitar que novas casas sejam construídas, o que certamente resultaria em mais sinais que causariam mais interferências. A única coisa que a lei local permite é a construção de uma casa para uso familiar por loteamento.

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Porém, a Prefeitura de Atibaia está desenvolvendo um novo Plano Diretor, que vai definir como o solo de cada região do município poderá ser usado nos próximos anos. Os moradores da região aproveitaram a oportunidade para pressionar a administração pública, afirmando que o observatório se tornou obsoleto.

Entre esses moradores está o arquiteto Allan Klauss Mezaros Bueno, de 36 anos, dono de um terreno a 1.500 metros do observatório. "Hoje, o observatório não favorece o município em nada. Ele pode até ser usado para algum estudo que beneficie alguém, mas a cidade em si, não. Nenhum morador fala que quer ele aqui. A maioria, na verdade, tem dúvida se ele realmente funciona", afirmou. Bueno planeja construir uma pousada no local.

O interesse na manutenção do observatório é internacional. Entre os que moveram uma campanha para que ele volte a funcionar o quanto antes estão um cientista da NASA, a diretora do rádio-observatório de Nançay, na França, e o diretor do Laboratório de Física Solar da Academia de Ciências da China.

Posição política favorável

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A prefeitura está em contato com pesquisadores do Mackenzie e do Inpe, e declarou que entende a importância do rádio-observatório e da zona de silêncio elétrico. A presidente da Comissão de Coordenação para Revisão e Atualização do Plano Diretor, Viviane Cocco, explicou que a primeira proposta do novo zoneamento deverá ser concluída em setembro de 2019, e depois será colocada em votação.

“O que nos cabe no momento, na revisão do Plano Diretor, é respeitar o raio da área de silêncio elétrico, conforme a legislação de 1972", afirmou Cocco. Na verdade, a prefeitura pode até determinar regras ainda mais restritivas que as atuais para a ocupação do solo na região. E, caso aconteça alguma tentativa afrouxar a lei atual, ou até mesmo revogá-la, a comunidade científica pretende recorrer a órgãos internacionais.

Marcão do Itapetinga (PSB), vereador de Atibaia, também é favorável à manutenção do observatório e das restrições atuais. Ele foi até o lugar para conhecer o aparelho e conversou com especialistas para entender como tudo funciona e qual sua importância. "Eles precisam aumentar esse raio de proteção. Se houver algum projeto ou tentativa de diminuir esse raio, nós vamos usar como argumento um decreto federal que prevê essa proteção. Mas a tendência é manter como está", afirmou.

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Tudo indica que as coisas estão favoráveis para a manutenção do observatório e para sua zona de silêncio elétrico. Mas ainda é preciso aguardar as decisões finais para conhecer o futuro das instalações. Se tudo der certo, o lugar será ainda mais modernizado, incluindo melhorias para a antena responsável pelas captações, para que os cientistas possam explorar todo o potencial acadêmico do observatório, tanto para a formação de universitários, quanto para uso do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.

Fonte: BBC