O que aconteceria se você sobrevivesse a uma guerra nuclear?
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Em novo estudo, cientistas calculam o efeito de uma guerra nuclear no mundo, mas não apenas os imediatos, e sim o cenário que vem a seguir — e ele é de muita, muita fome. Os dados mostram que os efeitos calculados até hoje focavam meramente na destruição causada pelas ogivas, desconsiderando o que os humanos teriam de enfrentar durante o inverno nuclear.
Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética tinham arsenais tão grandes que utilizá-los causaria uma destruição mútua assegurada (MAD, na sigla em inglês), ou seja, se um dos lados atacasse para evitar que o outro utilizasse a maioria de suas bombas, ainda haveria o suficiente para causar o colapso da civilização de quem atacou pela nação atacada.
Ao estudar Vênus e Marte, descobrimos mais sobre a fragilidade da vida na Terra, cunhando o termo "inverno nuclear", que define a escuridão causada pela fuligem de ataques nucleares, semelhante ao que ocorreu com o Chicxulub, o meteoro que aniquilou os dinossauros.
O que aconteceria depois da guerra?
Embora se acreditasse que os estoques de ogivas tenham sido diminuídos o bastante nos anos 1990 para que uma guerra não aniquilasse toda a civilização humana, um novo artigo da revista científica Nature Food discorda. Segundo os pesquisadores, que atualizaram os dados com cálculos mais recentes considerando arsenais menores e modelagens atmosféricas mais modernas, morreríamos de fome.
A maior parte das plantações morreria, e a produtividade marinha também cairia drasticamente, o que causaria mortes pela fome que excederiam em muito as causadas pelos ataques das ogivas nucleares — tudo devido à fuligem levantada pelas bombas.
Mesmo com arsenais reduzidos, os EUA e a URSS poderiam injetar 150 milhões de toneladas de fuligem na atmosfera, deixando quase todos os países impossibilitados de alimentar sua população, com as possíveis exceções de Austrália, Nova Zelândia e alguns países sul-americanos.
Em cenários menos sérios, como os que envolvem os arsenais menores de Índia e Paquistão, 100 armas nucleares com uma média de 15 quilotons causariam cerca de 27 milhões de mortes, mais ou menos as perdas humanas da Segunda Guerra Mundial.
Os 5 megatons de fuligem, no entanto, cortariam a produção calórica mundial em 7%, causando cerda de 255 milhões de mortes por fome nos dois anos seguintes — a maioria em nações fora do conflito. Um aumento maior na carga das bombas, mas limitado, já causaria mortes na casa dos 2 bilhões, segundo os cientistas.
Vieses e soluções
Um uso mais eficiente de estoques alimentares, reduzindo o lixo e consumindo cereais destinados ao gado, poderiam aliviar um pouco o cenário, mas os danos possíveis à camada de ozônio poderiam deixar o futuro ainda mais sinistro, segundo a pesquisa. Há, também, alertas de que o uso limitado de armas em cenários de guerra podem causar efeitos semelhantes, especialmente em locais onde a agricultura é mais vulnerável à redução de luz solar, como na Rússia.
Especulações como essas também levam em conta que os países reagiriam alimentando a população, e não deixando que uma parcela do povo morresse para prevenir fomes em massa. Os autores consideram, também, que haveria a possibilidade de alguns países entrarem em guerra para brigar pelos estoques de alimento um do outro. De qualquer forma, a conclusão deles é de que banir as armas nucleares é a única solução a longo prazo.
Fonte: Nature Food