O caso do homem que se isolou numa caverna e pôs o relógio biológico em xeque
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •
O corpo humano sabe a hora de acordar e de dormir, baseado no relógio biológico (ou ritmo circadiano) de 24 horas. No entanto, essa noção pode ser quase toda perdida, como descobriu o cientista francês Michel Siffre, nos anos 1960. O homem se isolou numa caverna, sem interferência externa, e entendeu como o relógio interno pode ser modificado. Neste caso, o relógio passou a funcionar em ciclos de 48 horas.
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O cientista Siffre repetiu o experimento da caverna várias vezes ao longo da vida. Em alguns casos, recrutava outras pessoas para vivenciar essa experiência que desorganizava o relógio biológico “natural”. No registro histórico da agência de notícias AFP, de 1972, é possível ver o homem saindo da caverna após completar os cinco meses do experimento:
Para explicar o porquê do tempo ficar mais lento e o dia durar 48 horas, Siffre recorre à ideia de que o relógio biológico humano está diretamente conectado com o nascer e o pôr do sol, em sintonia com o ambiente. Se isso muda, os processos internos também são afetados.
Vale dizer que o trabalho pioneiro do pesquisador contribuiu bastante com um ramo da ciência conhecido como cronobiologia humana, que é dedicado ao estudo dos ritmos biológicos.
Experimento do relógio biológico na caverna
A primeira vez que Siffre se tornou cobaia de suas próprias ideias foi em 1962, quando tinha 23 anos. O jovem cientista morou por 63 dias em uma caverna úmida nos Alpes Franceses, há 130 metros de profundidade.
Durante o experimento, a única fonte de iluminação era uma lâmpada de quatro volts, normalmente usada por mineradores. A luz artificial era importante para que pudesse comer e mentar as anotações sobre o experimento em seu diário.
Do lado de fora da caverna, foi mantida uma equipe de apoio, que só respondia quando era acionada e que podia ser avisada sobre a hora de dormir ou de comer do cientista.
Conforme os dias passavam para o homem que se isolou na caverna, o ciclo de 24 horas começou a se prolongar. Ele passou a ter 36 horas de atividade contínua e 12 a 14 horas de sono. Em outras palavras, o tempo de duração de um dia estava dobrado.
Outro ponto curioso é que a percepção pessoal do tempo, sem considerar as necessidades do corpo, também estava diferente. Em um dos experimentos, ele descobriu que levava 5 minutos para contar até 120. Isso normalmente levaria 2 minutos.
Cientista que trabalhou com a NASA
Como conta a Société des Explorateurs Français (SEF), os resultados obtidos pelos experimentos de Siffre, do dia de 48 horas, passaram a atrair a atenção de diferentes setores da sociedade, especialmente dos militares e até da NASA.
Tanto é que, em 1972, a NASA financiou um de seus experimentos, no qual passou 205 dias em uma caverna do Texas (EUA). Desta vez, eletrodos foram fixados em seu peito e na cabeça para medir os seus dados vitais.
Após tantos anos de contribuição para a ciência, o cientista da caverna morreu no dia 25 de agosto deste ano, em Nice, na França, aos 85 anos.
Fonte: SEF