Hambúrguer de carne cultivada em laboratório pode quase não ter carne

Os primeiros produtos feitos com carne cultivada em laboratório devem ter pouca “carne bovina”, sendo que alguns itens alimentícios consideram usar apenas 5% de células bovinas cultivadas em biorreatores. A questão é que, hoje, a produção é muito limitada e cara, o que dificulta a produção em larga escala de um simples hambúrguer.

• Maior fábrica de carne cultivada do mundo será construída nos EUA
• Agência dos EUA aprova primeira carne cultivada em laboratório para consumo

Este possível cenário de carne cultivada com pouco material de origem animal levanta uma interessante discussão: quanto de carne bovina define uma carne bovina? Para responder a essa questão, muito provavelmente, os órgãos reguladores de cada país devem estabelecer os seus próprios limites.

O cenário da carne cultivada em laboratório hoje

Considerando a realidade dos Estados Unidos, duas empresas ganharam selos de que seus produtos são seguros para o consumo humano, obtidos após análises da agência Food and Drug Administration (FDA). Agora, elas esperam pela aprovação do Departamento de Agricultura. Quando o processo for finalizado, os consumidores poderão, enfim, comprar uma “porção” de carne cultivada em laboratório com outros ingredientes.

Por exemplo, a empresa Upside Foods desenvolve uma linha de produtos híbridos de frango, como uma salsicha com 35% de células cultivadas em laboratório. Testando ainda mais os limites do que é uma carne processada, a SciFi Foods experimenta hambúrgueres de carne bovina que contêm apenas 5% de células do animal.

Para a revista Wired, o CEO da SciFi Foods, Joshua March, conta que uma pequena quantidade de células de gordura de origem animal já é suficiente para dar o sabor característico de um blend de carne. Esta experiência seria alcançável com proporções que vão de 5% a 10%, segundo a etapa preliminar de desenvolvimento dos produtos da empresa.

Caso ainda não esteja claro, todo o resto do produto será preenchido por componentes de origem vegetal, sendo predominante o uso da soja, cuja produção é muito mais barata que a construção de biorreatores — locais em que o cultivo de células animais é feito. Outra opção é o uso de ervilhas, por exemplo.

Carne híbrida já é realidade em muitos alimentos

O “problema” da carne cultivada em laboratório pode parecer inédito, mas não é. No mercado, parcela significativa das carnes ultraprocessadas que são vendidas não são compostas integralmente por carne. As misturas na indústria alimentícia já são comuns, mas em porcentagens significativamente menores. Por exemplo, alguns hambúrgueres bovinos têm cerca de 4% de soja. No entanto, a proporção não se compara com as atuais propostas deste emergente nicho de empresas.

Fonte: Wired