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Entenda a polêmica do novo supercondutor que "vai revolucionar o mundo"

Por| Editado por Patricia Gnipper | 28 de Julho de 2023 às 19h56

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Wikimedia Commons
Wikimedia Commons

Uma equipe de cientistas da Coreia do Sul alega ter realizado um dos grandes sonhos dos físicos: a criação de um material supercondutor de temperatura e pressão ambiente. Eles publicaram as descobertas em um artigo que se tornou um debate acalorado na comunidade científica.

O material supercondutor é uma espécie de pedra filosofal moderna (com a diferença que não parece algo tão impossível de se produzir) — ele poderia conduzir eletricidade sem resistência e, consequentemente, sem a dissipação de calor.

Essa descoberta revolucionaria praticamente toda a indústria de produtos elétricos, pois haveria um aproveitamento muito maior da eletricidade. Além disso, um supercondutor desse tipo seria necessariamente um repelente de ímãs, possibilitando levitação de trens, e até mesmo facilitaria a reatores de fusão eficientes.

Não é à toa que muitos cientistas buscam encontrar um meio de produzir esse material; uma descoberta como essa não somente transformaria a indústria como provavelmente garantiria um prêmio Nobel. Por isso mesmo os resultados das pesquisas podem ser um pouco exagerados.

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Os resultados da equipe coreana foram publicados em dois artigos no servidor de pré-impressão arXiv.org, ainda aguardando revisão de pares para uma eventual publicação em revistas científicas. O material produzido por eles recebeu o nome “LK-99” e consiste em uma mistura de pós contendo enxofre, oxigênio e chumbo.

Após o composto a altas temperaturas por várias horas, as reações transformaram o material em uma substância cinza-escuro e supercondutora, segundo os artigos. Os autores também afirmam que, ao testar o magnetismo, o LK-99 levitou acima de um ímã — a equipe inclusive forneceu um vídeo exibindo esse fenômeno.

Controvérsias

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A comunidade científica está cautelosa com as alegações da equipe coreana porque o histórico de alegações exageradas sobre supercondutores é longo. Alguns supercondutores de fato já foram criados, mas eles precisavam de temperaturas muito baixas (próximo do zero absoluto) para se tornarem eficientes como deveriam ser, enquanto outros exigiam pressão muito alta.

Tanto a baixa temperatura e a alta pressão exigem muita energia para serem produzidas em algum ambiente, por menor que ele seja, mas isso não impede os físicos de continuarem tentando um supercondutor que funcione em condições ambiente. O problema é que muitos acabam exagerando nas alegações, ou mesmo se deixam levar por resultados ilusórios.

Em 1987, por exemplo, um grupo criou um composto chamado YBCO foi descoberto como um supercondutor de alta temperatura. Alguns pesquisadores pensaram ter encontrado indícios da supercondutividade ocorrer em temperatura ambiente, mas uma análise mais detalhada descobriu que não era o caso.

Muitos outros estudos falharam após a alegação de terem atingido o objetivo, por isso, hoje, os cientistas são mais céticos e avaliam cautelosamente cada detalhe dos artigos que descrevem o processo de produção do material, os métodos científicos utilizados e as medições dos resultados.

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Doug Natelson, um físico da Rice University, conferiu os dois artigos coreanos e notou uma inconsistência nos gráficos incluídos em ambos: eles foram feitos a partir do mesmo conjunto de dados, mas um deles possui um eixo com uma escala cerca de 7.000 vezes maior que o outro.

Isso não significa necessariamente que exista algum erro nos artigos, muito menos é prova de alguma má conduta científica. Entretanto, é um bom motivo para uma revisão bem minuciosa e, provavelmente, muitos físicos que trabalham nessa área no mundo inteiro já devem ter feito uma avaliação preliminar e algumas equipes já tentam replicar o experimento.

Apenas com a revisão de pares poderá avaliar se todos os métodos do trabalho são válidos e se os resultados são consistentes e se podem ser reproduzidos. “Não é raro as pessoas verem coisas estranhas que no final não dão certo”, disse Natelson, e levará alguns dias ou semanas para descobrirmos se o material realmente funciona.

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Fonte: arXiv.orgScientific American