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Como os humanos descobriam plantas tóxicas antes da ciência?

Por  • Editado por Luciana Zaramela |  • 

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Muito antes da ciência ter se popularizado, humanos usavam tentativa e erro para descobrir se plantas eram tóxicas ou não. Após cada descoberta, havia o compartilhamento dos acertos entre a comunidade, em um processo que faz parte da evolução cultural.

O processo que permitiu a descoberta de quais plantas eram venenosas na natureza é semelhante ao que ocorre na evolução das espécies, proposta pelo biólogo britânico Charles Darwin

Quando algo dá muito certo — a mutação de um gene ou um novo comportamento —, ele acaba sendo transmitido para as gerações futuras, o que pode produzir resultados impressionantes ao longo dos anos.

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Mandioca crua é tóxica

Para entender o conceito por trás da evolução cultural, podemos observar o processo de “domesticação” da mandioca, um vegetal nativo da Amazônia — região ocupada há milhares de anos — e consumido por ser uma excelente fonte de energia. De forma mais recente, é cultivada também na África.

Apesar do nome mandioca, existem dois tipos diferentes: mandioca-mansa e mandioca-brava. Fisicamente, as duas são muito parecidas e contêm glicosídeo cianogênico, um tóxico que pode ser letal, nas raízes e nas folhas. O problema é que o nível desse veneno é muito maior na versão “brava”.  Entretanto, não há indicação de comer nenhuma das duas cruas. 

“A toxicidade das folhas de mandioca, ocasionada pelo teor de cianeto, restringe o uso in natura. A melhor forma de manuseio visando a redução do teor de ácido cianídrico é a técnica de triturar as folhas antes de cozinhar”, afirma Priscilla Andrade, professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), em artigo.

Para dimensionar, são aproximadamente 50 horas cozinhando as folhas para o consumo ser seguro. Hoje, conhecendo a toxina, não há dúvidas sobre a importância do preparo.

No entanto, os primeiros humanos a consumirem a mandioca acabaram desenvolvendo “rituais” e longos preparativos que tornaram esse consumo seguro. Estes procedimentos foram aperfeiçoados ao longo de inúmeras gerações e milhares de anos, sem saber do glicosídeo cianogênico. Provavelmente, alguns indivíduos morreram ao longo desse percurso do saber.

Fora da alimentação, os humanos também precisaram tentar, copiar os mais antigos, testar outras formas e compartilhar o conhecimento para praticamente qualquer coisa, como acender uma fogueira ou construir um iglu.

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Experimento sobre aprendizado  

Buscando demonstrar como um conceito — processo ou saber — é melhorado e aperfeiçoado dentro de uma comunidade, pesquisadores da Universidade de Exeter realizaram um pequeno experimento para entender como os humanos aprendem conceitos complexos. O estudo foi publicado na revista Nature Human Behaviour.

Como parte do teste, os participantes foram desafiados a colocar pesos nos raios de uma roda para aumentar a velocidade, durante uma descida. Os conhecimentos adquiridos eram passados para o próximo “jogador”, fazendo com que eles fossem mais rápidos que a turma da primeira geração. Isso era feito mesmo que eles não entendessem o porquê daquilo funcionar tão bem.

"As tecnologias otimizadas surgem através da retenção de pequenas melhorias ao longo das gerações, sem exigir a compreensão de como essas tecnologias funcionam”, explicam os pesquisadores. 

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Através do experimento, os autores relatam ter demonstrado como um “artefato físico se torna progressivamente otimizado ao longo de gerações de aprendizados na ausência de compreensão causal explícita”. O mesmo percurso vale para a descoberta de quais plantas eram venenosas e como consumi-las de forma segura, antes do conhecimento da ciência moderna.

Fonte: Nature Human Behaviour, BBC e Ufra