Astronauta revela as maiores dificuldades enfrentadas ao viver no Espaço
Por Patricia Gnipper | 09 de Janeiro de 2016 às 13h05
Tornar-se um astronauta e viajar pelo Espaço é o sonho de muitas pessoas ao redor do planeta, mas como será que é enfrentar o dia a dia de uma missão espacial? O astronauta britânico Tim Peake embarcou rumo à Estação Espacial Internacional (ISS) na última terça-feira (5) e sentirá na pele algumas das situações relatadas por Ron Garan, piloto norte-americano que esteve na ISS em 2011.
O astronauta acaba de lançar um livro chamado “The Orbital Perspective” (ou “A Perspectiva Orbital”, em tradução livre), no qual revela ao grande público como foi viver um período na órbita da Terra e como essa experiência mudou sua forma de encarar a vida por aqui.
De acordo com a publicação, as cinco situações mais difíceis com as quais teve que se acostumar ao vivenciar a ausência de gravidade e conviver em uma nave espacial com outros astronautas foram:
1) A ausência de peso
Garan contou que suas primeiras sensações ao adentrar o Espaço não foram exatamente empolgantes, pois sentiu bastante náuseas. Mesmo com os treinamentos da NASA simulando a gravidade zero, o astronauta conta que é muito diferente vivenciar a ausência de peso por algumas horas e 24 horas por dia.
Visitantes experimentam a gravidade zero em um ambiente desenvolvido pela Zero Gravity Corporation (Reprodução: Zero Gravity Corporation)
Para ele, foi como se seu corpo dissesse “ei, a gravidade zero não deveria durar tanto tempo, deve haver algo de errado”. Felizmente, ao final daquele dia seu organismo já estava devidamente ajustado à experiência e os enjoos foram embora.
2) Dormir
Na ISS, não se descansa do mesmo jeito que fazemos aqui na Terra. Como não há gravidade, não é possível deitar o corpo da mesma forma, apoiando a cabeça em um travesseiro. O astronauta contou que levou várias semanas para que os músculos de seu pescoço se ajustassem à posição de dormir na Estação Espacial, o que resultou em diversas noites em claro.
A foto mostra o astronauta Paolo Nespoli dormindo na Estação Espacial Internacional (Reprodução: NASA)
A ausência de dias claros e noites escuras também foi uma barreira. Para contornar a dificuldade, Garan disse que se concentrava em pontos do chão, paredes e teto para conseguir embarcar no sono.
3) Manter a noção do tempo
Contabilizar a passagem de horas, dias e semanas não é algo tão fácil de fazer estando no Espaço, já que a contagem do tempo é feita seguindo parâmetros diferentes. Cada dia é chamado de “Flight Days” (FD), e o primeiro dia ganha o título de FD1, o segundo FD2, e assim por diante.
4) Lidar com fluidos corporais
Na Terra, o suor escorre pelo nosso corpo ou as lágrimas caem por conta da existência da gravidade – que “puxa” tudo para baixo. Já no Espaço, onde a força da gravidade é inexistente, se o astronauta chorar, suas lágrimas flutuarão como pequenas bolinhas de líquido concentrado.
Um modelo de banheiro de naves espaciais (Reprodução: Divulgação)
“Último banheiro na Terra”, diz uma placa localizada acima de um sanitário na plataforma de lançamentos da NASA, e o aviso, se ignorado, faz com que os astronautas vivenciem a experiência nada agradável de fazer suas necessidades fisiológicas em um ambiente sem gravidade mais cedo. Quando a urina ou os as fezes saem do corpo dos astronautas no Espaço, os dejetos precisam ser sugados por uma máquina para que não corram o risco de saírem flutuando pela nave. Enquanto a urina é purificada e transformada em água potável, as fezes são armazenadas em uma nave paralela não tripulada que envia o conteúdo de volta para a Terra – sendo queimados pela atmosfera do nosso planeta, sem que haja nenhum tipo de contato com o solo ou contaminação.
E como fazer para tomar banho? Como não há chuveiros nos banheiros da ISS, os astronautas precisam tomar um “banho de gato” utilizando esponjas especiais.
5) Superar a vista
Ao avistar a Terra da Estação Espacial Internacional, os astronautas têm uma oportunidade única de observar de longe fenômenos naturais estonteantes como a Aurora Boreal, ou admirar as luzes artificiais das grandes cidades brilhando à noite. Uma janela envidraçada chamada “Cupola” fornece a melhor vista da Terra, de acordo com muitos dos astronautas que viveram um tempo na ISS.
A astronauta Tracy Caldwell Dyson admira a vista aérea da Terra na ISS (Reprodução: Divulgação)
Apesar de tanta beleza, a vista faz com que a visão que se tem do nosso planeta acabe mudando, e fica difícil superar as revelações que uma vista tão reveladora proporciona. Garan contou em seu livro que essa visão fez com que ele mudasse completamente sua forma de encarar a Terra, tornando-se um ativista em prol da saúde do planeta.
Fonte: Business Insider