Ao "respirar", bactéria misteriosa consegue gerar material usado em eletrônicos
Por Ramon de Souza | 28 de Julho de 2020 às 22h00
Um novo estudo publicado por engenheiros do Instituto Politécnico Rensselaer aborda um organismo vivo que é, no mínimo, peculiar: a bactéria Shewanella oneidensis, que foi isolada pela primeira vez lá em 1988 no rio Oneida (Nova York, EUA). A S. oneidensis sempre foi alvo de muita curiosidade pela comunidade científica por um motivo simples: ela é capaz de gerar o composto inorgânico dissulfeto de molibdênio (MoS²) ao simplesmente “respirar”.
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Vamos explicar melhor. Quando esta bactéria (que pode viver tanto em ambientes com oxigênio quanto em ambientes sem qualquer oxigenação) realiza seu processo de anaerobiose em metais ou outros compostos organossulfurados, ela produz o tal material de forma praticamente milagrosa. O MoS² pode ser usado em eletrônicos e em dispositivos eletroquímicos, visto que ele possui a particularidade de transferir elétrons facilmente.
“Nós constatamos que a bactéria que está adaptada a ambientes geoquímicos e bioquímicos específicos podem criar, em alguns casos, novas matérias-primas muito interessantes”, afirma James Rees, responsável pelo projeto científico. “Nós estamos tentando trazer isso para o mundo da engenharia elétrica”, completa.
O grande diferencial da S. oneidensis em relação a outras bactérias anaeróbicas é justamente sua capacidade de produzir nanofios capazes de transferir elétrons. Como bem observa Shayla Sawyer, professora associada do Instituto, o mais fascinante é perceber como o organismo age como “uma interface” entre o mundo dos vivos e o mundo daquilo que é criado pelo homem.
“Às vezes, recebemos a seguinte pergunta perante a pesquisa: porque bactérias? Ou por que trazer a microbiologia para a ciência dos materiais? A biologia teve um longo período de invenção de materiais por tentativa e erro. Os compósitos e as novas estruturas inventadas por cientistas são quase uma gota em um balde em comparação com o que a biologia foi capaz de fazer”, finaliza Rees.
Fonte: Phys.org