Por que pouso e decolagem são as fases mais arriscadas de um voo?
Por Danielle Cassita |

Não é de hoje que os aviões são considerados o meio de transporte mais seguro — tanto que um estudo do Instituto Massachusetts de Tecnologia publicado em 2024 mostrou que o risco de uma fatalidade ocorrer em um voo comercial cai a cada ano e que, entre 2018 e 2022, era de 1 a cada 13,7 milhões de passageiros. Mesmo assim, há algumas etapas consideradas as de maior risco nos voos, e talvez não sejam as que você imagina.
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Uma análise detalhada conduzida pela Boeing sobre acidentes fatais com aviões comerciais revelou que o risco não é distribuído de forma homogênea ao longo da viagem; na verdade, a análise da fabricante revelou que a maioria dos acidentes fatais ocorre na decolagem, subida, descida e no pouso.
Pode parecer estranho, afinal, estas são as etapas mais curtas dos voos. Então, o que as torna tão perigosas?
Desafio da baixa altitude
A concentração de acidentes nas fases iniciais e finais está diretamente ligada à baixa altitude e baixa velocidade da aeronave. Para entender melhor, pense em um avião voando na chamada altitude de cruzeiro, a mais de 10 km: ali, o piloto tem tempo e espaço suficientes para realizar qualquer correção necessária.
Aliás, o avião não despencaria do céu nem mesmo se ambos os motores falhassem. Neste caso, o piloto poderia seguir com a aeronave planando por cerca de oito minutos até encontrar um local seguro para pousar. É aqui que está o problema: se algo do tipo acontece quando o avião está perto do solo, esta janela de tempo diminui. E muito.
Os aviões comerciais levam, em média, entre 30 e 35 segundos para decolar. Isso significa que, se uma falha crítica ocorrer, a tripulação tem uma janela curtíssima para decidir se deve ou não abortar a decolagem — o tempo para desistir da decolagem é tão curto que, dependendo da velocidade do avião, não é mais possível pará-lo.
Treinamento e atenção
Na aviação, a decolagem e o pouso são levados tão a sério que os pilotos são treinados à exaustão para aprenderem a reagir corretamente se algo acontecer nestas etapas. Aliás, a FAA, agência regulatória de voos nos Estados Unidos, proíbe qualquer tipo de comunicação ou atividade não essencial no cockpit se o avião estiver a menos de 3 km de altitude.
Anthony Brickhouse, professor associado do Colégio de Aviação na Universidade Aeronáutica Embry-Riddle, observa que, durante a desaceleração para o pouso, a baixa velocidade torna-se crítica: qualquer vento mais forte ou algum outro evento imprevisto tem um efeito bem diferente daquele que aconteceria durante a decolagem.
"A decisão de rejeitar uma decolagem é muito intensa, porque você precisa tomá-la abaixo de uma determinada velocidade, caso contrário, pela física, você não vai conseguir parar", acrescentou ele.
Mesmo assim, vale lembrar que, se os acidentes aéreos têm parecido ocorrer com mais frequência, é porque a categoria da aviação geral tem mais aeronaves — incluindo aviões de pequeno porte, privados e usados para fins recreativos.
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