Como uma escola quer preencher a imensa demanda de profissionais de TI no Brasil
Por Rui Maciel | 12 de Abril de 2021 às 20h50
Um levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) apontou que a área da Tecnologia da Informação ofertará cerca de 65 mil vagas no setor de TI, nas mais diversas especialidades. E, até 2024, esse número pode saltar para 420 mil. No entanto, tanto no Brasil, quanto no resto do mundo, a oferta de empregos na área está muito maior do que a disponibilidade de profissionais.
E de olho no potencial desse mercado, a oferta e demanda do setor tem se encontrado de forma oportuna. Cada vez mais novos profissionais - e aqueles de olho em uma mudança de carreira ou que desejam incrementar seus currículos - têm buscado diversas escolas especializadas em programação e outras áreas de TI, como Big Data.
E essas escolas, por sua vez, não querem apenas formar profissionais técnicos. Eles querem também que eles saiam de seus cursos com melhores habilidades comportamentais (ou soft skills, se preferir) para um melhor desempenho em equipe. E também com uma maior visão de negócios, que é essencial tanto no desenvolvimento de um produto (um aplicativo, por exemplo), quanto para empreender em um negócio próprio, como uma startup.
Só que não basta apenas boa vontade. Formar profissionais de Tecnologia no Brasil ainda é um desafio imenso, seja por limitações técnicas - causada pela falta de contato anterior com programação, por exemplo - seja pelo alto investimento que um curso no setor exige.
Mas para driblar essas dificuldades, as escolas têm buscado os mais diversos caminhos. Uma delas é a Trybe, que além da formação técnica (e de soft skills), oferece para alguns de seus alunos a possibilidade de eles pagarem pelo curso apenas após a conclusão e quando o recém-formado já estiver atuando no mercado de Tecnologia.
E para saber como a escola vem enfrentando os desafios em formar novos profissionais de TI, o Canaltech conversou com Matheus Goyas, fundador e CEO da Trybe, que fala sobre os diferenciais da instituição e do programa "Modelo de Sucesso Compartilhado".
Confira como foi o papo:
Canaltech - Quais são os grandes desafios de formar profissionais para a área de Tecnologia no Brasil?
Matheus Goyas: O grande desafio é formar pessoas altamente qualificadas e preparadas não só tecnicamente, mas também do ponto de vista comportamental.
Pessoas qualificadas tecnicamente são aquelas que sabem de fato colocar a mão na massa e estão preparadas para contribuírem com as empresas desde o primeiro dia. Do ponto de vista comportamental, ensinar as pessoas as soft skills, habilidades comportamentais que são tão demandadas ou mais do que as técnicas, como, por exemplo, colaboração, liderança, comunicação, e pensamento crítico.
Por isso, o nosso foco é oferecer uma formação de alta qualidade que ensina as pessoas a programar, a aprender e a trabalhar.
CT - Como funciona o desenvolvimento do aluno durante os cursos da Trybe? Como a escola pode contribuir para além do ensino das técnicas de programação?
M.G.: A formação da Trybe acontece com um programa de alta qualidade, com aproximadamente 1.500 horas e 12 meses de duração, ensinando a parte técnica com muito conteúdo e desafios práticos, e a parte de soft skills com conteúdos específicos, dinâmicas, projetos em grupo e reuniões individuais de acompanhamento. Isso ocorre com o apoio de uma equipe experiente e dedicada de especialistas que apoiam a pessoa estudante de perto durante sua jornada de aprendizagem.
Nosso diferencial é o foco em qualidade, colocando as pessoas/estudantes sempre em primeiro lugar. Quando falo qualidade, falo da formação, do nosso produto e tecnologia, dos exercícios e projetos, da nossa equipe e das empresas parceiras que buscamos para conectar com as pessoas que estudam conosco ainda durante o período de formação. Nosso currículo foi construído a partir das demandas das empresas.
Qualquer pessoa estudiosa, esforçada e com disponibilidade pode participar do programa (que é muito intenso e exige bastante comprometimento). Temos o programa mais completo, ensinando as pessoas a programar, a aprender e a trabalhar. Abordamos desde introdução ao desenvolvimento de software, front-end, back-end, fundamentos de ciência da computação, metodologias ágeis, projetos que simulam o trabalho de desenvolvimento de software na vida real além de tópicos importantes como habilidades socio-emocionais e carreira.
CT - Como funciona o plano modelo de sucesso compartilhado da Trybe? O aluno tem um prazo para conseguir um emprego e começar a pagar pelo curso feito?
M.G.: O Modelo de Sucesso Compartilhado (MSC) é uma opção de pagamento oferecida pela Trybe para que pessoas que tenham interesse em estudar na escola possam começar a pagar somente após conseguir uma remuneração mínima de, atualmente, R$3.000,00 por mês (valor atualizado anualmente pelo IPCA).
Ao atingir a remuneração mensal mínima, quem opta pelo MSC deverá pagar 17% da sua remuneração até atingir o valor de R$36.000,00, atualizado anualmente pelo IPCA ou transcorridos 5 anos da data da sua formatura na Trybe, o que acontecer primeiro.
CT - Atualmente, quais as especializações tecnológicas mais buscadas pelas empresas e que a escola também oferece?
M.G.: Há um déficit de profissionais em todos os setores que envolvem digitalização, um deles é o de profissionais de desenvolvimento. Segundo relatório da Brascom (feito pré-pandemia), esse déficit no Brasil aumenta em 70 mil posições por ano. Até 2024, o estudo estima que teremos 420 mil posições a serem preenchidas no setor de tecnologia. Com a chegada da pandemia e a aceleração da digitalização que vem ocorrendo dentro das empresas, esse número poderá ser ainda maior.
Ainda de acordo com o levantamento, hoje o Brasil forma 46 mil pessoas com perfil tecnológico por ano, com relativo descasamento geográfico entre oferta e demanda de mão-de-obra. No entanto, os 420 mil profissionais que serão demandados até 2024 representam a necessidade de 70 mil profissionais ao ano. Ou seja, os dados apontam para uma necessidade urgente de formação e mão de obra qualificada a curto prazo. Ainda vale ressaltar que esse não é apenas um desafio exclusivo do Brasil, e sim mundial.
Na Trybe focamos apenas na formação de desenvolvimento web, uma das profissões mais buscadas pelas empresas hoje, mobilizando todos os nossos recursos e time para oferecer a melhor experiência para nossas pessoas estudantes.
CT - Hoje, qual o grau de conhecimento dos alunos que buscam os cursos da Trybe? A maior parte vem completamente "cru" ou já trazem algum grau de conhecimento em alguma linguagem de programação?
M.G.: Temos perfis diversos entre as pessoas que estudam conosco, desde pessoas que não possuem nenhum conhecimento de programação, saindo diretamente do ensino médio, em transição de carreira, até pessoas que já possuem conhecimento básico na área.
Não é necessário conhecimento prévio para estudar na Trybe, basta ter mais de 18 anos, ensino médio completo, disponibilidade para estudar de segunda a sexta, de 14h às 20h, e muito comprometimento.
CT - E como a escola trabalha com alunos que já vem com certo conhecimento de programação, daqueles que estão iniciando do zero? Afinal, o tempo de aprendizado desses dois perfis é diferente, não?
M.G.: Mesmo as pessoas que já possuem uma base em programação tem a mesma formação de que não possui, porque como dissemos a Trybe não ensina apenas a parte técnica, ensina também soft skills e preparação para o mercado de trabalho.
Além disso, como a formação é extremamente prática, com muita mão na massa, as pessoas estudantes têm a oportunidade de revisar e fixar os conhecimentos através de nossos projetos, aprendendo e compartilhando experiências com colegas, equipe de especialistas e toda a nossa comunidade.
Dessa forma conseguimos formar uma pessoa preparada em todos os aspectos para ingressar no mercado de trabalho.
CT - E qual o perfil do aluno da Trybe hoje? Hoje a escola recebe mais profissionais que querem mudar de carreira ou aqueles que estão no início de suas vidas profissionais?
M.G.: Nós buscamos pessoas que tenham convicção na carreira de desenvolvimento, disponibilidade e dedicação para os estudos. Temos pessoas estudantes com perfis diversos e o que é comum em todas elas é o comprometimento com os estudos e desejo de construir uma carreira de sucesso em tecnologia.
CT - A escola também vem registrando um crescimento do público feminino entre seus alunos? Que áreas do setor de TI elas vêm apresentando maior interesse?
M.G.: Infelizmente, assim como ocorre em todo o setor de tecnologia, nossas turmas ainda possuem uma maioria masculina - apesar de estarmos registrando crescimento desse público a cada turma.
Temos diversidade de gênero como uma aspiração e entendemos que investir nela é chave para mudarmos todo o setor. Por isso, possuímos diversas iniciativas internas e externas em andamento para aumentar o número de mulheres estudando conosco.