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Uber amplia recursos de segurança com gravação de áudio e "selfie ao vivo"

Por| 11 de Novembro de 2019 às 10h45

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(Foto: Rafael Arbulu/Canaltech)
(Foto: Rafael Arbulu/Canaltech)
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O Uber está buscando criar um equilíbrio maior na segurança dos usuários do seu serviço de transporte. Tanto para o motorista como para o passageiro, a empresa anunciou novas ferramentas de proteção que prometem ampliar a capacidade de prevenção e defesa de problemas inesperados, melhorando — ao menos em teoria — a experiência para ambos no principal negócio da companhia.

No lado do passageiro, dois novos recursos chamam a atenção: o primeiro é a habilidade de relatar problemas em uma viagem mesmo quando ela ainda está em curso. Segundo Sachin Kansal, diretor sênior de gestão de produtos no Uber, a novidade é uma extensão do já conhecido sistema de relato de problemas por parte dos usuários. “Nós nos preocupamos em igual medida com a segurança de nossos parceiros e nossos clientes, então criamos esse sistema de feedback para que vocês o usem imediatamente”. A novidade, inclusive, não tem um prazo fixo para ser utilizada, então mesmo uma corrida onde tudo correu bem pode ser repensada dias depois, adicionando comentários — tanto para o motorista, como para o passageiro.

Também apresentado por Sachin, há um sistema em testes no Chile (que deve chegar ao Brasil “nos próximos meses”) de checagem de identidade via escaneamento de documentos, feito exclusivamente para usuários que não utilizam meios digitais para pagamento de corridas. Contextualizando: quando você paga uma corrida via cartão de crédito ou PayPal, por exemplo, a sua identidade pode ser verificada pela empresa. O mesmo, porém, não é verdade quando o pagamento é feito em dinheiro vivo.

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No caso do Brasil, isso tornou-se um problema, pois muitos motoristas que atendiam corridas para pagamento em dinheiro eram, na verdade, atraídos para a ação de criminosos, que os roubavam. Com a checagem de identidade, que Sachin demonstrou ao vivo durante a apresentação, isso deixa de ser um problema: se o usuário usa um documento falso, a ausência dos registros legais nas bases de dados do governo impedirá o login e, consequentemente, o pedido por uma corrida. Se for verdadeira, um eventual ladrão pode se intimidar de usar o Uber como meio de assalto, já que seus dados serão conhecidos pela companhia.

O foco na segurança permeou todo o evento, com todos os apresentadores falando sobre diversos aspectos dela e como o Uber trabalha o tema. Sachin ainda mostrou novos recursos, como a gravação de áudio, que pode ser utilizada em tempo real por motoristas e passageiros caso alguma situação dentro da corrida os deixe desconfortáveis. Tal recurso deve estrear apenas em dezembro ou além, mas permite que, com um ou dois toques na tela, o áudio seja compartilhado com o Uber para averiguação.

Aqui vale uma anotação importante: antes de qualquer compartilhamento, o arquivo é criptografado e armazenado localmente, no próprio smartphone de quem executou a gravação. A pessoa decide se vai compartilhá-lo ou não e somente aí é que a empresa terá acesso ao conteúdo, interagindo com ambas as partes e orientando-as de acordo.

O executivo também mostrou um recurso exclusivo para motoristas: o monitoramento contínuo via GPS. Por meio dele, pilotos que estiverem online no app — conduzindo uma corrida ou aguardando um chamado — poderão se defender de certos imprevistos: imagine que, no meio do caminho, o motorista sofra um acidente. A frenagem brusca e o tempo excessivo de parada serão identificados pela Uber, que entrará em contato com o profissional para saber se está tudo em ordem. Dependendo do feedback recebido, ações posteriores poderão ser tomadas: a própria empresa poderia, por exemplo, acionar serviços de emergência ou iniciar tratativas com seguradoras.

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Um recurso chamado de Ridesense também foi explicado em maior detalhe: um chamado que saltar ao smartphone do motorista trará informações de contexto da região de onde ele partiu. Por exemplo, se uma região possuir uma alta taxa de desistência ou ser conhecida por ser uma área perigosa, o motorista saberá disso antes de aceitar ou não o pedido, escolhendo aceitá-lo ou não sem ter que dirigir “às cegas”. Ele ressaltou, porém, que a intenção da empresa é a de que todas as áreas sejam atendidas, o que se mostra coerente, por exemplo, com o projeto veiculado pelo Uber no Jardim Heliópolis, uma comunidade carente na zona sul de São Paulo.

Outra função nova é a inserção de um PIN, ou código numérico, por parte do usuário, para evitar certas artimanhas antiéticas de alguns motoristas e proteção ao passageiro: a pessoa que acionar essa opção dentro das configurações do aplicativo poderá criar um código de quatro dígitos para aquela corrida. Após a chegada e confirmação do modelo, cor e placa do veículo, bem como a identidade do motorista, o próprio usuário deverá inserir o PIN no smartphone do profissional e apenas a partir daí é que ele poderá iniciar a corrida em si. Isso serve para duas utilidades: a primeira e mais óbvia é coibir a “malandragem” de alguns motoristas de iniciar a corrida antes de buscar o passageiro (efetivamente aumentando o preço do percurso e, por consequência, seus ganhos); a segunda é impedir que pessoas que estejam se passando pelo motorista possam enganar o usuário de entrar em um veículo com detalhes não correspondentes à apresentação no app.

Vale citar: alguns dispositivos com suporte à interação por indução poderão confirmar esse código sem a sua digitação. Sabe o mecanismo que carrega bateria de um celular utilizando a carga de outro? Mesma situação, aplicação diferente.

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Finalmente, Sachin mostrou uma evolução do sistema de identificação do aplicativo para motoristas: se hoje, você como usuário enxerga a foto do piloto, ele, para se logar no app, terá que fazer algo a mais. Apenas tirar uma selfie não será suficiente e, na demonstração feita pelo executivo, foi-lhe requisitado que executasse algumas ações, como mover a cabeça para os lados, a fim de assegurar que a imagem estava sendo transmitida ao vivo e não fosse, digamos, uma foto comum.

É um sistema bastante similar, por exemplo, ao login facial de aplicativos como o Banco Neon: na fintech, você deve alinhar seu rosto à câmera, mas também piscar para mostrar, basicamente, que você é você. Com o Uber, o mesmo processo se fará presente entre dezembro deste ano e o início de 2020: sem isso, o motorista não abrirá o app, não poderá ficar disponível para receber viagens e, consequentemente, não rodará pela companhia. A ideia é evitar fraudes e isso pode muito bem funcionar, por exemplo, para coibir as chamadas “contas fakes” que foram alvo de investigação e operação da Polícia Civil no Rio de Janeiro, no início da semana.

O diretor do centro de tecnologia da Uber no Brasil, Marcello Azambuja, ressaltou os desafios específicos da América Latina no quesito da segurança pública, ressaltando que todas as novidades anunciadas no evento seriam contempladas por um aumento na equipe dedicada da estrutura da empresa em São Paulo. “Em nosso centro, vamos ampliar em 30% — ou mais 40 pessoas — a nossa força de trabalho”. O centro, informa Azambuja, já atende o serviço de caronas, mas também será expandido para o Uber Eats, a parte de entrega de pedidos e encomendas que concorre com empresas como Rappi e iFood.

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Falando com o Canaltech, Azambuja explicou que, embora existam atribuições específicas para os times do centro de tecnologia, não haverá impedimentos para que as atividades se misturem: “O fato de alguém ter entrado para trabalhar com a parte do ‘Eats’ não o impedirá de atuar no serviço de caronas também. Nossa ideia é sinergizar a experiência, trazendo maior capacidade para motoristas e passageiros”.

O diretor ainda explicou que algumas das soluções apresentadas foram criadas pelo centro da empresa em São Paulo: “a empresa como um todo participa da criação de novas funções, mas somos, antes de tudo, uma marca global. Por isso, algumas particularidades regionais fazem nós tomarmos ou não a dianteira de um projeto”, ele conta, citando como exemplos as parcerias do Uber com a Serpro e o Denatran no Brasil, para checagem de documentação de motoristas e seus veículos.

Outras apresentações foram feitas por Lourdes McLoughlin, ex-agente do FBI e que foi contratada pela empresa para ser a chefe da área de relações com autoridades policiais; e a presidente da Uber no Brasil, Claudia Woods.

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Começando por McLoughlin, foram apresentados dois casos onde o Uber foi capaz de ajudar duas grandes situações de risco: a primeira foi a do atentado terrorista da ponte de Westminster, em Londres, no ano de 2017: a empresa forneceu às autoridades informações de GPS de motoristas que estavam no engarrafamento da ponte durante a ocasião, identificando cerca de 30 pilotos e um deles ainda ofereceu-se para servir de testemunha, por ter não apenas identificado o agressor (suspeita-se de extremismo islâmico), mas gravado o ataque de seu próprio celular, o que levou às autoridades uma de muitas evidências.

O segundo foi o caso de um sequestro de uma criança na cidade de Chihuahua, no México: uma sequestradora roubou um bebê de uma maternidade e tomou um Uber para fugir, em uma corrida que durou meros minutos. A todo tempo, as autoridades locais e a chefia de relacionamento com a polícia no Uber estavam em contato, buscando identificar a mulher por meio dos motoristas em atendimento pela região. Eventualmente, um motorista informou ter visto uma pessoa com um bebê, entrando às pressas em um prédio e que batia com a descrição da polícia. Ela foi presa e a criança, resgatada.

Lourdes ainda apresentou a equipe que ela coordena, que conta com dois representantes no Brasil. Ainda que eles não tenham interagido com os jornalistas presentes, uma visita posterior a um centro de atendimento da empresa em São Paulo mostrou como isso funciona, também por meio de exemplos: em um caso, um homem que já foi motorista do Uber havia sido vítima de latrocínio. Erroneamente mencionada pela mídia, a empresa e as autoridades policiais buscaram atribuir não apenas a identidade da vítima, mas confirmar seus status como profissional. Embora ele de fato já tivesse dirigido em nome do Uber, ele não realizava uma corrida há dois anos. Essa troca de informações é permeada pela empresa e a polícia o tempo todo, partindo do princípio que exista uma questão legal envolvida.

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“Aqui, nós valorizamos a privacidade e segurança do usuário, então absolutamente nada é compartilhado com ninguém salvo por ordem judicial”, explicou o executivo sênior de comunicações de segurança da empresa, Yuri Villacorta. “Já ocorreu, por exemplo, de maridos estarem buscando informações sobre o paradeiro de suas esposas. Imediatamente negamos e cortamos esse tipo de questionamento justamente porque o contexto dessa pergunta foge ao nosso conhecimento”, ele informou. A grosso modo, o que deu-se a entender: imagine um relacionamento abusivo onde a esposa foge ou dispensa o marido, tomando um Uber para isso. Não seria nada bom se a empresa liberasse esse tipo de informação.

O cuidado com a segurança da mulher também foi um assunto amplamente discutido pela presidenta da Uber no Brasil, Claudia Woods. “Mesmo em minha posição de liderança, eu ainda sou mulher, então eu sei o que algumas delas passam nesse ponto. Esse ano, tivemos avanços importantes com os projetos desenvolvidos. Continuaremos a auxiliar no empoderamento econômico feminino e seguir na prevenção à violência de gênero”, ressaltou. A executiva anunciou um investimento de R$ 5 milhões para os próximos três anos, em projetos que envolvem a criação e veiculação de conteúdo educativo sobre abuso em situações de gênero, bem como a renovação de parcerias com entidades não-governamentais com atuação específica na proteção à mulher.

A presidenta ainda exaltou o U-Elas, mecanismo desenhado especificamente para as motoristas mulheres — 3% de todo o contingente de 600 mil motoristas ativos da empresa no Brasil —, que lhes dá o poder de escolher atender apenas “passageirAs”, amplificando as ofertas de segurança para o público feminino.

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O Uber promete que todos os mecanismos anunciados no evento estarão disponíveis até o final do primeiro trimestre de 2020.