Grupos de WhatsApp na Alemanha compartilham propaganda nazista
Por Thaís Augusto | 22 de Abril de 2019 às 10h59
O WhatsApp está se tornando um canal de propaganda nazista na Alemanha. Enquanto usuários compartilham em grupos adesivos e correntes de apoio à ideologia de extrema-direita, a empresa não toma nenhuma ação para impedi-los. As informações são do BuzzFeed News e foram divulgadas na última quinta-feira (18).
A reportagem acompanhou nove grupos de WhatsApp desde outubro do ano passado. Entre as mensagens estão símbolos que glorificam o Terceiro Reich e Adolf Hitler, imagens profundamente antissemitas criadas usando a função "adesivo" do WhatsApp e mensagens que buscam incitar violência e ameaças contra esquerdistas ou refugiados.
Vale lembrar que, na Alemanha, leis locais proíbem o uso de imagens nazistas. De acordo com o BuzzFeed News, os grupos têm nomes como "The German Storm" e "Ku Klux Klan International". Não são poucas as pessoas que participam dessas conversas: os grupos comportam entre 90 e 250 usuários – limite estabelecido pelo WhatsApp.
Desde que o aplicativo de mensagens introduziu a função de adesivos na Alemanha, o Fórum Judaico pela Democracia e Contra o Anti-Semitismo, um grupo de defesa baseado em Berlim, vem chamando a atenção para o aumento dos adesivos com temática nazista. "Assim que o WhatsApp possibilitou a criação e o uso de adesivos, os extremistas de direita inundaram as conversas em grupos com o simbolismo nazista", escreveu o grupo em outubro, perguntando à plataforma como isso poderia ser evitado no futuro.
Na época, um porta-voz da empresa declarou: "Esses adesivos antissemitas são inaceitáveis e não os queremos no WhatsApp. Condenamos veementemente o ódio. Se um usuário receber um adesivo com conteúdo ilegal, pedimos para denunciá-lo ao WhatsApp".
A função de adesivos permite que os usuários escolham imagens pré-criadas para anexar em suas conversas. É possível criar as próprias figurinhas a partir de aplicativos terceiros.
Procurado pelo Canaltech, o WhatsApp disse que repudia fortemente a manifestação de ódio. "Como serviço de mensagens, não temos acesso às mensagens privadas que as pessoas compartilham nem fornecemos uma função de pesquisa no WhatsApp para encontrar grupos. Também facilitamos o processo pelo qual nossos usuários podem relatar um problema ao WhatsApp para ajudar a manter nossa plataforma segura".
O WhatsApp, uma empresa do Facebook desde 2014, tem lutado para conter a desinformação e o racismo em sua plataforma nos últimos anos. É um problema especialmente incisivo na Alemanha, onde, após a Segunda Guerra Mundial, o estado aprovou leis rigorosas contra o uso ou disseminação de imagens, slogans e propaganda nazistas.
Nos últimos meses, uma mensagem compartilhada em vários grupos nazistas do mensageiro começa com as palavras: "Você foi Hitlered. Hitler pelo menos mais cinco pessoas ou em 88 dias um judeu faminto de dinheiro roubará todo seu dinheiro e o estuprará".
"Envie esta mensagem para todos que você conhece e contribua para a Operação White Christmas", continua, seguida por uma enorme suástica e outra imagem de Adolf Hitler. "Para cada pessoa que você encaminha esta mensagem, um imigrante é enviado para seu país de origem".
Em um dos grupos do WhatsApp – que tinha mais de 200 membros –, onde a mensagem foi compartilhada, muitos usuários responderam imediatamente com risos e o emoji ?. Para os participantes, é uma maneira digital de enviar uma saudação nazista.
O BuzzFeed News catalogou mais de 200 adesivos diferentes do WhatsApp que exibem conteúdo incitante, violento ou antissemita. Alguns adesivos mostram símbolos proibidos pela lei alemã, incluindo a insígnia da SS, certas bandeiras e suásticas.
O advogado de mídia alemão Christian Solmecke disse ao BuzzFeed News que os usuários que enviam imagens proibidas em grupos fechados do WhatsApp não serão punidos pelas autoridades. "Mas se a imagem for enviada para um grupo do WhatsApp com muitos membros, dependendo do tamanho do grupo, ela pode rapidamente se tornar uma ofensa criminal".
Em pelo menos um caso, a distribuição de símbolos SS proibidos ou slogans no WhatsApp teve consequências legais. Em 2017, um jovem de 14 anos foi condenado por espalhar propaganda nazista, conforme relatou o jornal Süddeutsche Zeitung. Os pais do adolescente descobriram conversas no celular de seu filho, onde os participantes zombavam dos judeus ou glorificavam a SS, e informaram à polícia.
O ódio nos grupos é frequentemente direcionado para múltiplos alvos abrangentes, incluindo judeus e muçulmanos, assim como imigrantes, relatou a reportagem do BuzzFeed News. Só nos últimos meses, os grupos espalharam o número de telefone de 30 pessoas para que elas fossem ameaçadas e assediadas.
David Begrich, que estuda o extremismo de direita, disse ao BuzzFeed News que grande parte das imagens que estão sendo divulgadas está sendo feita por jovens que tentam ultrapassar os limites do que é aceitável uns com os outros. Ele vê dificuldade em tentar controlar o conteúdo de um serviço de mensagens. "Você também precisa se perguntar se deseja que o WhatsApp controle realmente o conteúdo de chats que são particulares".
Fonte: BuzzFeed News