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Como um app do Google vai identificar origem de madeiras extraídas da Amazônia?

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 05 de Abril de 2023 às 13h00

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Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
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O Google fechou uma parceria com a The Nature Conservancy (TNC) para desenvolver um aplicativo capaz de identificar e rastrear a origem da madeira extraída da Amazônia. A tecnologia usa uma mistura entre inteligência artificial e bioquímica para identificar as "impressões digitais" das árvores.

Esse app teria uma interface para empresas interessadas em saber qual é a procedência da madeira adquirida. Ainda não está definido como isso vai funcionar para o público, se por escaneamento com a câmera do celular ou com a inserção de dados, como mostra o GIF abaixo, mas a aplicação pode reduzir a exploração ilegal da indústria madeireira.

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Usuários comuns também poderão usar o app, embora ele não deva ter tanta utilidade assim no cotidiano. O principal uso poderia ser na identificação da origem da madeira usada na construção do móvel da sua sala ou da cadeira de jantar, por exemplo.

O projeto, chamado Digitais da Floresta, deve receber uma doação de R$ 5,4 milhões do Google, sendo metade em dinheiro e a outra metade em créditos do Google Ads para divulgação. Há também outros parceiros envolvidos na ação para transformar o app, ainda sem nome definitivo, em realidade.

Como funciona a “impressão digital” das árvores?

Em cada local, a composição da água da chuva é diferente, o que impacta também no solo. As plantas retiram os nutrientes da água e do solo e herdam as características dos isótopos, sendo possível rastreá-los com algumas técnicas.

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“Durante a vida, as árvores absorvem a água e outros elementos químicos, principalmente do solo e acabam apresentando uma composição isotópica semelhante à do local onde vivem. É uma espécie de ‘impressão digital’ única. É assim que a iniciativa buscará identificar de onde vem a madeira”, explica a Diretora Executiva da TNC Brasil, Frineia Rezende.

Segundo o professor Luiz Antônio Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da USP, essa metodologia de impressões digitais é inviolável. Funciona de maneira parecida com a digital dos humanos, mas permite saber o local de onde veio a madeira devido às características do bioma.

Isso evitaria, por exemplo, que invasores derrubem árvores de áreas de preservação ambiental ou pertencente a povos originários. Muitos madeireiros aproveitam as áreas próximas às extremidades das demarcações para extrair árvores dali, o que poderia confundir as autoridades.

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“Hoje, nós criamos um modelo de identificação que analisa a composição isotópica das árvores, baseada em carbono, oxigênio e nitrogênio. Se isso não for suficiente para identificar árvores em regiões limítrofes, como em áreas de preservação ambiental, podemos filtrar ainda mais esses dados com outros elementos químicos. Quanto mais amostras de árvores tivermos, mais precisa será a mensuração”, explicou.

Como tirar o app do papel?

O Google deve entrar como um importante parceiro ao fornecer sua infraestrutura do Google Cloud e todo o poder computacional sustentável da iniciativa. A Big Tech ainda se comprometeu a oferecer 13 especialistas das áreas de desenvolvimento, design, interface do usuário, geolocalização e inteligência artificial para contribuir com o app.

A ideia ainda está em fase inicial e contará com diversos parceiros para ter sucesso, como a Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e a Trase. Cada um desses atores terá uma finalidade na construção do app.

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O Imaflora fica responsável por fazer a extração das árvores, que podem ser feitas a partir das já derrubadas pelos madeireiros ou por meio do corte sustentável. Os especialistas desenvolvem uma maneira de conseguir extrair todas as informações apenas removendo uma parte da planta, sem precisar derrubá-la.

A Trase entra no segmento de rastreabilidade para oferecer certificações da origem da madeira. Empresas que fazem a extração legal devem ser certificadas para diferenciá-las no mercado daquelas cuja origem é clandestina ou incerta.

Já a USP, como mencionado, fica responsável pela análise bioquímica das madeiras, como já fizeram com 250 amostras extraídas de 20 biomas mais “valiosos” para os vendedores ilegais. Os estudiosos da universidade devem trazer seu conhecimento técnico para criar a modelagem definitiva de identificação das footprints.

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Exploração de madeira é caso grave

Segundo o estudo da Rede Simex, feito a partir de imagens de satélites, cerca de 40% da madeira extraída da Amazônia vem de áreas não autorizadas. O levantamento mapeou manchas e fez o comparativo com IA das imagens coletadas entre agosto de 2020 e julho de 2021.

O número chama a atenção por demonstrar como a derrubada de florestas pode alimentar uma indústria clandestina que destrói a Amazônia. A TNC Brasil afirma que, em todo o mundo, empresas e consumidores pressionam as fornecedoras a produzir carne, soja e outros produtos em áreas livres de desmatamento.

O maior desafio a ser combatido hoje é a diferença de preço, visto que madeiras e demais produtos vindos de fontes irregulares costumam ser comercializadas por um valor menor. Com um aplicativo que denuncie as fontes ilegais, as fabricantes devem ter maior receio de usar material irregular, afinal poderia ser exposto publicamente e prejudicar a imagem da companhia.

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O projeto do Google ainda não tem data para ser lançado, pois está na fase inicial e pode levar anos para se tornar realidade. Somente após a coleta de árvores de toda a região amazônica e do desenvolvimento de um algoritmo é que a solução deve chegar ao mercado para todos.