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Como o Telegram ganha dinheiro para se sustentar?

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 24 de Dezembro de 2021 às 15h00

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Igor Almenara/Canaltech
Igor Almenara/Canaltech
Tudo sobre Telegram

O Telegram é um programa de mensagens criado em software livre que não tem nenhuma forma de ganho financeiro baseado em mercado. Diferentemente de outras plataformas, ele não tem uma megacorporação por trás, não veicula propagandas nem vende dados dos usuários para arrecadar dinheiro, por isso muita gente se pergunta: como o Telegram ganha dinheiro?

Atualmente, o Telegram sobrevive graças a doadores e fundos criados especificamente para a manutenção do programa. Boa parte da verba do mensageiro vem do próprio CEO, o russo Pavel Durov, empreendedor global que fundou a maior plataforma de rede social da Rússia, a VK. Como dizia viver sob constante vigilância do governo russo, Pavel queria desenvolver uma ferramenta para as pessoas se comunicassem com segurança e privacidade.

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Ele então pegou boa parte dos recursos arrecadados na VK para injetar no Telegram. A prova disso é que a rede conseguiu manter tudo em funcionamento desde 2013, quando o primeiro protótipo do app surgiu, até 2018 apenas com seu próprio investimento e com doações de usuários.

Investimentos necessários

Com o aumento da base de pessoas usando o app, obviamente houve o crescimento dos custos necessários para manter o sistema, como a ampliação da infraestrutura de servidores e o investimento na criação de novos recursos. Segundo o CEO, são necessárias "algumas centenas de milhões" de dólares por ano para manter as atividades.

Em razão disso, o app arrecadou cerca de US$ 2,7 bilhões em duas rodadas de financiamento junto a empresas especializadas em financiar projetos de tecnologia. Segundo o Crunchbase, os investidores mais notáveis incluem Oyster Ventures, Dalma Capital, ARK Fund e Abu Dhabi Catalyst Partners, bem como principal injetante de dinheiro Mubadala Investment.

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Em março de 2021, o Telegram arrecadou US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,7 bilhões em valores atuais) na venda de títulos para investidores estrangeiros. Deste montante, US$ 150 milhões vieram do fundo soberano Mubadala e do Abu Dhabi Catalyst Partners em títulos conversíveis de 5 anos pré-IPO — modelo de investimento sobre empresas que ainda não abriram seu capital na bolsa.

Como até hoje nunca avançou um projeto de abertura de capital, os montantes arrecadados e modelos de operação do Telegram se mantêm em sigilo corporativo.

Tentativa de criar renda recorrente

No intuito de gerar alguma receita fixa, o aplicativo planeja introduzir alguns planos premium voltados para quem deseja utilizar o Telegram para os negócios. A estratégia de monetização é parecida com a adotada pelo WhatsApp no lançamento da versão Business, de cobrar taxas das médias e grandes empresas que desejam recursos exclusivos.

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Outra maneira pela qual o Telegram pode monetizar seu serviço é por meio de adesivos pagos com “recursos expressivos adicionais”. “Os artistas que fizerem adesivos desse novo tipo também terão uma parte do lucro. Queremos que milhões de criadores baseados no Telegram e pequenas empresas prosperem, enriquecendo a experiência de todos”, explicou Durov.

Em 2021, a plataforma anunciou um modelo de anúncios diferente do tradicional, voltado para grandes grupos com mais de mil pessoas. O Telegram Ad Platform, como foi batizado, permitirá que pessoas e empresas levem publicidade para canais públicos, mas sem interferir em conversas privadas ou na privacidade dos usuários. Essas “mensagens patrocinadas” devem ter ligação com a temática discutida nos grupos e gerarão receita para mensageiro e para os administradores.

Para evitar os anúncios que em breve chegarão à plataforma, usuários poderão optar por uma assinatura paga “baratinha”, anunciou o CEO Pavel Durov em um de seus canais do mensageiro. Ainda não está claro qual seria o valor, mas possivelmente seria uma nova fonte de renda extra.

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Tentativa de entrar no mundo cripto

Em 2019, o Telegram chegou a cogitar o lançamento da plataforma na blockchain para arrecadar dinheiro com a venda de tokens e oferecer pagamentos pelo app. Duas semanas antes da estreia, marcada para 31 de outubro de 2019, a Securities and Exchange Commission (SEC) dos EUA, órgão equivalente à Comissão de Valores Mobiliários, barrou a transação.

O regulador afirmou que o Telegram nunca registrou sua oferta na SEC e, embora ainda tivesse levantado "apenas" US$ 425 milhões (dos US$ 1,7 bilhão no total) de investidores sediados nos Estados Unidos, a operação precisou ser cancelada. Após uma decisão judicial desfavorável, em maio de 2020, o Telegram abandonou o projeto por completo depois que não conseguiu chegar a um acordo.

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Fundação Telegram

Para permanecer fiel à missão do projeto, de não aceitar nenhum tipo de investimento externo ou fonte de receita recorrente, a companhia optou por atuar em formato de fundação, na qual doações de usuários ou de investidores-anjo mantêm o projeto em funcionamento. Hoje o Telegram funciona em um modelo bem parecido com os de Wikipedia, da Wikimedia Foundation, e Firefox, da Mozilla.

“Não vamos vender a empresa como os fundadores do WhatsApp. O mundo precisa do Telegram para permanecer independente como um lugar onde os usuários são respeitados e um serviço de alta qualidade é garantido”, escreveu o criador do app.

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“O Telegram começará a gerar receita a partir do ano que vem. Faremos isso de acordo com os nossos valores e os compromissos que assumimos nos últimos sete anos. Graças à nossa escala atual, seremos capazes de fazer isso de uma forma não intrusiva. A maioria dos usuários dificilmente notará qualquer mudança”, garantiu Durov em seu canal.

Embora tenha seus planos para tentar se sustentar sem depender do dinheiro de terceiros, um dos programas de bate-papo mais populares do mundo se mantém na base da confiança dos seus apoiadores. É um modelo arriscado, mas que se mostrou válido até hoje, possivelmente uma das razões pelas quais o Telegram é o queridinho de tanta gente.

Fonte: CrunchBase, Pavel Durov