Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

#BrequeDosApps: a paralisação dos entregadores dos aplicativos ganha o Brasil

Por| 01 de Julho de 2020 às 07h40

Link copiado!

Fábio Vieira/FotoRua
Fábio Vieira/FotoRua

Se você não estava passando a sua quarentena em Netuno, deve saber que no dia 1º de julho (quarta-feira) haverá uma paralisação dos entregadores de aplicativos como iFood, Uber Eats, Rappi e Loggi, entre outros. A greve atingirá diversas cidades do Brasil nas quais os apps atuam.

O movimento vem sendo organizado durante todo o mês de junho, por meio de grupos de WhatsApp, sem uma liderança centralizada. Cada cidade conta com organizadores mais atuantes na paralisação, que vêm combinando com os respectivos participantes como se dará a paralisação. A partir da hashtag #BrequeDosApps, a greve vem ganhando não apenas as redes sociais, mas permitindo que entregadores de todo país se comuniquem e narrem seus sufocos nas exaustivas jornadas de entregas de refeições, compras e produtos, amplificadas pela pandemia da COVID-19.

O movimento cresceu de tal forma que ganhou adesão não só no Brasil, mas, também, em outros países da América Latina, como Colômbia, Argentina e Chile.

Continua após a publicidade

O que querem os entregadores

As reivindicações dos entregadores dos apps não são exatamente uma novidade e elas já vêm de longe. Entre elas estão:

Aumento do valor mínimo da corrida

Continua após a publicidade

A reivindicação dos entregadores é que os apps aumentem o valor mínimo das entregas, para compensar o deslocamento tanto dos proprietários de motos, quanto de bicicletas.

Seguro de roubo e acidente

Os entregadores pedem seguro contra roubo de seus instrumentos de trabalho, bem como um seguro que forneça uma compensação financeira em caso de acidente de trabalho.

Aumento do valor por km percorrido

Continua após a publicidade

A pandemia da Covid-19 fez com que a demanda dos serviços de entrega disparasse, o que inclui, claro, o lucro das empresas donas dos aplicativos. No entanto, os entregadores afirmam que nenhum tipo de reajuste foi repassado para eles, apesar do aumento no número de pedidos.

Auxílio-pandemia

Os entregadores pedem não apenas a distribuição de EPIs, como máscaras e álcool gel, como também licença remunerada caso eles sejam contaminados pela Covid-19

Fim do sistema de pontuação (no caso do Rappi)

Continua após a publicidade

Esse talvez seja um dos pontos mais polêmicos quando o assunto é a greve dos entregadores, principalmente porque envolve um dos aplicativos mais populares e usados do mercado: o Rappi.

O Canaltech conversou com Alessandro "Sorriso", um dos líderes da paralisação em Brasília. Segundo ele, esse sistema de pontuação força o entregador a rodar só para um determinado aplicativo, para acumular pontos. "Antigamente, o aplicativo acionava quem estivesse mais perto do estabelecimento e hoje, ele só aciona quem tem maior pontuação", afirmou Sorriso. "Ele não leva mais conta se você está perto do mercado ou restaurante, por exemplo. Então, se eu estiver do outro lado de Brasília e sou acionado, preciso me virar pra cruzar a cidade pra chegar no local".

Esse sistema traz ainda outras desvantagens. Uma delas é o não pagamento do deslocamento do local onde o entregador está até o estabelecimento, quando ele é acionado:

"Eles não pagam o deslocamento do ponto em que o entregador está até o restaurante, por exemplo. Eles pagam apenas do restaurante até a casa do cliente", explica Sorriso. E muitas vezes, eu preciso percorrer 10km pra chegar até o estabelecimento, sem receber nada. E quando vou fazer a entrega, percorro apenas 3 km. Ou seja, ganho apenas por esses 3km. Eu pago para trabalhar".
Continua após a publicidade

Para completar, Sorriso explica que quanto mais tempo o entregador fica desconectado do app, mais ele é penalizado, com a sua pontuação sendo diminuída. Com isso, ele acaba sendo preterido nos pedidos de entrega em relação a quem tem pontuação melhor.

O Canaltech entrou em contato com a Rappi pedindo maiores esclarecimentos sobre seu sistema de pontuação. No entanto, até o fechamento dessa reportagem, a empresa não se manifestou. Atualizaremos esta matéria tão logo ela se posicione.

O site também entrou em contato com Uber Eats e iFood, que afirmaram não utilizar tal sistema. O primeiro declarou que em seu aplicativo "os valores são determinados por uma série de fatores, como a hora do pedido e distância a ser percorrida". Já o segundo disse que "também não possui um sistema de ranking e nem de pontuação. O algoritmo de alocação de pedidos leva em consideração fatores como, por exemplo, a disponibilidade e localização do entregador e distância entre restaurante e consumidor".

Paralisação renderá até um documentário

Continua após a publicidade

A precariedade das condições de trabalho dos entregadores vem chamando tanto a atenção, que vai virar até mesmo um documentário. Trata-se do Pandelivery - Quantas vidas vale o frete grátis, que mostrará a rotina e, claro, os sufocos pelos quais passam os entregadores de aplicativos em São Paulo - maior mercados para essas empresas.

O documentário será produzido pela Solalma Production Co., sendo dirigido por Guimel Salgado e Antonio Matos e está programado para ser lançado no final de julho deste ano. Em entrevista ao blog Ciclocosmo, Salgado afirma:

“Quando o coronavírus chegou, decidimos abrir mão da ficção e ir a campo registrar a realidade, ela já era o suficiente”, explica. “O que pensa um entregador voltando pra casa? Ele bateu sua meta? Como deve ser levar algo de que nunca desfrutará para um lugar onde, provavelmente, nunca terá condições de morar? Essas questões sempre me assombraram, e mostrar essa realidade seria uma crítica a meu próprio uso desses apps.”

Confira abaixo o trailer do documentário:

Continua após a publicidade

O que dizem os aplicativos

O Canaltech entrou em contato com Uber Eats, Rappi e iFood pedindo seus respectivos posicionamentos a respeito da paralisação e das condições denunciadas pelos entregadores. O iFood foi o único a se manifestar. Confira abaixo:

Continua após a publicidade

Tão logo Rappi e Uber Eats se posicionem, atualizaremos essa matéria.

Essa paralisação não será a única

Em nome da sobrevivência, se os entregadores não podem se dar ao luxo de prolongar a paralisação por mais de um dia, eles sabem também que é possível promover essa iniciativa mais de uma vez por ano.

Por isso, já planejam outras ações do gênero até o final de 2020. "Estamos organizando outras paralisações ao longo do ano. Não conseguimos ficar mais de um dia parados, mas já estamos planejando a próxima", afirma Sorriso. "Dessa vez, os apps não nos procuraram para negociar e estão desmentindo a todos os comerciantes sobre as condições de trabalho que estamos denunciando". O entregador afirma ainda que todos os movimentos de paralisação em Brasília são organizados pela Associação dos Motoboys Autônomos e Entregadores do Distrito Federal (AMAEDF).

Continua após a publicidade

Sorriso finaliza: "Pedimos à população - que não sabe direito sobre os perrengues que passamos - que nos apoie, não fazendo pedidos nessa quarta-feira. Nós corremos todos os dias por vocês. Fiquem parados apenas um dia pela gente".