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Samsung quer usar o vácuo da Huawei para aumentar sua participação no 5G europeu

Por| 18 de Dezembro de 2020 às 09h35

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DennisM2/Wikimedia
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Não é só nos EUA e Brasil que a Huawei está enfrentando problemas para emplacar seus equipamentos para a montagem das redes 5G. Na Europa, diversos países vêm evitando utilizar seus produtos para montar suas infraestruturas da quinta geração de internet móvel. E as operadoras de telefonia móvel do Velho Continente começam a considerar a Samsung como fornecedora para preencher o vácuo deixado pela fabricante chinesa.

Segundo reportagem da agência de notícias Reuters, duas operadoras europeias, a Telefónica (Espanha) e a Orange (França) iniciaram conversas com a Samsung sobre o fornecimento de equipamentos para o seu 5G. Isso ocorreu depois que a fabricante sul-coreana, inesperadamente, fechou um acordo de US $ 6 bilhões com a gigante americana Verizon em setembro último.

Assim como acontece no Brasil, as operadoras europeias estão sob pressão dos Estados Unidos para evitar uso de equipamentos da Huawei em suas redes 5G. O governo de Donald Trump diz que há o risco de a fabricante chinesa espionar os cidadãos ocidentais sob as ordens do governo chinês. No entanto, não existe nenhuma prova de que isso ocorra, de fato. E, claro, a Huawei negue tais práticas com veemência.

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No entanto, abrir mão da Huawei em suas redes 5G traz um problema gigantesco para as operadoras europeias: assim como ocorre no Brasil, o hardware da companhia chinesa representa quase metade da rede 4G do continente. E essa estrutura formará a base do 5G, ao lado da finlandesa Nokia e da sueca Ericsson.

Há compatibilidade?

Além disso, para conseguir aumentar sua participação no mercado europeu, a Samsung precisa superar um problema que, talvez, não contornável: as operadoras temem que os produtos da companhia não sejam compatíveis com as redes 4G existentes construídas pela Huawei. E substituir tudo custará centenas de milhões - talvez bilhões - de euros para as operadoras. Isso porque o processo exige a retirada dos dispositivos e sua substituição. Com a permanência da Hauwei, boa parte dessa atualização se daroa através de software.

Quando a Bell Canada decidiu deixar a Huawei ainda nesse ano, analistas estimaram o custo de substituição de seus equipamentos 4G custariam cerca de US$ 200 milhões ao longo de vários anos.

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Eles precisam ser extremamente competitivos”, disse o diretor de tecnologia da Telefonica, Enrique Blanco a Reuters. “O custo de trocar o 4G é um custo extra para a Samsung, então, mesmo que você esteja convidando a empresa, é difícil para eles serem competitivos.”

Um porta-voz da Samsung disse que a ideia de que seu equipamento não seja compatível com a infraestrutura existente é um equívoco. No entanto, ele não forneceu detalhes técnicos. E também se recusou a especificar em quais mercados europeus está tentando entrar, mas afirmou que espera replicar os avanços que fez na Ásia e nas Américas.

A Verizon está usando a Samsung para várias partes de sua vasta rede nos Estados Unidos. Segundo Nicola Palmer, diretor de desenvolvimento de produtos da operadora, foram feitos alguns testes com a Samsung "e lhes proporcionamos alguns mercados para ver como funcionariam e, então, funcionou bem”.

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Negociações e dúvidas

Michael Trabbia, diretor de tecnologia e inovação da Orange, disse a Reuter que também está considerando a possibilidade de usar a Samsung na Europa. Os dois países europeus onde a operadora francesa ainda não escolheu um fabricante de equipamentos são a Polônia e a Romênia.

“Podemos ver que a Samsung está se tornando cada vez mais confiável em 4G e 5G”, afirmou o executivo. Mas ele disse que a Orange testou equipamentos Samsung e Huawei antes de optar pela Nokia e Ericsson para seus sistemas 5G na França.

O fato é que as operadoras europeias já gastaram bilhões de euros para implantar redes de fibra óptica em todo o continente e o 5G vai exigir ainda mais investimentos. Segundo a GSM Association (GSMA) - organização do setor de telecom que representa os interesses das operadoras de redes móveis em todo o mundo - espera-se que US $ 1,14 trilhão sejam investidos globalmente ao longo de cinco anos. E 78% desse total será no 5G.

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Citando uma fonte do setor de telecomunicações, a Reuters afirma que a Samsung “ainda não chegou lá”, mas pode ser uma opção no futuro.


No entanto, ainda existem muitas dúvidas sobre a capacidade de entrega da fabricante sul-coreana. A Deutsche Telekom, maior operadora de telefonia móvel da Europa, permanece cética se a Samsung pode ser competitiva no curto prazo, de acordo com fontes da empresa e documentos internos.

E mesmo sem a presença da Huawei, analistas de mercado também dizem que a Samsung terá de fazer muito mais para competir com a Nokia e a Ericsson dentro da Europa, onde ambas tem participação relevante no setor.

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“Se eles conseguirem um acordo com a Deutsche Telekom ou Telefonica, eles precisam de uma grande organização para construir e dar suporte à infraestrutura já existente”, disse Kimmo Stenvall, analista da OP Markets Helsinki. “Eles não podem simplesmente enviar suas ofertas para operadoras europeias e, em seguida, começar a construir redes aqui.”

Um porta-voz da Samsung disse que ela tem uma forte equipe de Redes, bem como centros de pesquisa na Europa. Mas Stenvall disse que grandes negócios geralmente pressupõem anos de trabalho de base para formar relacionamentos com operadoras e testar redes.

“As operadoras não podem sofrer nesse processo”, disse Blanco, da Telefonica. “Precisamos manter nossas capacidades de entrega.”

Reino Unido deu a largada

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Mais importante mercado europeu a anunciar que banirá a Huawei de suas redes de telecomunicações, o Reino Unido estipulou uma data definitiva para que a fabricante chinesa não faça mais parte de sua infraestrutura: as operadoras locais não poderão mais instalar equipamentos da marca em suas redes 5G a partir do final de setembro de 2021. Antes, esse prazo era janeiro do ano que vem.

As autoridades públicas britânicas liberaram um novo roteiro que deve ser obedecido pelas teles. O documento apresenta as etapas que as empresas de telecomunicações precisarão seguir e implementar nos próximos anos, com o objetivo de remover fornecedores considerados de "alto risco" de suas redes. E há ainda um cronograma especifico para eliminar a Huawei da futura infraestrutura 5G do país.

O novo prazo, provavelmente, resolverá as preocupações de que as operadoras possam estocar equipamentos da Huawei antes de janeiro de 2021 para instalá-los mais tarde.

Com isso, as grandes operadoras já iniciaram o processo de transição. Nos últimos meses, o BT Group, que é líder de telecomunicações na região, assinou parcerias com a Nokia e a Ericsson, que juntas cobrirão a implantação das redes 5G da empresa. Embora o novo prazo para instalação de equipamentos Huawei possa acelerar alguns planos, é improvável que ocorra uma interrupção em grande escala.

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Fonte: Reuters