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Covid refresca nossa memória digital

Por| 27 de Abril de 2022 às 10h00

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Martin Sanchez/Unsplash
Martin Sanchez/Unsplash

As notícias dos últimos dias têm sido difíceis: a covid-19 recusa-se a morrer. Como a fênix, quando aparentemente está em cinzas, renasce mais forte para trilhar seu caminho. As consequências desse ressurgimento da doença deixam várias lições que vão desde o planejamento estratégico e logística dos sistemas de saúde, até decisões de políticas públicas ressaltando a importância em se reagir rapidamente a situações deste tipo, mesmo que com este vírus tenha ocorrido um aviso prévio de 24 meses de antecedência.

Outro aspecto importantíssimo na discussão sobre como lidar com a pandemia, sem aumentar o sofrimento econômico das famílias mais vulneráveis, é entender como utilizar meios alternativos para realizar as mesmas tarefas. Diante desse cenário, muitos dirão que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) são essa ferramenta, e que tudo se resolve apenas aumentando sua cobertura e acesso.

No entanto, a realidade e a experiência nos traz importantes lições em muitas ocasiões. Sim, a tecnologia foi integrada na cadeia de valor de inúmeras microempresas, mas não superou completamente a realidade que a precedeu. Quem antes vendia hortaliças, agora pode receber pedidos por mensagens de texto, mas o envio é feito com alguém em trânsito, caminhando (às vezes correndo), de bicicleta e, em casos raros, de carro (no âmbito das microempresas). O mundo em que os pedidos de pizza ou hambúrguer são entregues por drone ainda está longe de se tornar uma realidade corriqueira.

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Outro lembrete deixado pelo ressurgimento do vírus é a necessidade de oferecer à população soluções e informações por meio de aplicativos que facilitem a burocracia, descongestionando as longas filas para retirada ou solicitação de documentos em escritórios e sedes governamentais. Embora tenham sido observados avanços na América Latina nessa área, eles foram assimétricos com alguns governos muito mais avançados do que outros em relação à digitalização de procedimentos oficiais.

Talvez o maior obstáculo percebido na região, em diversos mercados, seja a falta de divulgação por parte das autoridades das diferentes plataformas de governo eletrônico que foram disponibilizadas para uso dos cidadãos. Como diz o velho ditado, o que não é conhecido, não existe. De que adianta ter as melhores soluções de governo eletrônico do mundo, se a grande maioria da população não sabe que elas existem ou não tem como se conectar a elas?

Por outro lado, a necessidade de facilitar os procedimentos aos cidadãos tem levado estados, departamentos e províncias a aprimorar e ampliar seus esforços de aproximação com a população no meio digital. Exemplo disso é a evolução de portais meramente informativos para páginas que executam transações.

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Os comentários fazem parte de um esforço que começou há quase dois anos na região, quando o coronavírus mal era avistado e os governos começaram a implementar medidas para garantir a conectividade das pessoas durante os meses da pandemia — especialmente para evitar falta de pagamentos. Nesse mesmo período, embora menos divulgados, outros esforços foram feitos para verificar a resiliência das redes de telecomunicações existentes. O objetivo era ver se aguentavam os aumentos de tráfego que uma quarentena poderia exigir das ligações de banda larga fixa às residências.

Outras questões recorrentes no mundo das telecomunicações também foram abordadas em paralelo. Entre elas, flexibilizar ou digitalizar as licenças necessárias para a implantação de infraestrutura, como fizeram os municípios de Campinas (SP) e Porto Alegre (RS), ou viabilizar licenças temporárias para acesso ao espectro radioelétrico em mercados da América Central, como no Panamá.

Infelizmente, a história parece ter parado nos mercados em que é preciso alocar espectro radioelétrico na América Latina — os países da América Central. Resolver uma falha do sistema através da concessão de licenças temporárias de acesso ao espectro radioelétrico não se tornou objetivo das administrações regionais. Em alguns desses mercados, parte do problema se deve à desconexão entre as aspirações de cobrança dos governos e os planos de investimento das operadoras móveis.

Uma abordagem que pode servir para reflexão sobre o setor foi a que passou na Colômbia. A pandemia também serviu para validar a estratégia pré-covid do país. Enquanto os países da região disputavam a liderança da mídia nos avanços rumo à 5G, os colombianos fizeram uma introspecção e admitiram que os esforços empenhados para adotar a 4G e e se tornarem líderes regionais dessa tecnologia não surtiram o efeito esperado. Em vez de chorar lágrimas de sangue, a Colômbia aprendeu com as lições do processo de 2013 e com seus fundamentos (que não foram poucos), iniciando uma estratégia para acelerar a adoção da 4G em nível nacional pelo mercado de massa, que deve ser concluída em 2024.

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Enquanto a adoção da 4G acelera (uma tecnologia de banda larga móvel que, com espectro suficiente, pode atingir velocidades de pico de mais de 500 Mbps), começam os trabalhos voltados a iniciativas para promover gradualmente a adoção da 5G no mundo dos negócios na era covid. Talvez a abordagem colombiana deva servir de exemplo para aqueles mercados com operadoras que não estão confortáveis ​​em promover uma implantação acelerada e rápida da 5G porque não consideram que o mercado de massa está pronto para isso. Somam-se a esse ponto os diferentes desafios gerados com a adoção dessa tecnologia, como as complicações na obtenção de licenças de implantação de infraestrutura, os altos preços de uso do espectro radioelétrico (especialmente no Equador e no México) e o custo dos telefones celulares que operam com essa tecnologia.

Melhor promover a adoção acelerada da 4G, tomar ações para que a qualidade e cobertura dessas redes melhorem, criar soluções que justifiquem a migração dos usuários para esses planos de dados e, simultaneamente, criar uma estratégia de promoção da 5G que seja vista positivamente pelos setores produtivos da economia. Como mostra o caso da Costa Rica, as empresas dedicadas à exportação de produtos de alta tecnologia querem a chegada da 5G o mais rápido possível, uma chegada que não tem uma grande cobertura geográfica para atender às suas necessidades.

A maldita covid-19 voltou e, com ela, muitas das iniciativas que foram formuladas para mitigar seu impacto retornarão. O que é preciso no mundo das telecomunicações é tornar permanentes muitas destas soluções para que, quando o próximo desafio vier, estejamos mais bem preparados. De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, cada mês durante a pandemia representa um ano de conhecimento para as autoridades de políticas públicas sobre a importância das TICs no desenvolvimento de um país. A um custo muito alto, ganhamos praticamente um quarto de século na consciência de que esse conhecimento não é desperdiçado e que políticas públicas que correspondam ao nível de desenvolvimento do mercado podem ser estabelecidas, sempre com a colaboração dos diferentes atores.

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Não esqueçamos que qualquer estratégia de país para 5G dependerá do lançamento da tecnologia pelas operadoras de telecomunicações e, para que isso aconteça, tal lançamento tem que fazer sentido do ponto de vista financeiro para que a oferta seja de longo prazo.

Esta coluna é escrita em caráter pessoal.