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Entrevista: Path, a rede social para 'poucos e bons'

Por| 23 de Agosto de 2013 às 13h29

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Entrevista: Path, a rede social para 'poucos e bons'
Entrevista: Path, a rede social para 'poucos e bons'

* Em São Francisco, EUA

Em um terraço com vista para a Golden Gate, no centro de São Francisco, Califórnia, um grupo de 55 funcionários responde pela operação do Path, a rede social para poucos amigos. Sim! Nesta espécie de Facebook às avessas, só é possível estabelecer o máximo de 150 conexões – algo que vai radicalmente contra a superexposição e a coleção de milhares de "figurinhas amigas" da rede de Zuckerberg.

O responsável pela ideia é David Morin, um ex-funcionário do próprio Facebook que deixou a empresa de lado em 2010 para criar a sua própria rede social. No primeiro semestre de 2013, o Path viu sua base de usuários inflar de 5 milhões, em dezembro de 2012, para 12 milhões em junho de 2013. E a América Latina teve grande participação nisso. Em abril, o app da rede social chegou até mesmo a figurar na primeira posição do ranking de downloads gratuitos da App Store brasileira.

Enquanto atravessávamos o escritório, cheio de anotações e ideias rabiscadas nas paredes de vidro, Dave seguia para a área externa com um drone gigante na mão. Em plena tarde de verão na Califórnia, o brinquedinho dava voltas pelos arranha-céus da baía de São Francisco. "Podemos gravar algumas imagens de você brincando com o drone?", perguntamos. A resposta foi um seco "NÃO!", com cara de poucos amigos. Definitivamente, não fomos escolhidos para estar entre os 150 contatos super selecionados do milionário, que tem Ashton Kutcher e Shawn Fanning (ex-Napster) como sócios e amigos próximos.

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Tudo bem. O simpático Matt van Horn, VP de novos negócios da empresa, já nos esperava na sala de reuniões para uma entrevista agendada previamente. Na pauta, algumas perguntas sobre como competir com o Facebook, como ser diferente no mundo das redes sociais, a experiência do Path no Brasil e como lidar com segurança e privacidade – questões que estão cada vez mais presentes na vida online das pessoas.

Matt van Horn e as paredes rabiscadas do Path, em entrevista para o Canaltech (Foto: reprodução/vídeo)

Canaltech: O que é o Path e por que ele é diferente de outras redes sociais?

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Matt van Horn: O Path é uma plataforma social, focada no mercado móvel e no design, e que busca conectar você com as pessoas que você gosta. Ao contrário da concorrência, nos focamos na conexão com os seus amigos mais próximos e família, o tipo de pessoa com a qual você troca SMS ou manda e-mails todos os dias, coisas com conteúdo bastante pessoal. Não temos a pretensão de conectar você com todos os seus contatos – com aquele ex-amigo do colégio, ou com alguém que sentou próximo a você em uma sala de aula ou que você conheceu no trem. A ideia é cultivar contatos com pessoas já próximas, com as quais você quer ter um relacionamento ainda mais profundo. Queremos construir uma rede que gire em torno disso e que seja dedicada ao mercado móvel, para iPhone e Android.

CT: Quando a plataforma foi lançada? Quantas pessoas usam o Path?

Matt: O Path foi lançado no final de 2010. Terminamos o final de 2011 com apenas 1 milhão de usuários, e há cerca de um mês atingimos 12 milhoes de usuários. Muito do que tem acontecido conosco foi bastante recente.

CT: Vocês apresentaram um crescimento significativo na América do Sul nos últimos meses. Por que acha que isso aconteceu? Acredita que o foco no mercado móvel teve influência?

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Matt: Nós desenvolvemos uma estratégia de priorizar alguns lugares e línguas. Atualmente, o Path é disponibilizado em dezenove línguas, mas quando escolhemos as primeiras traduções levamos dois pontos principais em consideração: dados que mostravam onde o aplicativo estava sendo muito usado e locais que seriam importantes futuramente, para o avanço da plataforma. Olhando os números, descobrimos alguns fatos curiosos, como a popularidade do aplicativo em lugares como Itália e Coreia, e por isso decidimos criar versões em italiano e coreano. Já levando em consideração o futuro do Path, apostamos em línguas como espanhol ou português brasileiro, que foram priorizadas pela importância que têm. Fizemos isso ainda em 2011. O crescimento recente do Path na América do Sul foi totalmente orgânico. Nós recentemente lançamos uma ferramenta de busca para a versão em espanhol e talvez isso tenha contribuído positivamente para essa tendência. Também vale citar o que aconteceu na Venezuela – não sabemos exatamente o motivo, mas nos tornamos o aplicativo gratuito mais baixado de todos e ganhamos 500 mil usuários em apenas um final de semana. Isso começou a se espalhar por outros países de língua espanhola, representando um grande crescimento na América do Sul como um todo.

CT: O Path, principalmente na plataforma móvel, também funciona para enviar mensagens para as pessoas em tempo real. Como competir com um serviço de mensagens tão popular como o WhatsApp, que todos usam? Como atrair as pessoas para o Path?

Matt: No Path somos focados em qualidade e simplicidade, acreditamos que todos os melhores produtos que já existiram focaram justamente nesses dois fatores. Estamos nisso há três anos e tem sido incrível. Quanto à competição… Focamos em nós mesmos e naquilo que podemos desenvolver para a nossa plataforma e nossos usuários.

CT: E como é trabalhar no Path? Quem são os funcionários da empresa?

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Matt: Atualmente temos 55 empregados, e a maioria deles é programador ou designer. No Path somos muito focados no balanço entre design e engenharia, trabalhando juntos. Com isso, buscamos designers que acreditem em experiências plenas, que consigam projetar múltiplas experiências e cenários, e que entendam como é a construção de um software. Já do lado da engenharia, buscamos engenheiros obcecados por design, simplicidade, qualidade e que gostem de tornar todo pixel belo e com um ótimo funcionamento. Há uma série de atalhos que poderíamos ter tomado no ramo do software móvel, como o HTML 5, e nunca nos adaptamos a isso, sempre pensamos que precisamos de um aplicativo "nativo" para iOS e Android. Investimos muito nisso e funcionou maravilhosamente para o Path, e provavelmente é o grande motivo de contarmos com um aplicativo tão bom para esses sistemas móveis.

CT: O Path é vendido como uma rede em que a privacidade é respeitada, em clara oposição com o Facebook, que de alguma forma tentar forçar que tudo seja público. Você pode explicar melhor a visão do Path quanto a privacidade?

Matt: No Path, você pode confiar: seu conteúdo é privado, para sempre. Ele somente pode ser visto por aquela pessoa com quem você compartilhou aquilo, não temos essa ideia de “amigos” ou “amigos dos amigos” que podem acessar o conteúdo. Acreditamos muito em confiança. Se você decide postar conteúdo através do Path, você sabe exatamente quem pode ver, não existem configurações complexas e escondidas. Nossa missão é a de conectar você com as pessoas com as quais você se importa, e para isso precisamos construir um ambiente seguro e confiável.

CT: Qual é a estratégia do Path para crescer em um mercado absolutamente dominado pelo Facebook? Qual o diferencial de vocês?

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Matt: Nós acreditamos muito no Facebook e na ideia de que lá você pode encontrar todas as pessoas que você conhece, acredito que isso é algo válido e não é algo que esperamos combater. Gostamos de pensar que o Facebook constroi “cidades”, enquanto o Path está construindo o “lar” ou a “mesa de jantar”. Existe uma ótima oportunidade nisso. Com o perdão da piada, mas não temos anúncios na nossa “mesa de jantar”, não queremos vender nada nesse espaço. A ideia é essa, de juntar as pessoas próximas o bastante para que você as convide para a sua “mesa de jantar”. Há uma enorme oportunidade para redes sociais mais focadas em nichos, por exemplo aquelas que conectam pessoas de um mesmo bairro, como o Next Door. Posso entrar lá e descobrir o que está acontecendo no meu bairro em termos de segurança, atividades culturais, fico sabendo se abriu um novo restaurante nas redondezas. O Facebook, por exemplo, não tem um produto assim. Também existe um aplicativo chamado Couple, uma rede social de apenas duas pessoas. Logo, vejo que há muito espaço a ser preenchido.

CT: Se o Path não aceita publicidade dirigida aos usuários, qual a estratégia usada para monetizar a plataforma?

Matt: Não temos publicidade no Path. Nós temos alguns bens virtuais e uma loja, onde você pode comprar filtros de fotos por 99 cents e ‘sticker packs’, que podem ser usados em mensagens. Nós temos parcerias com ótimos artistas para que eles criem desenhos que representem a história da comunicação através de emoticons, em pacotes de 20 a 40 imagens. Acreditamos em uma parceria com os nossos clientes. Com esse foco nos usuários, podemos tratá-los como os nossos clientes e criar aplicações dedicadas a eles, enquanto se aceitássemos publicidade os nossos clientes seriam os anunciantes, e teríamos que construir as ferramentas para eles.

CT: Sinto que as pessoas estão se cansando do Facebook, principalmente por conta da questão da privacidade e da exposição involuntária. Existe espaço para novos players nesse mercado? Como você acha que o mercado de redes sociais vai estar em cinco anos?

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Matt: Uma das coisas que inspirou David Morin e Dustin Miuerau a começar a trabalhar no Path foi que eles lembraram dos primeiros dias do Facebook, quando havia muita qualidade ali. Para deixar claro, ainda acho que existe muito valor no Facebook, e eu o uso todos os dias. Mas não como antes. Eu lembro que antigamente eu me sentia confortável em postar qualquer coisa no Facebook, e hoje sou muito mais restrito quanto a isso. Eu sou bem informado e ainda assim me confundo com as configurações de privacidade – dessa forma, quando posto no Facebook eu posso assumir que é provavelmente público. Sei que nem sempre isso é verdade, mas é assim que a minha psicologia funciona. No Path, acreditamos em confiança e na sua relação com a privacidade, se você posta algo pode saber quem pode ver e quem tem acesso a isso. Aparelhos móveis andam com você, são muito mais pessoais… E por isso contamos com momentos muito mais pessoais.

CT: Por exemplo?

Matt: Uma das aplicações que temos identifica quando você anda de avião. Se você sai de São Paulo e chega em São Francisco, seu Path pode mostrar: acabei de aterrissar em São Francisco. Conseguimos identificar que você viajou de um lugar a outro em um espaço muito curto de tempo e que provavelmente você usou o avião. Isso é bem pessoal. Isso não poderia ser feito no Facebook. Mas no Path, são as pessoas que você realmente ama e se importa, então não há grande problema. Você pode se sentir confortável ao compartilhar informações mais íntimas. Outra aplicação que temos identifica se você foi dormir e quando você acordou, e posta frases engraçadinhas relacionadas a isso. Fazemos isso ao identificar quando o seu aparelho móvel entrou no modo dormir, e assumimos que você também dormiu. Se foi por apenas duas horas, podemos sugerir que você tome um copo de café ou algo do tipo. Isso está relacionado à era pós-PC – lembra de quatro anos atrás, como o mundo era diferente? Você ia ao escritorio, havia um computador, íamos embora – você estava on ou offline. Na era móvel, você está sempre on, ou você está dormindo ou acordado e conectado. Por conta disso, precisamos de novas funcionalidades.

CT: Existe uma estimativa que brasileiros costumam ter mais amigos em redes sociais do que usuários de outras partes do mundo. Acha que isso pode ser um problema para a adoção do Path no Brasil, já que aqui o número de conexões é limitado?

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Matt: Não, não acho que possa ser um problema. Nós fizemos muita pesquisa antes de chegarmos a esse número (150), que representa os seus contatos mais próximos. Usamos as pesquisas de um acadêmico, Robin Dunbar da Universidade de Oxford. Ele investigou, através da antropologia, o número de pessoas com as quais você pode estar verdadeiramente conectado em vários contextos diferentes, e o número limite foi 150. Se formos pensar, existem grupos mais interessantes que esse: aquele de apenas duas pessoas, ou cinco, ou dez, ou quinze. Inicialmente pensamos em focar em um grupo de cinquenta pessoas, mas vimos que as pessoas passaram a ser seletivas demais com os contatos delas, porque não queriam passar do limite. Então ampliamos para 150. Acreditamos que, em um grupo menor de amigos, conversas de maior qualidade têm uma maior probabilidade de acontecer. É um espaço diferente de redes sociais com números ilimitados de amigos, como o Twitter, que é ótimo para você se comunicar com muita gente, ser popular e coisas desse tipo. O Path não, focamos nas pessoas que você quer manter por perto.