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Mais pontes… menos muros!

Por| 05 de Novembro de 2020 às 10h00

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Flickr/vinylmeister
Flickr/vinylmeister

Outro dia, em um evento, quando me perguntaram em qual área eu acreditava que a inovação deveria estar mais presente, respondi: nas relações interpessoais. Não existe nada mais tóxico e desidratante do que uma sociedade ou corporação que não prioriza sua cultura desenvolvimentista no “human first”.

No fim dos anos 1960, em Sausalito, na Califórnia, o fundador e CEO emérito da Visa, Dee Hock, deu um firme passo na direção da construção de uma das mais importantes pontes que a humanidade moderna conheceu: o dinheiro digital global. Para entender a fundo o que aconteceu naqueles dias, recomendo fortemente a leitura do livro “Nascimento da Era Caórdica”, mas resumo aqui o que foi discutido no evento que daria início à Visa.

Ao longo de vários dias, Dee e outros altos executivos de diversas instituições financeiras mundiais colocaram em debate a governança e os princípios de como criar o primeiro sistema mundial de troca de valores. Naquela época, ninguém antes havia conseguido arquitetar essa solução: nenhuma civilização, estado, nação ou sociedade. O fato de chamarmos por décadas “cartão de crédito” foi uma pura questão mercadológica.

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O resultado mais significativo e simbólico que saiu do encontro em Sausalito foi que diversas instituições financeiras concordaram, de forma voluntária, em abrir mão de suas plataformas privadas em prol de um ecossistema ambicioso, que não apenas envolvesse diversas moedas, mas também abraçasse culturas, raças, línguas, leis. E a palavra Visa, definida pelo próprio Dee Hock, não poderia ter sido melhor escolhida para definir essa celebração global de diversidade, por ser uma palavra pronunciada de forma parecida em muitos idiomas e por estar relacionada a aceitação.

Dando um salto no tempo, há 6 anos, a Visa tomou uma decisão talvez tão icônica e fundamental como a definida na famosa reunião no Hotel Altamira. Digo no sentido de começar a construir novas pontes com uma comunidade global extremamente ativa e influenciadora de desenvolvedores que, de forma diferente das grandes instituições financeiras, descentralizam para agilizar a construção de serviços por meio da, hoje em dia tão popular, “economia das APIs”.

Antes conhecidos como desenvolvedores e proprietários do maior e mais poderoso sistema de processamento de pagamentos do mundo, a VisaNet, a companhia entendeu que não há como avançar sem a colaboração de todos os que já participam do sistema e os que ainda estão de fora. Por isso, convidamos os interessados a conhecer nossas soluções baseadas em APIs. Alguns chamam isso de Open Innovation – tema que já tratei em outro artigo –, mas eu prefiro entender como a evolução dos princípios que nortearam a criação do maior sistema de troca de valores global, nesse caso orientado ao compartilhamento de dados.

E agora você deve estar se perguntando por que abordei três temas distintos dentro de um mesmo artigo e como eles se relacionam:

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  • A cultura da inovação pensada e voltada para a relação entre as pessoas;
  • Uma breve, mas fundamental, passagem a respeito da formação da Visa;
  • E a economia das APIs.

Se pararmos para pensar, estabeleceremos claramente uma disfunção quase imediata entre os serviços que usamos – aplicativos mais comuns – e o serviço que esses nos prestam. O ponto aqui é que a inovação avançou e continua progredindo claramente no campo tecnológico, mas as pessoas que consomem as soluções, serviços e plataformas não são profundas conhecedoras de tecnologia. São seres humanos que apenas desejam resolver seus problemas pontuais, como uma refeição, um encanamento furado, uma encomenda urgente. Costumo dizer que a era dos produtos ficou no passado, vivemos hoje a busca por soluções.

Volto, portanto, ao início e destaco que a inovação precisa invadir as relações humanas - não de forma propagandista ou exploratória, mas consistente e profunda. A formação de uma empresa como a Visa não aconteceu simplesmente porque executivos se reuniram várias vezes definindo um modelo de negócio, produtos e serviços, mas sobretudo porque as pessoas e as sociedades necessitavam urgentemente de alternativas mais inovadoras e inteligentes para comprar e receber dentro e fora de suas geografias locais.

Houve a sensibilidade e, claro, a oportunidade de monetizar pensando no quanto as pessoas passariam a ganhar em relação a uma nova, inclusiva e interoperável experiência de pagamento. Sinto que ocorre algo semelhante agora. Quando pensamos na sociedade atual, na qual cada vez mais empresas se conectam a outras por meio das APIs, novamente, o olhar volta para o ser humano e para a melhor experiência “phigital” (physical + digital) possível. É bom lembrar que não vivemos exclusivamente no “Maravilhoso Mundo dos Apps” e que a ponte entre o digital e o físico precisa ser bem pavimentada!

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Numa época em que privilegiamos cada vez mais o conceito de ecossistemas abertos, o papel de empresas, estado e sociedade é o de não erguer muros de exageros e arbitrariedades que impossibilitem a conexão com outros ecossistemas, evitando que consumidores exerçam o direito de livre escolha.

“Tear down the wall!” (Roger Waters, 1979)