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Opinião: onde foram parar os smartphones acessíveis? (Parte 2)

Por| 14 de Julho de 2016 às 00h35

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Opinião: onde foram parar os smartphones acessíveis? (Parte 2)
Opinião: onde foram parar os smartphones acessíveis? (Parte 2)

O Moto G colocou muitas empresas em apuros quando chegou em 2013. Ficou praticamente sem concorrentes diretos até a chegada do Zenfone 5 em 2014, quando tivemos uma espécie de "segunda revolução" de custo-benefício, algo que continuou, em menor escala, em 2015. Tanto ASUS quanto Motorola mantiveram (inicialmente) uma política de preços mais racional no ano passado, apesar da crise econômica e do dólar alto, enquanto diversos concorrentes continuaram aumentando seus preços. Mas brasileiro gosta de pagar caro, não é mesmo?

Ou não.

Demanda e sensação de exclusividade

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Muitos dizem que brasileiro adora pagar caro em certos produtos. As características pouco importam, assim como a relação custo-benefício ou a necessidade de fazê-lo, mas ter a sensação de ter posse de algo que a maioria das pessoas não tem acesso vale muito mais. Pouco importa também se o investimento é alto para realizar exatamente as mesmas tarefas que qualquer smartphone dez vezes mais barato faz sem qualquer tipo de problema, mas sim que as outros vejam a pessoa usando o aparelho.

Como dissemos em nosso artigo sobre o preço Moto G4, isso não chega a ser um problema. Afinal, quem estiver disposto a gastar mais acreditando nessa "sensação de exclusividade" está livre para fazê-lo. O problema começa quando as opções mais baratas não são baratas o suficiente. Por mais que as empresas adotem esse posicionamento do brasileiro de pagar caro como algo que todos estão dispostos a fazer, a verdade é que isso inclui uma parcela bem restrita da população. Tivemos vários episódios que provam isso.

A Samsung ultrapassou a barreira dos R$ 4.000 ainda em 2015 com o Galaxy S6 Edge de 64 GB, enquanto o Galaxy S5 do ano anterior custava R$ 2.600.

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Voltando a 2013, o Moto G mostrou, sozinho, que a demanda por aparelhos com uma relação custo-benefício que fazia sentido era muito mais procurado. Junto com o Moto X, anunciado poucos meses antes, ele foi responsável pelo "renascimento" da Motorola, que passou a ter um poder de marca que muitas concorrentes fariam de tudo para ter. Ele não era o mais potente, nem o mais barato, tinha uma câmera "ok", na melhor das hipóteses, mas foi certamente um dos aparelhos mais interessantes do ano.

No ano seguinte, as grandes fabricantes por aqui tiveram dificuldade para criar um adversário à altura para o Moto G, algo que não chegou a acontecer no intervalo de tempo entre o Moto G 2013 e o Moto G 2014, mesmo que este fosse apenas uma versão consertada do primeiro. Basicamente, trazia suporte para cartões microSD, um ligeiro upgrade de câmera e uma tela 0,5 polegada maior. Mesmo assim, os grandes players não conseguiram criar um produto sequer que desviasse a atenção do Moto G.

O Zenfone 5 representou em 2014 o que o Moto G foi em 2013: um questionamento da política de preços e do custo-benefício praticado por aqui.

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O primeiro concorrente oficial foi o Zenfone 5, que inaugurou a presença da ASUS no segmento de smartphones no Brasil. Era um aparelho que chegou mirando diretamente no Moto G2, com uma campanha feroz de marketing focando exatamente em provar que era um concorrente à altura. Chegou por R$ 499 nas primeiras unidades, levantando até questionamentos se a ASUS conseguia lucrar com a venda dele, de tão mal-acostumado que o brasileiro estava com preços altos. Até o final de 2014, tanto Motorola quanto ASUS foram as únicas a questionar o establishment de smartphones no Brasil.

Apenas duas empresas, uma com a missão de reestruturar a sua marca e a outra entrando para competir agressivamente, causaram problemas para todo um segmento de produtos. Enquanto isso, as grandes empresas por aqui continuaram com o posicionamento de tentar vender aparelhos cada vez mais caros, tentando extrair cada centavo de lucro quanto possível, em todos os segmentos de produtos.

O Redmi 2 fez lá o seu barulho em 2015, ainda que sem a intensidade dos anos anteriores com Motorola e ASUS.

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O ano de 2015 começou com a escalada exponencial de preços. O Galaxy S5, por exemplo, chegou em 2014 por R$ 2.600, enquanto o Galaxy S6 chegou por R$ 3.300 – valor que chegou a R$ 4.300 no Galaxy S6 Edge de 64 GB. O argumento para preços tão altos? Crises política e econômica, dólar alto e inflação, todos verdadeiros, mas que não impediram a ASUS de anunciar o Zenfone 2 no segundo semestre por R$ 1.500, isso em condições muito piores do que os lançamentos do primeiro semestre.

Um dos motivos dessa disparidade entre os preços cobrados pela ASUS e pela Samsung (junto com Apple, Sony, LG e outras) é a completa desvinculação entre causa e efeito. Crise e dólar alto como causa e preço final alto como efeito. É como se empresas usassem a desculpa desses fatores para estabelecer o preço que bem entenderem, independentemente de haver uma relação proporcional. A impressão que as empresas queriam passar é que cobrariam um preço menor se pudessem. A verdade é que poderiam, mas optaram por não fazê-lo, culpando as condições econômicas.

Enquanto isso, nos segmentos intermediário e básico...

O aumento de preços dos segmentos de produtos mais avançados, com suas "explicações" por parte das empresas, foi a deixa necessária para jogar o preço dos produtos lá em cima. Quando isso não aconteceu, as especificações dos modelos mais simples pararam no tempo. Basta ver a similaridade de especificações dos modelos de entrada e intermediários entre todas as marcas em 2014: praticamente todos eles traziam o chip Snapdragon 400/410 ou algum equivalente da MediaTek, geralmente com 1 GB de memória RAM. Isso na casa dos R$ 700 ou mais.

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O LG Joy chegou em 2015 por R$ 700, mas já se tratava de um aparelho ruim mesmo se fosse anunciado anos antes.

Em 2015 vimos o primeiro aparelho da Xiaomi anunciado fora da China, que trazia um custo-benefício semelhante a praticamente todos os concorrentes, mas custava centenas de reais a menos. O Redmi 2 tinha lá seus problemas, mas era o limite mínimo que um aparelho deveria oferecer. Qualquer aparelho que custasse mais caro deveria ter uma justificativa, já que era difícil bater os R$ 499 cobrados por ele. Até mesmo o Moto G (o 2015) já tinha deixado de ser o sinônimo de custo-benefício.

Cobrar mais de R$ 4.000 em aparelhos avançados tenta (sem sucesso) mostrar que um modelo de R$ 1.000 é barato. Algumas empresas levam essa tentativa de enganação a patamares risíveis, caso da Apple, que trouxe seu "acessível" iPhone SE por R$ 2.700. Mas ei: é R$ 1.300 mais barato do que o iPhone 6s, então é um bom negócio, não? Não precisamos ir tão longe, porém: LG G4: R$ 3.000. LG Joy, um modelo dual-core em pleno 2015, 512 MB de memória RAM, Android 4.4, 4 GB de memória interna e conexão 3G: R$ 700.

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iPhone SE: visto como uma "versão acessível" do iPhone 6s no resto do mundo, opção para quem quer economizar e quer um aparelho pequeno, ele chegou ao Brasil por R$ 2.700. Caro, é claro, mas tenta parecer barato em relação aos modelos maiores.

Imaginem que a LG tenha anunciado o G4 pelo valor que ele chegou poucos meses depois do lançamento (pouca coisa mais do que R$ 1.500). Será que o Joy faria sentido? Empresas deixaram de anunciar aparelhos por um valor honesto para adotar a estratégia de referência. Pouco tem a ver com o dólar, impostos ou condições econômicas e políticas. Pouco tem a ver também a justificativa de que brasileiro paga caro porque gosta, já que as opções para quem quer economizar simplesmente desapareceram.

Os preços aumentaram e ponto final, e vamos abordar como isso se tornou problemático economicamente na parte final deste artigo.