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Opinião: onde foram parar os smartphones acessíveis? (Parte 1)

Por| 11 de Julho de 2016 às 23h30

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Opinião: onde foram parar os smartphones acessíveis? (Parte 1)
Opinião: onde foram parar os smartphones acessíveis? (Parte 1)

Galaxy S7 anunciado por R$ 3.800 e Galaxy S7 Edge por R$ 4.300. iPhone mais recente (a partir de) R$ 4.000, chegando a R$ 4.900 no modelo 6s Plus de 128 GB. Sony Xperia Z5 Premium com sua tela 4K (em doses homeopáticas) por R$ 4.700 e hardware de 2015. Caro? É relativo, já que o G5 SE com todos os seus Friends passam dos R$ 8.000. O que está acontecendo? Enquanto o resto do mundo vê novos smartphones ano após ano com preços praticamente idênticos, a escalada de preços dos modelos vendidos por aqui parece não ter fim.

Impostos altos demais? Burocracia congelante? Má fé por parte de algumas empresas? Cultura brasileira de sobrevalorizar o que é excessivamente caro? Qual é a explicação por trás disso? Os exemplos que demos acima são todos de modelos tops de linha, mas ainda assim fica a questão: onde foram parar os smartphones realmente acessíveis? Ou será a inflação de preços? Qual será o preço que uma pessoa paga por um modelo apenas "ok", barato o suficiente para valer a pena sem abrir mão de qualidade ou apelar para marcas reconhecidas por sua baixa qualidade?

Começamos a explorar esse assunto com o nosso artigo divido em 3 partes sobre os R$ 1.499 cobrado pelo Moto G 2016, o dobro do Moto G 2013, que revolucionou o mercado quando chegou no Brasil (no mundo inteiro, na verdade, mas mais no Brasil). Explicamos diversas variáveis que explicam o seu valor, mas nada explica a razão de modelos mais básicos estarem em um patamar de preços tão alto. É isso que vamos tentar compreender neste artigo, e mesmo que o nosso foco sejam os modelos básicos, vale começar falando sobre os modelos top de linha.

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Onde é o limite?

Os modelos que citamos acima, com suas respectivas fabricantes por trás, trazem um ponto em comum: crescimento exponencial de preços através dos anos. Desconsiderando a inflação, o iPhone 4s (2011) custava R$ 1.899 quando chegou ao Brasil no modelo mais básico, agora custando R$ 3.999 no modelo 6s de 16 GB (aumento de 110,5%). O Galaxy S2 chegou por R$ 1.999 (também em 2011), passando a R$ 3.799 no modelo S7 este ano (diferença de 90%). As diferenças são maiores nessas duas marcas, mas é um padrão de comportamento no segmento top de linha que não sofre muita variação em outras.

A cada geração, fabricantes empurram o limite de preços e o "custo top de linha" para patamares cada vez mais inacreditáveis, um cálculo que não entra dentro da nossa inflação, já que são produtos categorizados como supérfluos. Outras variáveis entram nesse cálculo, naturalmente, e muitos fabricantes culpam o dólar alto pelo maior preço a cada geração. Outros culpam os impostos também, um alvo bastante fácil e difícil de racionalizar, mas não impossível, como veremos na segunda parte deste artigo.

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Top de linha por R$ 4.000 ou mais se tornou algo comum

Mas será que isso faz sentido? Como explicamos na nossa série sobre o preço do Moto G, a variação incessante do dólar faz com que os preços finais sejam colocados em um patamar de segurança maior. Porém, se a culpa é do dólar, por que os preços não abaixam na mesma proporção quando ele diminui? O iPhone 6s, por exemplo, chegou por R$ 3.999 no final de 2015, quando o dólar tinha ultrapassado os R$ 4,15. Na data em que este artigo foi escrito, o dólar estava R$ 3,30. Por que o preço continua o mesmo?

Não vamos nem tratar aqui dos modelos ridiculamente desrespeitosos para o consumidor, que não são acessíveis, mas de "baixo custo". Vender modelos com 4 GB de memória interna em pleno 2016 não é baixo custo: é falta de respeito.

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Alguns sites aconselham não comprar um iPhone atualmente, esperar o novo modelo ser anunciado. Por quê? A previsão é que os preços dos modelos atuais caiam 20%. Mesmo que isso aconteça, a Apple continuaria lucrando mais, considerando o valor do dólar atual, do que quando ele foi anunciado. Que redução é essa? Considerando uma margem de segurança, a Apple venderia os modelos 20% mais barato, mas com um dólar 25,7% menor. "Todo mundo ganha".

E o que isso tem a ver com os modelos mais baratos? Absolutamente tudo. Manter o preço alto dos tops de linha cria uma ilusão de que um modelo mais barato é proporcionalmente mais acessível. Sabe as porcentagens de aumento do primeiro parágrafo? São pequenas, se pararmos para considerar que o Moto G teve seu preço aumentado em 100% em apenas 3 anos (passando de R$ 649 para R$ 1.499), enquanto a linha Galaxy S aumentou 90% em 5 anos. O preço dos modelos caros impacta diretamente em toda a cadeia.

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O Moto G sofreu uma das maiores inflações de preços entre smartphones.

Não estamos questionando aqui os motivos por trás disso, já que são inúmeras variáveis, não alteram o fato de que o aumento dos modelos não-top de linha foram bem maiores. Aliás, a situação chega a ser pior ainda. Lembra do Moto G3, anunciado em 2015, que teve seu preço aumentado 3 vezes em pouco tempo? Isso não aconteceu com os modelos tops de linha. Estabelece-se um preço e ele permanece praticamente o mesmo (ou mesmo diminui) em modelos mais caros, independentemente de condições econômicas. Os modelos mais básicos, não.

Na data de hoje (11/07), a Positivo anunciou seu Twist S com o preço sugerido de R$ 649 (aliás, a principal motivação para escrevermos este artigo), que é praticamente um Moto G ligeiramente inferior, mas com o mesmo preço oficial. Tem tela inferior (FWVGA 480 x 854), apenas 8 GB de memória interna e conectividade 3G. A quantidade de comprometimento que o usuário faz em comprar esse modelo, já que estamos em pleno 2016, são vários, já que dificilmente ele pode ser considerado à prova de futuro.

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O Twist, nosso "muso inspirador" para escrevermos este artigo.

"Ah, mas se o preço é o mesmo isso significa que ele é mais acessível, já que houve uma bela inflação no período". Isso faria sentido se tecnologia não ficasse mais barata com o passar do tempo. Basta considerar a queda de preços dos computadores em décadas, das televisões de tela plana (lembram das primeiras TVs de plasma no Brasil?). O tempo passa, as empresas inovam (quer dizer, algumas), os custos de produção caem e mais pessoas passam a ter acesso a novos produtos.

Positivo Twist S: R$ 649. Freedom 251: R$ 12,50. São diferentes? É claro. O Freedom 251 tem uma tela com maior resolução.

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E outra, em alguns quesitos, o Twist S é inferior ao Moto G de primeira geração, mesmo anunciado 3 anos depois. Sem pegar no pé da Positivo, ele está mais próximo ao Freedom 251, smartphone que será anunciado na Índia pelo equivalente a R$ 12,50, e a própria fabricante diz que perde R$ 2,50 por unidade. Ou seja, toda a cadeia de produção e transporte (já que é fabricado na China) e componentes saem por R$ 15 por um modelo que é vendido no Brasil por R$ 649. Como R$ 15 se transformam em R$ 649? E por quê? É o que vamos continuar explorando na segunda parte deste artigo.