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Opinião: O Windows Phone não morreu, mas está em estágio terminal (parte 1)

Por| 01 de Fevereiro de 2016 às 13h13

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Opinião: O Windows Phone não morreu, mas está em estágio terminal (parte 1)
Opinião: O Windows Phone não morreu, mas está em estágio terminal (parte 1)

Os resultados divulgados pela própria Microsoft no segundo trimestre fiscal da empresa são desapontadores. Se por um lado temos que admirar o reconhecimento por parte da própria empresa do fracasso de vendas dos aparelhos com Windows Phone, sem promessas, perspectivas ou justificativas, por outro é um alerta que o consumidor deve levar a sério.

Os sinais já estavam mais ou menos claros antes da divulgação do relatório, indo desde a fuga de desenvolvedores até a falta de entusiasmo com que os tops de linha Lumia 950 e 950 XL foram anunciados, mas a o fato é que a plataforma continuou com a promessa de concorrer com Android e iOS por muito tempo, sem qualquer risco significativo para ambos.

Afinal, o que aconteceu?

Ainda na época em que a Nokia ainda era uma empresa independente da Microsoft (vale dizer que “época” em tecnologia significa 3 ou 4 anos atrás), ainda no começo de 2012, o Windows Phone parecia ter um futuro brilhante. O iOS ainda reinava praticamente sem concorrentes nos mais altos segmentos de preços, o Android ainda era visto como uma alternativa barata ao iPhone, e o Blackberry mostrava sinais de dominar o segmento corporativo. Era um cenário onde o Windows Phone era, talvez, a maior esperança de se tornar um terceiro player no mercado, concorrendo em recursos e market share diretamente com o iOS e Android.

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O que era uma impressão para a maioria das pessoas era visto como uma certeza absoluta (com o perdão pelo pleonasmo) e inquestionável para a Microsoft. Algo que aconteceria naturalmente, não importando os esforços da Apple e do Google para deter a invariável popularização do Windows Phone. A frase em si já denuncia um primeiro motivo da queda da plataforma, já que o que é tomado como certo acaba não recebendo a devida atenção. Uma certa arrogância, por assim dizer.

Relebrando a “época”, o iPhone do momento era o 4s, ainda com o iOS 5, sem grandes mudanças significativas que aconteceram somente no iOS 7 (iPhone 5s, 2013), e o Nexus, modelo de referência do Google anunciado no final de 2011, era o Galaxy Nexus (talvez um dos piores Nexus da história), o primeiro modelo a trazer o Android 4.0 Ice Cream Sandwich. Do lado da Apple, tínhamos um sistema estável, mas sem grandes novidades. Do lado do Google, um sistema com novidades bacanas, mas ainda razoavelmente incompleto (é fácil analisar assim anos depois, não?).

Pois bem, esses eram os concorrentes do Windows Phone 8 no recém-anunciado Lumia 920 no final de 2012, enquanto o Android atacava com a versão 4.1 Jelly Bean e o iPhone 5 estreava o iOS 6. Comparativamente, o Windows Phone foi o sistema que mais apresentou novos recursos, quebrando a compatibilidade com a versão 7.5 (o que deixou muita gente irritada, em especial quem pagou caro em um Lumia 900). Estamos no final de 2012, anos em que o otimismo da plataforma ainda estavam bastante vivos (enquanto a Blackberry...). E o que aconteceu desde então?

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Somente o lançamento do Windows Phone 8.1, que acrescentou muito, mas muito pouca coisa. Alguns easter eggs aqui e ali, se comparados à evolução constante do iOS e do Android de 2012 para cá. Esse é um dos motivos, já que donos de smartphones com Windows Phone viam seus amigos com plataformas diferentes recebendo recursos interessantes de tempos em tempos, enquanto o Windows Phone continuava tão estável quanto estático.

Dependência da Nokia

Ainda falando de falta de evolução, o Windows Phone no Brasil virou sinônimo de Nokia. E vice-versa. Diferentemente do que acontece no resto do mundo (como geralmente acontece com smartphones no Brasil), se você tinha um modelo com WP, era praticamente certo de que se tratava de um Nokia. Um ou outro ainda tinha algum modelo antigo da HTC, antes da empresa sair do Brasil, ou da Samsung (linha Ativ), mas eram realmente muito poucos.

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Em mercados mais abertos, vários fabricantes competiram pelo posto de melhor smartphone com Windows Phone. Mas até mesmo as principais marcas deixaram de focar tanto na plataforma.

Essa dependência fez com que muito do que o usuário gostava do Windows Phone pouco tinha a ver com o sistema, mas sim com o trabalho da Nokia. As câmeras PureView, por exemplo, em uma época onde modelos Android com câmeras comparáveis eram exceção, eram uma contribuição da Nokia. O mesmo aconteceu com os updates exclusivos dos aparelhos da empresa, como o Cyan e o Denim, enquanto a Microsoft ainda segurava recursos e pouco atendia às requisições do usuário, assunto do próximo item.

Plataforma fechada

Em plataforma onde até mesmo a implementação de uma barra de notificações foi uma novidade (versão 8.1), ainda que de uma forma arcaica, é fácil entender o que a palavra “estagnação” significa. As posturas erradas da Microsoft começaram a pesar, e muito, resultado de um fechamento artificial da plataforma em favor de um benefício para o usuário final que este não concordava. Mesmo o iOS cedeu em vários “pilares de estabilidade” com o passar dos anos por pressão dos usuários, mas a Microsoft manteve esse controle. E ele não deu certo.

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Por exemplo, a impossibilidade de instalar navegadores famosos como o Chrome ou o Firefox, “por motivos de segurança”, assim como os Google Apps. O usuário tinha que ficar feliz com o Internet Explorer, HERE Maps (outra tecnologia da Nokia), e assim por diante. São apps ruins? Não, mas tirar a escolha do usuário de usar produtos concorrentes é obrigá-lo a mudar de plataforma. E outra: argumentar que o Internet Explorer é a melhor opção como navegador é pedir para criar ressentimento dentro do seu próprio público. Já imaginou a Microsoft fazendo o mesmo com Windows de PC? Provavelmente teríamos uma divisão de sistemas completamente diferente.

Até mesmo a Apple, famosa por segurar atualizações, reformulou o iOS na versão 7 para tentar deter o crescimento do Android.

Se por um lado o Windows Phone era um sistema realmente estável e fluido, rodando em aparelhos excelentes, por outro isso não vale absolutamente nada se não há apps para ele. Como dissemos em nosso artigo sobre o lançamento dos Lumias 950 e 950 XL, o Windows Phone precisa de apps para poder crescer. Pela histórica baixa adoção da plataforma, ele deveria ser muito mais recompensador para os desenvolvedores, o suficiente para desviar a atenção deles para o Windows Phone. Como fazer isso com um sistema fechado?

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Podemos especular o quanto ele teria crescido se, desde o começo, suportasse pelo menos os apps do Google e deixasse que o usuário escolhesse o seu navegador preferido, sendo uma boa forma de dizer que o Windows Phone está aberto para novos usuários. E desenvolvedores. Poucos deles apostaram na plataforma (e alguns que apostaram acabaram desistindo com o passar do tempo), algo que se pode ver tanto pela quantidade quanto qualidade de apps da Windows Store. Ambos melhoraram nos últimos anos? Sim, mas longe da evolução que ocorreu no iOS e no Android.

Na parte 2 vamos comentar sobre o Windows 10, que acabou criando um hype que não se concretizou.

Outro ponto é a aquisição dos Lumias pela Microsoft, que só agravou o fato de que se trata de uma plataforma ainda bastante fechada. A ideia pode até ter sido boa: tentar unificar o hardware e o software, permitindo um nível de controle e otimização maior do sistema. Porém, há um efeito colateral previsível, que é desestimular os já poucos fabricantes que ainda se arriscam em produzir aparelhos com o Windows Phone, já que tudo passa a ser centralizado na Microsoft, que terá sempre o melhor produto, enquanto os outros fabricantes passariam a disputar migalhas, lutando ferozmente uma batalha que não deveriam por uma recompensa que é bastante baixa.

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É uma postura diferente da adotada pelo Google com a linha Nexus, que são modelos realmente "referência" para o Android. Muitos dos que gostam de Android não fazem questão de ter um Nexus, optando por modelos da Samsung, LG, Sony e ASUS, que trazem extras ausentes nos modelos do Google. A Microsoft ainda tentou convencer o usuário de que os Lumias seriam somente uma linha de referência, enquanto outros fabricantes poderiam criar soluções melhores, mas aqui vai um pequeno questionamento para provar que isso não passou de teatro: de cabeça, mencionem um aparelho concorrente dos Lumias 950 e 950 XL. Não? Nada? Isso acontece pois o sonho da Microsoft era imitar a Apple, fechando a plataforma ao máximo. Só que a Apple tem um sistema operacional para justificar isso, a Microsoft não. E deu no que deu.

Continua...