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Opinião: iPhone SE ou iPhone 5S Turbo?

Por| 21 de Março de 2016 às 17h54

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Opinião: iPhone SE ou iPhone 5S Turbo?
Opinião: iPhone SE ou iPhone 5S Turbo?

Pois bem, o tão aguardado iPhone SE foi, finalmente, anunciado (antes conhecido como iPhone 5se e iPhone 6c, quando ainda era um rumor). Ele é basicamente tudo o que os rumores confirmavam, além de marcar a história da Apple como a primeira vez em que três smartphones são anunciados em um período inferior a um ano. Grande parte da Keynote foi dedicada a explicar que o mercado mundial queria um smartphone com tela menor, já que os iPhone 6s e 6s Plus trazem 4,7 e 5,5 polegadas de tela, respectivamente. Será esse o motivo? Mesmo? Vamos ver nas próximas linhas.

Preço

Os preços sugeridos para o iPhone SE são de US$ 399 (16 GB) e US$ 499 (64 GB), que os tornam consideravelmente mais baratos do que o modelo "mais em conta" do iPhone 6S (US$ 649 para o modelo de 16 GB), lembrando que são os preços das versões desbloqueadas. A ideia é a seguinte: o usuário adquire basicamente o mesmo hardware dos novos iPhones, já que ele vem equipado com o Apple A9 com 2 GB de memória RAM, mesma versão do iOS e mesma câmera traseira, onde as diferenças essenciais ficam somente para o tamanho de tela e ausência do 3D Touch.

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Em teoria, a Apple tira apenas um recurso, diminui a tela e corta o preço em nada menos do que US$ 250, o que se transforma facilmente em uma diferença de mais de R$ 1.000 no Brasil. Que legal por parte da Apple, não é mesmo? Oferecer um "iPhone acessível" (tem algo de errado nessa expressão), se cometer o erro grosseiro de diminuir pouco o preço como aconteceu com o iPhone 5c. Mesmo que isso fosse verdade, a Apple está admitindo que está com problemas para convencer usuários a comprar seus novos (e mais caros) aparelhos, já que, se não fosse o caso, o iPhone SE não teria razão em existir.

Na prática, a Apple só vendeu mais iPhone 6s e 6s Plus por causa da China, senão os resultados seriam piores do que o par iPhone 6 e 6 Plus. Usuários perderam a motivação de trocar de aparelho todo ano para ter acesso a pouquíssima inovação, onde alguns abandonam a plataforma e outros esperam algum recurso realmente significativo. Tentar apresentar o iPhone SE como resposta da Apple pelo “clamor público” de um iPhone menor é pura bobagem. O que acontece, na verdade, é que ele pretende tentar conquistar o público que não está disposto a pagar pelo custo Apple, tentando pescá-los pelo preço.

Se a Apple seguisse a lei de mercado, que diz que o que tem baixa demanda implica em uma diminuição de preços, simplesmente abaixaria o preço dos iPhone 6s e 6s Plus. Mas aí seria um caminho sem volta, uma declaração pública que a empresa está com dificuldade em conquistar o seu cliente, que está perdendo aquele apelo cego dos fãs que compram iPhones sem precisar explicar o motivo. Então, nada como disfarçar isso com um modelo novo para maquiar essa situação. Aliás, “novo” não, né? Vamos ao próximo item.

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iPhone 5S Turbo

Qual o nome de um smartphone que se parece com o iPhone 5s, tem o Touch ID do iPhone 5s e tela de iPhone 5s? Para a Apple, iPhone SE, com o cuidado de não numerá-lo sob o risco de entregar o jogo. Fato é que o iPhone SE é um verdadeiro Frankenstein, não exigindo nenhum novo componente para ser criado, já que tem a configuração do iPhone 6s, câmera frontal de iPhone 6 e carcaça de iPhone 5s (ou mesmo do iPhone 5). Por isso o preço menor, talvez, já que a Apple devia ter um monte de caixas estocadas de iPhones não vendidos para costurar um iPhone novo.

Legal esse iPhone SE, não? Ops, imagem errada.

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Ele pode até não trazer o nome, mas é um iPhone 5s Turbo. Sem 3D Touch, é claro, o diferencial mais atual dos iPhones. Mas ei! Você está economizando US$ 250, se lembra? A Apple lembra, então não se esqueça de que todas os recursos atuais e futuros do 3D Touch não estarão disponíveis para você. Mas garantimos que estará disponível para todas as novas versões dos iPhones, como o iPhone 7 previsto para esse ano (quantos iPhones!). Requentar hardware para fingir que lançou um smartphone novo não é novidade, mas é curioso ver a Apple, que sempre criticou essa postura publicamente nos modelos da Samsung, fazer exatamente o mesmo.

Para terminar, vale lembrar que nem tudo é turbo. Conhecida como a empresa com foco em experiência de uso e produtos Premium, a Apple é, talvez, a única empresa que tem coragem de anunciar um smartphone de US$ 400 com 16 GB de memória interna em pleno 2016. E, claro, sem suporte para cartões microSD. Ele é mais barato? Sim, mas basta considerar que um Zenfone 2 custa US$ 299 nos EUA com 32 GB e suporte para cartões microSD. Mas a Apple disponibiliza também a versão de 64 GB, que está lá para resolver esse problema (criado pela própria Apple), desde que você invista “míseros” US$ 100 a mais. Aí sim, agora é um bom negócio. Não, pera...

Funciona a pilha?

Este artigo foi escrito em um teclado Bluetooth, que funciona com duas pilhas AAA recarregáveis de 1800 mAh cada uma. Enquanto isso, a Apple anuncia um smartphone com uma pilha (ops, bateria) de 1642 mAh. O iPhone SE chegará ao mercado no dia 31 de março, de forma que sua autonomia ainda é uma incógnita, mas se ele vem com o Apple A9 e uma câmera que filma em 4K, quantos minutos de gravação será que ele aguenta? É praticamente impossível unir “boa autonomia” e “iPhone” na mesma frase sem entrar em contradição, mas 1642 mAh para um iPhone é realmente pouco.

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3D Touch? Nope.

Se fôssemos chutar, diríamos que essa é uma estratégia da Apple. Se um iPhone novo já passa boa parte do dia na tomada, quando a bateria ainda está boa, o que esperar de um iPhone com 1642 mAh depois de 1 ou 2 anos? O usuário ficará tão irritado em ter que passar o dia carregado-o que ficará tentado a comprar um novo, talvez? A tempo de um iPhone SE 2 chegar ao mercado e resolver o problema desembolsando a bagatela de algumas centenas de dólares? Alguns chamariam isso de teoria da conspiração. Outros, de capitalismo.

Conclusão: enquanto isso, no Brasil...

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São nada menos do que 110 países confirmados para o iPhone SE, sendo estatisticamente improvável que fiquemos de fora. Usando a mesma conversão do iPhone 6s americano (US$ 649 = R$ 3.999), chegamos a um valor teórico de aproximadamente R$ 2.549, já considerando impostos, taxas de importação e o lucro da Apple. Mesmo considerando a alta do dólar, trata-se de um valor maior do que um Moto X Style, ou mesmo de um Zenfone 2 Deluxe (aquele com 128 GB de memória interna). Tem alguma coisa muito errada aí.

Mas, com certeza, ele vai interessar quem estava procurando uma opção mais acessível do iPhone. É interessante racionalizar um valor como R$ 2.549 como “acessível”, já que é possível comprar uma TV 4K mais acessível, ou montar nosso PC gamer mais básico (e ainda sobrar uma grana!), ou fazer muita coisa legal. Mas não: é o preço de um smartphone que não traz nada de novo e não é Premium, mas sim o smartphone de Victor Frankenstein sem custar, praticamente, nenhum centavo a mais para a Apple.