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Opinião: imagens do iPhone 7 mostram que a Apple esqueceu como inovar (Parte 5)

Por| 22 de Julho de 2016 às 23h17

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Opinião: imagens do iPhone 7 mostram que a Apple esqueceu como inovar (Parte 5)
Opinião: imagens do iPhone 7 mostram que a Apple esqueceu como inovar (Parte 5)

Hora de fechar esse artigo, entender que o posicionamento da Apple está longe de ser inocente, sendo verdadeiramente algo precisamente calculado. Antes de fechar o artigo, porém, não podemos deixar de fazer um rápido comentário sobre a versão de entrada com 32 GB.

A questão da memória interna

É mais ou menos certo que a geração de iPhones de 2016 (com exceção do iPhone SE) virá com um mínimo de 32 GB, algo comemorado por uma boa parte dos fãs, mesmo aqueles que reconhecem que a Apple não teve a escolha de não fazê-lo. Ainda que exista pouca relação entre especificações técnicas e experiência de uso, chega uma hora que o primeiro é tão limitado que começa a interferir no segundo. E, de fato, já passamos da época de ter topos de linha com 16 GB, como boa parte dos fabricantes Android está aí para dizer.

Rigorosamente falando, uma memória interna de 32 GB ainda tem lá os seus problemas quando não há possibilidade de expandir o armazenamento. A tentativa da Samsung de adotar uma postura "Apple wannabe" nos topos de linha de 2016, que no Brasil chegaram com 32 GB de memória interna e sem suporte a cartões microSD (exceto o S6 Edge de 64 GB, que era caro demais), foi vista com desconfiança por muitos usuários. Tanto foi o caso que a empresa voltou atrás e voltou também a habilitar expansão de memória.

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32 GB é o novo 16 GB.

A Apple, que não é boba nem nada, também reconhece isso. Os iPhones mais recentes pularam os 32 GB, trazendo opções de 16 GB, 64 GB e 128 GB. Deixou de fazer sentido pagar US$ 100 a mais pelo modelo de 32 GB, e pagar US$ 200 a mais pela versão de 64 GB tinha uma péssima relação custo-benefício. Isso significa que, na melhor da hipóteses, mesmo que a Apple abandone os 16 GB nas versões mais básicas (finalmente, diga-se de passagem), ainda assim o aparelho não atenderá tão bem quanto as pessoas imaginam.

Usar 32 GB em 2016 é mais ou menos o equivalente a usar 16 GB em 2011, já que os apps ficaram maiores e mais complexos, e esse é o motivo de a Apple ter demorado tanto para fazê-lo. Foi algo calculado tanto por uma perspectiva de experiência de uso – que se mantém virtualmente a mesma – quando em relação aos custos de produção. Cinco anos é um período mais do que suficiente para manter essas duas variáveis como constantes.

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O iPhone está deixando de ser competitivo?

Esse item serve como uma pré-conclusão. Juntando a crítica à falta de inovação no design do iPhone 7 (primeira parte), algo que é visto como uma vantagem por alguns, interpretando o conservadorismo de manter um design "que funciona" como uma forma de inovação, algo que exploramos na segunda parte. O mesmo elogio pré-aprovado é utilizado para a ausência do conector de fones de ouvido, que, aparentemente, já estava na hora de ir embora, visto por muitos como o abandono do cabo VGA (D-SUB), mas com um corte abrupto em vez da substituição progressiva.

O principal argumento que muitos usam para continuar com o iPhone é o iOS, talvez seu único ponto realmente único, seu diferencial, em especial o mito da "integração entre hardware e software". Exploramos isso na terceira parte, onde deixamos claro que o chip Apple A9 está muito longe de ser um chip inferior aos octa-core e deca-core que já estão presentes no mercado. Seria o mesmo que dizer que um jogo relativamente leve, como o Civilization V, consiga rodar, através de alguma mágica, em um Core i7 com 16 GB e placa de vídeo de alto desempenho.

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O iPhone se tornou um produto incompleto, com diversas DLCs para realmente proporcionar a experiência.

De qualquer forma, não podemos ignorar alguns dos méritos do iOS, sendo o principal deles que a Apple não "esquece" os aparelhos mais antigos, mantendo-os atualizados por anos seguidos. Isso é algo que exploramos na quarta parte, bem como a sensação de exclusividade proporcionada por adquirir um produto que poucos têm condição de comprar (ou mesmo vontade de investir tão alto). E, também, este ano talvez seja a primeira vez que a Apple libere 4 iPhones, algo nunca visto na história da empresa, o que diminui a sensação de exclusividade, já que, afinal, qual iPhone desse ano você comprou, mesmo? O singelo iPhone SE de 16 GB ou o iPhone 7 Pro de 128 GB (quem sabe 256 GB)?

Juntando isso com o item anterior, sobre ilusão de que a Apple "finalmente tenha percebido" que 16 GB não funciona mais, aonde chegamos?

Conclusão

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Há um motivo para a Apple ser a maior empresa do mundo de tecnologia. Para vender menos do que a Samsung, mas conseguir lucros operacionais maiores. Ela sabe que parte de seus clientes está insatisfeita, algo que é relativamente recente, já que gerações sucessivas com poucas inovações abriram as portas para a comparação de seus produtos com a concorrência. Não existe "a Apple perdeu a mão" ou "a Apple só agora está percebendo que precisa inovar mais rapidamente", mas é sim uma postura de mercado premeditada.

O mercado de smartphones está entrando em processo de saturação, e grande parte dos fabricantes opta por duas estratégias: ou criar um produto realmente diferente (caso do Moto Z com design "modular" ou criando aparelhos com recursos e configuração mais recente com preços mais "justos", como é o caso da Asus e de diversas fabricantes chinesas. A Apple escolheu um terceiro caminho, este muito mais lucrativo: vender a experiência dividida em diversos produtos, apelando para o fechamento e exclusividade da experiência de uso.

Essa estratégia funciona assim: você quer um iPhone? Tem o 7 com 32 GB por X. Mas ei: é melhor pagar um pouco mais caro pela versão de 64 GB ou 128 GB. X + Y. Mas é melhor protegê-lo, já que alumínio fica com marcas e há a câmera em alto relevo, então é melhor comprar uma capa de proteção. X + Y + Z. Mas ei: que tal levar uma bateria externa, ou um case com bateria embutida, de preferência da própria Apple? X + Y + Z + W.

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Não se esqueça de comprar um iPad, um Macbook, uma Apple TV e um Mac. Senão não vale.

Os fones de ouvido Lightning inclusos são "ok", mas é bom correr atrás de um modelo melhor com esse conector. Ei! Temos modelos da Beats (que pertence à Apple) com esse suporte e qualidade bem superior por algumas centenas de dólares. X + Y + Z + W + S (estamos ficando sem ideias de letras). Você não investiu em tudo isso para usar o Spotify, não? Melhor assinar o Apple Music, que é "otimizado para iPhone" com fones de conector Lightning. X + Y + Z + W + S + P. Tem também o...

Vamos parar por aqui para sermos educados, mas a progressão é infinita. O iPhone passa a ser um produto de entrada, com diversas "DLCs" para que você tenha a "experiência que a Apple projetou para você", que exige investimentos contínuos para quem você tenha uma experiência que era muito mais barata há poucos anos. Isso partindo do iPhone 7 mais barato, já que a conta fica ainda mais cara com as versões Plus e Pro. O fechamento de diversos apps é exatamente isso, de forma que você pode usar todo esse investimento com o coleguinha que fez o mesmo.

Em relação ao design, por que mudar esse ano? Quer um design novo? É melhor esperar a próxima versão. A empresa descobriu uma forma de aumentar ainda mais lucros sem que o cliente perceba e continue pagando por seus produtos e serviços. Pior: depois de todo esse investimento para uma plataforma fechada, você não tem motivação para mudar, não é? Afinal, tudo vai para o lixo, e você terá que começar do zero.

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A Apple não perdeu a mão e não se acomodou. A Apple é genial.