Opinião: imagens do iPhone 7 mostram que a Apple esqueceu como inovar (Parte 4)
Por Pedro Cipoli | 20 de Julho de 2016 às 23h34
A partir de agora começaremos a convergir o nosso posicionamento sobre a falta de criatividade da Apple com o iPhone 7. Exploramos o design em si na primeira parte, enquanto a segunda foi dedicada à aprovação automática de qualquer decisão da empresa. Já na terceira parte, explicamos como a tão falada "otimização de software e hardware do iOS" é realmente verdade, já que muitas vezes se esquece que ele traz um dos chips mais poderosos quando foi anunciado. Considerando as informações que temos até então, a conclusão já começa a ficar mais bem delineada.
Por quê? Porque agora a motivação dos usuários em continuar endorsando o iPhone e as pisadas no freio de novos recursos começa a fazer mais sentido. A Apple naturalmente ganha em segurar novos recursos, mas ainda sobra a dúvida sobre o motivo dos usuários de estarem "ok" com isso. Considerando isso, vale começar com um questionamento:
A preferência é pelo iPhone ou pelo iOS?
Imaginem por um momento - ainda que seja algo restrito somente à imaginação - que a Apple disponibilizasse o iOS para quem quisesse implementá-lo. O sistema estaria disponível para qualquer um, incluindo Samsung, LG, ASUS e qualquer outra fabricante que quisesse utilizá-lo. A situação geral (bastante fantasiosa) seria mais ou menos o que acontece hoje com o Android: o Google anuncia seu modelo de referência, enquanto dezenas de fabricantes tentariam diferenciar seus aparelhos com suas própria modificações.
Imaginou? Nesse cenário, duas coisas aconteceriam com certeza. Em primeiro lugar, usuários poderiam escolher o fabricante que preferissem, ainda que muitos deles acabassem modificando o sistema, o que agrada uns e desagrada muitos, além de outros que o implementariam literalmente, como projetado pela Apple. Em segundo, a Apple perderia um de seus únicos trunfos, já que perderia o seu único diferencial de fato. Porém, causaria um problema extra, algo que somente a Apple poderia "resolver", que é a integração do iOS com todos os seus equipamentos.
Se há algo de inquestionavelmente bom nos iPhones é a atualização rápida e garantida para as próximas versões. Com exceção dos Nexus, os fabricantes do Android têm muito a aprender.
Pior, apps restritos ao iOS, e que só funcionam com outro iOS, passariam a concorrer diretamente com todos os outros concorrentes. Pensem no iMessage e FaceTime, por exemplo, que rumores apontavam que havia sinais de que uma versão para Android, ainda que fosse mais ou menos claro que isso não iria acontecer. A Apple perderia a posição confortável que tem hoje para entrar na concorrência feroz que acontece entre os fabricantes Android, e seus produtos teriam que ser tão bons, ou mesmo melhores, do que os dos concorrentes.
Entende as implicações disso? Pouco importa a adoção do iMessage, ou do FaceTime, e sim que somente os poucos escolhidos de um seleto grupo possam utilizá-los. E somente entre si. Pouco importa se eles são melhores ou piores, já que um app como o WhatsApp funciona em todas as plataformas. Usasse o iMessage com os outros "escolhidos", enquanto um app como o WhatsApp não tem esse appeal, essa "exclusividade". Customizações do Android à parte, ninguém sai por aí comparando dois aparelhos marcas diferentes pelo sistema, já que é o mesmo.
De qualquer forma, um dos motivos da escolha pelo iPhone, em especial no Brasil (onde atualizar o aparelho todo ano é caro para quase todo mundo), é que a Apple mantém a política de atualizar um aparelho para (pelo menos) as três versões seguintes. E o melhor: de forma rápida. Poucos dias após o lançamento de uma nova versão do iOS, a Apple "abre as comportas" de seus servidores e libera a atualização para todos os aparelhos compatíveis. Aparelhos mais antigos recebem versões mais castradas, mas recebem.
Os Zenfones, em especial, são os que mais demoram a receber atualizações. Por mais sucesso que um aparelho faça quando anunciado, a certeza que fica para o usuário é que ele ficará relegado a segundo plano dentro de meses.
Essa é uma falha monumental não do Android, mas de seus fabricantes. Chega a ser vergonhoso que isso aconteça mesmo atualmente, isso quando não inventam desculpas ridículas como o "aparelho tem somente 1 GB de memória RAM" (lembram do Galaxy S3? É o mesmo que dizer que o "cachorro comeu o meu dever de casa"). Fabricantes demoram meses para atualizar seus modelos. E, quando isso acontece, esperar que ocorra uma segunda atualização exige uma boa dose de fé.
Até mesmo o Google se pronunciou a respeito, e deixa o usuário desconfiado de pagar caro por um aparelho para o fabricante esquecê-lo depois de pouco tempo. A ASUS, por exemplo, que mencionamos na primeira parte por resolver o "problema das antenas" com o Zenfone 3, não atualizou o Zenfone 2 até hoje para o Android 6.0 Marshmallow. Um sistema anunciado no final de outubro de 2015 não foi disponibilizado até hoje para um aparelho anunciado oficialmente em janeiro do mesmo ano*. Nada menos do que mais de 9 meses. Casais tentaram engravidar, engravidaram, deram à luz e já foram embora do hospital.
Considerando o "clube dos poucos" e o mérito real da Apple de não esquecer aparelhos mais antigos, perguntamos novamente: a preferência é pelo iPhone ou pelo iOS?
*Até a data de fechamento do artigo
Qual é a do iPhone 7 Pro?
Até o iPhone 5, em 2012, a Apple anunciava somente um smartphone por ano. Usuários compravam o iPhone, o modelo mais atual. Desde então, começaram os lançamentos duplos, mas até aí era possível diferenciá-los pelo tamanho, e o usuário poderia escolher entre o iPhone "comum" e a versão Plus, que trazia uma bateria de capacidade decente (finalmente), mas tinha um tamanho grande demais para que todos ficassem confortáveis em carregá-lo por aí. O mesmo aconteceu com os iPads. Não existe mais o iPad, mas sim o iPad Air, o iPad Mini e o iPad Pro (esse em dois tamanhos). Mais e mais aparelhos.
Esse processo de "samsungzação de aparelhos" (uma expressão que não existe, mas você entendeu) parece se acelerar esse ano. Já vimos o iPhone SE, e, ao que tudo indica, teremos mais 3 modelos: o iPhone 7, o iPhone 7 Plus e o iPhone 7 Pro. Quatro modelos em apenas um ano (conseguem imaginar Steve Jobs vendo isso?). Em primeiro lugar, perdeu-se a exclusividade; já o conceito de "iPhone do ano" foi para o espaço, mas não é isso que nos incomoda, e sim a versão "Pro".
Falta o iPhone SE, completando os quatro (supostos) aparelhos da Apple de 2016. Usuários já pagam um valor "premium" pelos aparelhos, mas isso não impede a Apple de querer cobrar um valor "Pro".
O iPhone já é um dos modelos mais caros do mercado, reconhecido pela baixa relação custo-benefício (ainda que perca para os delírios recentes da Sony), mas que mostra o que a Apple tem de melhor para oferecer. Ainda assim a Apple pretende dar a opção de uma versão "Pro"? Além de ter que pagar mais caro para ter uma memória interna de tamanho decente, o mesmo valendo para uma bateria que presta na versão Plus, a Apple quer cobrar mais pela versão "Pro"? E aquele conceito de que a versão atual é a melhor disponível?
A existência de uma versão "Pro" ainda não é 100% confirmada, onde o diferencial seria a câmera dupla, recurso já presente em uma dezena de modelos Android, sabe? A verdade é que ele seria uma versão superfaturada que, na opinião do autor, diminui o interesse pelos outros. Os "não-Pro", por assim dizer. Não há nada de Pro, e sim um modelo que traz um recurso que deveria estar presente em todos os outros modelos, mas custará mais caro ainda.
Fecharemos esse artigo na quinta e última parte (prometemos!), já tendo quase todas as informações para chegarmos à nossa conclusão.
Com informações: NowHereElse