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Opinião: smartphones no Brasil são caros demais, e não é culpa só dos impostos

Por| 13 de Maio de 2013 às 09h50

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The Verge
The Verge

No Brasil estamos acostumados a pagar muito caro por qualquer coisa, de roupas e comida até smartphones top de linha. Nossa primeira reação é culpar os impostos, que representam aquela generosa parcela de nossos salários que simplesmente doamos ao governo sem ter qualquer benefício em troca. Sim, eles realmente representam boa parte dos preços de qualquer coisa por aqui, em alguns casos chegando a 97% do valor final de alguns produtos. Mas quando falamos de smartphones, o buraco é bem mais embaixo.

Atualmente, tornou-se comum ver modelos novos por R$ 2500, ou o preço de uma viagem para a Argentina durante 10 dias para duas pessoas com tudo incluso (até mesmo impostos). Como chegamos a esse ponto? Abaixo, temos os preços dos principais modelos disponíveis por aqui:

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Fábrica da Foxconn

Agora, vamos comparar o preço final com o preço de produção de cada um deles:

Como podemos ver, a margem de lucro dos fabricantes é enorme mesmo para o público americano em um mercado bem mais competitivo do que o nosso, e mesmo que o nível de sofisticação de cada uma das plataformas seja bastante alto, o custo de produção é bastante baixo para os fabricantes. Olhando para esses números dá para concluir como os preços saíram dos trilhos, afinal o Blackberry Z10 vendido por aqui por R$ 2449 custa pouco mais do que R$ 300 para ser produzido.

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Hora de falar de impostos

Sabemos que eles são altíssimos, mas qual é o valor exato? Para modelos importados o imposto é de 60%, mais 25% de ICMS/IPI. Mesmo que as lojas daqui comprassem o aparelho pelo preço cheio nos Estados Unidos e aplicassem os 85% de impostos brasileiros, ainda assim estariam lucrando bastante. Mas não é o que acontece. Os modelos trazidos são comprados diretamente do fabricante com preço de atacado, pouca coisa maior do que o custo de produção.

Pior ainda: os mais caros da lista (Galaxy S4 e iPhone 5) já são fabricados no Brasil, então não há nada de 60% de imposto de importação. Os fabricantes vivem culpando os impostos pelos altos preços de seus aparelhos, mas a Lei do Bem que zera os 25% de ICMS/IPI de aparelhos que custam até R$ 1500 mostra que eles são caros apenas por lucro, e as fabricantes pouco diminuiram os preços dos aparelhos. É a mesma história das montadoras de carros: "Os preços são altos por causa do IPI", diziam sempre. Depois de o governo zerar o IPI, o discurso mudou para "Ok, o IPI não era tão alto assim".

Claro que nenhum dos modelos que listamos acima entra na Lei do Bem. Apenas a citamos para mostrar que o governo não é o maior responsável pelos preços finais por aqui. Vamos analisar modelo por modelo em relação aos recursos e preço final para ver se conseguimos encontrar uma explicação satisfatória.

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Apple iPhone 5

O iPhone é caro desde o primeiro modelo, o que nunca atrapalhou as suas vendas. Quem lembra o preço absurdo do iPhone 4s quando chegou no Brasil - R$ 2599 na Apple Store -, lembra também que a empresa voltou atrás e começou a vender o modelo de 16 GB por R$ 1999 depois de poucos meses.

Por R$ 2899 - ou R$ 300 a mais que o preço cobrado pelo aparelho no mercado brasileiro - é possível ir até os Estados Unidos e comprar o smartphone, mas no Brasil temos a mágica das "12 vezes sem juros" que faz com que o usuário termine de pagar as parcelas quando a próxima versão é lançada. Sempre caro, o iPhone é mais um objeto de desejo do que um aparelho com recursos de ponta, e muitos usuários se acostumaram com a plataforma e estão dispostos a pagar caro desde o início.

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Samsung Galaxy S4

No caso dos dois Androids que citamos no início desse artigo, o cenário é bem diferente. O Galaxy S4 é sim mais avançado do que o iPhone em uma variedade de aspectos, mas como um modelo fabricado por aqui sai por R$ 2499? Como dissemos em nosso review completo, o único concorrente do aparelho é o HTC One, que não é vendido por aqui. Então a Samsung simplesmente estipulou um preço alto por saber que não há concorrência. É caro porque é caro. Quer um Galaxy S4? É só desembolsar R$ 2499, preço que o coloca no mesmo nível do iPhone: um objeto de desejo, não importando qual recurso ele possua (ou não possua).

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LG Optimus G

O Optimus G é um caso interessante. Ele nada mais é do que um Nexus 4 trazendo uma versão menos atualizada do Android que chegou meses atrasado por aqui, o que não impediu a LG de usar o famoso argumento "Quanto custa um smartphone top de linha no Brasil hoje? R$ 1999? Então o Optimus G vai custar R$ 1999, afinal é um modelo top de linha". Pode ser um excelente smartphone, mas concorria com o Galaxy S3 quando foi lançado, não terá a velocidade de atualizações do LG Nexus 4 e custa caro. Pelo dinheiro que se gastaria no Optimus G é possível comprar um Optimus G Pro (geração atual) nos Estados Unidos e ainda economizar uma bela grana.

Nokia Lumia 920

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A Nokia demorou, enrolou e disse mil maravilhas quando o Lumia 920 foi finalmente lançado. Enfim, o Windows Phone 8 chegou às prateleiras...por R$ 1999. O motivo? Bem, a Nokia virou assunto corriqueiro quando se fala em prejuízo e risco de falência, e a nova geração dos Lumias é a última tentativa da empresa de sair do buraco, então nada como superfaturar o modelo "top de linha" esperando a generosidade dos brasileiros em colocar a empresa de volta no topo. E, bem, quanto custava um modelo top por aqui quando ele foi lançado? R$ 1999, né?

Não se enganem: o Lumia 920 não é um top de linha. Ele traz praticamente as mesmas especificações do Sony Xperia S, lançado em janeiro de 2012 e anunciado ainda em 2011, que hoje sai por pouco mais de R$ 1000. O Windows Phone 8 pode ser até um bom sistema, mas ainda não possui um representante que concorra com os principais Androids ou iPhone, e tentar vendê-lo como um top de linha só vai diminuir o crescimento da plataforma, que já é lento.

Blackberry Z10

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E não podemos esquecer o BlackBerry Z10. O preço calculado inicialmente para o mercado brasileiro era de R$ 1999, e então o Galaxy S4 foi lançado por R$ 2499. Com base nesse cenário, a Blackberry fez a mesma coisa que regula os preços por aqui (e isso saiu da boca de um executivo da empresa para nós): "Quanto custa um smartphone top de linha no Brasil hoje? R$ 2499? Então o Z10 vai custar R$ 2449, afinal é um modelo top de linha". O Z10 seria até uma boa opção se chegasse por R$ 1600 (que ainda é caro), mas R$ 2449 é obsceno quando vemos os recursos do aparelho.

Com o mesmo hardware do Lumia 920 (uau, hein??), as vendas do Z10 podem fazer com que a Blackberry finalmente saia da péssima situação em que se encontra hoje. Como a Nokia, a empresa viu o crescimento do Android e iOS e foi confiante demais sobre a sua posição, e hoje tenta empurrar um aparelho absurdamente caro para mostrar que é "cool", afinal, antes suas vendas se resumiam a executivos que já nasceram de terno e gravata.

Por fim, vamos mostrar com um cálculo simples qual é a margem de lucro de cada aparelho apenas a título de curiosidade. Dividindo o preço sugerido por aqui com os custos de produção lá fora, chegamos a:

  • Apple iPhone 5 (16 GB): 594%
  • Samsung Galaxy S4 (4G e 16 GB): 427%
  • LG Optimus G: 300%
  • Nokia Lumia 920: 334%
  • Blackberry Z10: 695%
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E esse talvez seja o motivo de tão poucas pessoas no Brasil carregarem modelos top de linha nos bolsos. Por aqui as empresas trabalham com uma margem de lucro tão irreal que até o Nexus 4, vendido por R$ 600 lá fora com o subsídio do Google, chega para nós por R$ 1799. Aqui não há lucro a longo prazo ou competição. Basta os fabricantes sentarem e esperar, já que a venda de poucos aparelhos já garante rios de dinheiro sem grande esforço.

Nokia Lumia 928

Publicamos um artigo mostrando por que o Lumia 928 da Nokia não nos impressionou, sendo basicamente um upgrade incremental do Lumia 920. E com o preço dos modelos top de linha do Brasil na casa dos R$ 2500, conseguem chutar quanto pedirão por ele por aqui?