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Retorno de Arquivo X atualiza conceito e traz novas conspirações à série

Por| 28 de Janeiro de 2016 às 12h45

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Retorno de Arquivo X atualiza conceito e traz novas conspirações à série
Retorno de Arquivo X atualiza conceito e traz novas conspirações à série

A verdade continua lá fora.

Depois de 14 anos, Arquivo X volta à TV com um misto de expectativa, nostalgia e preocupação. Afinal, quase uma década e meia se passou desde que vimos os agentes Mulder e Scully pela última vez e muita coisa mudou nesse tempo. E não apenas na forma como o mundo olha para o céu e pensa sobre vida extraterrestre e todas as demais conspirações envolvidas, mas no modo como consumimos uma série de TV.

A HBO nos acostumou mal com suas séries contínuas e repletas de ganchos que nos fazem esperar pelo episódio da próxima semana e a Netflix apenas piorou isso ao nos deixar ligados por horas e horas em maratonas. É claro que o formato "caso da semana", em que capítulos contavam histórias isoladas que se conectam com a trama principal, ainda existe, mas sem o mesmo impacto que tínhamos nos anos 90.

Por isso, ver Arquivo X voltar depois de tanto tempo deixou muitos fãs preocupados. Manter a estrutura clássica poderia não ser tão atraente para o novo público, mas abandoná-lo seria negar seu próprio legado. E, agora que o programa finalmente estreou, podemos ver que a Fox preferiu se manter fiel àquilo que eternizou o show e o transformou em um ícone da TV. Com seus altos e baixos, Mulder e Scully estão de volta.

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Os Arquivos X foram reabertos.

A conspiração

Depois de tanto tempo, era natural que os fãs quisessem ver o que aconteceu com os protagonistas após o término da última temporada. E o programa faz isso muito bem ao nos mostrar o que cada um está fazendo desde que entregaram seus cargos no FBI. De um lado, Dana Scully segue sua carreira médica em um hospital religioso, de outro Fox Mulder vive em algum buraco, isolado, entre a depressão e a angústia de ter deixado a pesquisa da sua vida para trás.

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Não há como negar que reencontrar os atores Gillian Anderson e David Duchovny de volta nos papéis que os marcaram é um enorme prazer. Vê-los de volta correndo atrás de aliens e outros mistérios é algo muito satisfatório e que nos faz esquecer até mesmo as péssimas atuações. É como encontrar aquele velho amigo que, apesar de tudo, ainda é seu melhor.

No entanto, o grande acerto de Arquivo X foi saber resgatar o clima de conspiração que sempre marcou a série, principalmente ao atualizar a ideia com a paranoia atual. Logo no capítulo de estreia, o programa retoma vários elementos das temporadas passadas e aplica um verniz contemporâneo ao adicionar as paranoias atuais e até alguns casos reais a isso.

De repente, não se trata mais apenas de uma invasão alienígena programada à Terra ou de uma colonização com base em bebês-híbridos, mas de algo ligado ao próprio governo. A série não nega nada daquilo que vimos ao longo de nove temporadas, mas deixa claro que estávamos olhando sob um ponto de vista completamente equivocado. E tudo fica ainda mais interessante quando vemos críticas ao governo Bush, o debate sobre o porte de armas nos Estados Unidos e até os casos WikiLeaks e Edward Snowden sendo usados para mostrar que, uma década e meia depois, ainda há espaço para buscar a verdade que se esconde lá fora.

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E é o primeiro episódio que melhor apresenta isso. Temos um apresentador de um programa online que sabe muito sobre essa verdade, mas que precisa da ajuda dos dois ex-investigadores para provar e trazer isso à tona. Ao mesmo tempo os próprios Mulder e Scully precisam se convencer de que existe algo mais que justifique esse retorno à busca paranoica por algo que nem eles mesmos sabem o que é. No meio disso tudo, o espectador fica sentado na ponta do sofá à espera do que vai acontecer em breve.

Esse sempre foi o charme da série. Não se trata apenas de acreditar que não estamos sozinhos no universo ou que coisas estranhas acontecem, mas que tudo isso está envolvido em segredos e que há gente muito poderosa querendo esconder esses fatos. E o retorno de Arquivo X consegue resgatar essa essência muito bem. Ao usar eventos reais e recentes para isso, o programa traz de volta aquilo que conquistou os fãs durante os anos 90: a dúvida. E se todas essas teorias loucas levantadas pelos personagens tiverem um fundo de verdade? E se, por trás da ficção, existir uma dica para aquilo que se esconde por trás de pronunciamentos oficiais e operações sigilosas?

Tudo vai depender do quanto você quer acreditar.

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E é aí que os novos episódios conquistam o público, seja ele um velho fã ou apenas algum curioso. Arquivo X traz de volta a ótima dinâmica dos protagonistas, com um Mulder fazendo loucuras para provar suas teorias, enquanto Scully tenta ser a razão da dupla.

Mantendo a fórmula

Se o primeiro episódio serve para dar o tom dessa minissérie, o segundo vem para mostrar que a velha fórmula não foi abandonada. E é aí que você percebe o quanto os novos formatos nos acostumaram mal em relação ao modo como vemos TV. Depois de toda a empolgação e enxurrada de emoções do capítulo de estreia, a sua sequência volta à estrutura clássica de caso da semana e quase não tem ligação com o que vimos antes — mesmo com todos os ganchos deixados por ele.

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Assim como nos anos 90, os agentes precisam investigar um estranho caso e, aos poucos, vão percebendo que isso está relacionado com a tal conspiração recém-descoberta. Mesmo com as conexões feitas à trama principal, é a velha história do "caso da semana". Não é ruim — muito longe disso, na verdade —, mas há uma quebra de ritmo e expectativa enorme.

Essa mudança repentina no tom faz com que esse segundo episódio seja muito mais voltado aos velhos fãs do que para quem está começando. Se você nunca viu Arquivo X antes, certamente vai se perguntar o que houve após todas as reviravoltas do capítulo anterior e pode se incomodar com esse desvio de foco. Porém, se você se permitir dar tempo ao tempo, vai conseguir se divertir com o estranho caso apresentado.

Para todo mundo

No fim das contas, o que mais chama a atenção nesse retorno foi a preocupação em fazer com que tudo fosse acessível. Você não precisa ser um especialista em Arquivo X para entender quem é quem e o que está acontecendo. Ele faz um excelente trabalho de contextualização para apresentar fatos e o papel daquelas pessoas dentro do contexto ao mesmo tempo em que não se torna maçante para quem já conhece a história.

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Dessa forma, quando eles citam as abduções de Scully, por mais que você não tenha visto um único episódio das temporadas originais, vai entender a partir de um simples olhar ou de uma frase que isso aconteceu com ela no passado. Desse modo, a Fox conseguiu fazer com que o retorno do seu programa fosse também a porta de entrada para quem nunca acompanhou os casos anteriores. Assim, se você assistiu às novas histórias e ficou interessado, pode correr à Netflix e fazer uma maratona de Carnaval.

No fim das contas, Arquivo X acerta o tom em seu retorno. Os tempos são outros, a forma como consumimos séries mudou, mas algumas coisas continuam as mesmas — e uma delas é nossa paixão por boas histórias. A Fox conseguiu atualizar o conceito de um programa que muita gente temia ter se tornado datada e mostrou que ainda há espaço para brincadeiras com nossos medos e incertezas. Assim como nos anos 90, seguimos roendo as unhas na expectativa para saber qual será o próximo caso da semana.

No fim das contas, a verdade sempre esteve em nós.