Primeira temporada de Preacher funciona como introdução do seu universo
Por Gustavo Rodrigues | 01 de Agosto de 2016 às 20h03
Preacher não poderia levar toda a loucura dos quadrinhos de Garth Ennis e Steve Dillon para a televisão, mesmo que já tenha dado um gostinho do que poderia vir em seu primeiro episódio. O nível de sanguinolência que o gibi da Vertigo apresentou em suas histórias, além de várias situações que soariam extremamente ofensivas para muitos telespectadores, não apareceu; e talvez isso nem seja cogitado para a próxima temporada. Apesar disso, o elo entre os três personagens principais e a insanidade que dá ritmo à história torna a narrativa dos dez episódios envolvente o suficiente para que o ano dois da produção gere um pouco de ansiedade.
Na trama, Jesse Custer (Dominic Cooper) é um pastor com passado sombrio de Annville, uma pequena cidade do Texas, mas ele é péssimo em pregar a palavra para aqueles que frequentam a sua igreja. Enquanto isso, uma entidade sobrenatural com origem na relação de um demônio e um anjo, conhecida como Gênesis, começa a circular por diversos locais da Terra, assim deixando um rastro de destruição, até chegar à igreja de Custer.
Um dos grandes acertos da série está em seu elenco competente. Eles entregam a profundidade que alguns personagens não possuem tempo para desenvolver na HQ ou que simplesmente não tinha espaço no roteiro. Os anjos Fiore (Tom Brooke) e DeBlan (Anatol Yusef) são muito mais carismáticos; o xerife Hugo Root (W. Earl Brown) tem seus problemas com o filho Eugene (Ian Colletti) bem estabelecidos em diálogos precisos; Odin Quincanmon (Jackie Earle Halley) é o opositor principal ao protagonista, mas com ambições e psicopatias bem estabelecidas. Até mesmo Emily (Lucy Griffiths), que foi criada exclusivamente para a versão televisiva, é uma adição positiva para a trama.
Contudo, quem realmente chama a atenção é o trio principal, composto por Jesse Custer, Tulipa (Ruth Negga) e Cassidy (Joseph Gilgun). A dinâmica entre os três personagens ganha mais profundidade a cada episódio, assim complementando as boas atuações que eles entregam quando não estão dividindo a cena. Apesar do protagonista não ser tão interessante quanto seus dois companheiros, possivelmente por causa do roteiro mais limpo do que a HQ, Dominic Cooper ainda dá vida a um protagonista carismático o suficiente para o telespectador manter-se curioso com o seu desenvolvimento.
Apesar de não levar toda a insanidade dos quadrinhos para a televisão, os produtores executivos Sam Catlin, Seth Rogen, Michael Slovis e Evan Goldberg conseguem recriar cenas impactantes do material original, principalmente quando mantêm o gore característico de Preacher. Um dos grandes momentos do ano um está na aflitiva sequência infinita de mortes cometidas pelo Santo dos Assassinos, conhecido como O Caubói na série, e interpretado por Graham McTavish.
Preacher demorou bastante para tomar o caminho que o trio principal segue nos quadrinhos em sua primeira temporada, mas com isso teve tempo de estreitar a relação entre eles e dosar o clima que a AMC poderia trabalhar uma obra tão icônica e chocante dos quadrinhos. São dez episódios criando a atmosfera ideal para que o telespectador aceite aquele universo profano, enquanto cria empatia pelos personagens mais importantes. Agora, restam os episódios do ano dois surpreenderem com a mesma força que os quadrinhos de Garth Ennis e Steve Dillon foram capazes durante metade dos anos 90 até o final de 2000.