Diretor do FBI diz não querer criar precedente com desbloqueio do iPhone
Por Felipe Demartini | 22 de Fevereiro de 2016 às 09h11
Com uma mensagem direta e reta publicada neste domingo (22), o diretor do FBI, James Comey, afirmou que a ideia da agência não é criar nenhum tipo de precedente com a ordem judicial que obriga a Apple a criar um backdoor no iPhone. De acordo com ele, trata-se apenas de uma questão relacionada ao massacre de San Bernardino, ocorrido no final do ano passado, e também de fazer justiça para as vítimas e seus familiares.
Por mais que os dois responsáveis pelo ataque, Syed Farook e sua esposa, Tashfeen Malik, tenham sido mortos, o desbloqueio do iPhone 5c utilizado por ele pode acabar levando à obtenção de mais informações sobre o caso e também sobre outros suspeitos de terrorismo. Ou não, afirma Comey, já que somente será possível descobrir isso com a liberação do aparelho. Sem isso, diz ele, não é possível “encarar os sobreviventes olho no olho, nem a nós mesmos no espelho”.
No que parece ser uma referência à fala de John McAfee, o diretor diz que gostaria que as pessoas parassem de pensar que “o mundo está acabando” por conta da decisão e entendam que ela é apenas uma base jurídica para que a investigação possa continuar, e não uma maneira de violar a privacidade e a segurança dos cidadãos. Mais do que isso, ele diz que a questão como um todo levanta o debate sobre privacidade contra segurança, e que o FBI está de olho na resposta da população a tudo isso.
Além disso, ele afirma que os críticos da ordem judicial subestimam o poder da agência de guardar seus próprios segredos e também a evolução da tecnologia por si só. Para Comey, mesmo que o backdoor solicitado agora vazasse e caísse em mãos erradas, o mercado por si só é rápido o bastante para que métodos de segurança e criptografia utilizados hoje se tornem obsoletos nos próximos anos, reduzindo consideravelmente o alcance de tais brechas.
Por outro lado, a autoridade do FBI diz saber que qualquer que seja o resultado dessa disputa ela influenciará na vida dos americanos por muito tempo. E é exatamente por isso que ele espera que os cidadãos participem desse processo, levando em conta a utilização da tecnologia como facilitador da vida, mas também aspectos relacionados à segurança nacional e, principalmente, para evitar que ataques como o de San Bernardino não aconteçam mais.
O atentado ocorreu em dezembro de 2015 em um centro comunitário no estado norte-americano da Califórnia. Farook e Malik abriram fogo durante uma festa de final de ano e deixaram 14 mortos e mais de 20 feridos, além de tentarem, sem sucesso, detonar uma bomba no local. Horas depois, eles foram mortos em uma troca de tiros com a polícia enquanto tentavam fugir.
Na última semana, a justiça dos Estados Unidos ordenou que a Apple criasse, especialmente para o FBI, um método pelo qual o conteúdo do smartphone do responsável pelo atentado, um iPhone 5c, não fosse apagado após dez tentativas de senha incorretas. Assim, a agência seria capaz de utilizar um ataque de força bruta para desbloquear o celular. A Maçã se negou a atender à ordem e disse que a existência de tal ferramenta é uma grave ruptura na segurança de seus dispositivos.
Fonte: Lawfare Blog