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Testes digitais de gravidez são mais potentes que o primeiro IBM

Por| 04 de Setembro de 2020 às 20h40

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Xtoff/Twitter
Xtoff/Twitter

Quase todo dispositivo eletrônico, hoje, pode ser encarado como um pequeno computador. E isso é verdade até mesmo para os pequenos testes eletrônicos de gravidez, que a partir de reações com químicos presentes na urina, são capazes de indicar ou não uma gestação. Por dentro, tais aparelhinhos são mais poderosos do que o primeiro PC da IBM, que deu o pontapé inicial na mundo da computação, mas esse potencial não é nada bem utilizado.

A constatação é de dois engenheiros e especialistas em software, além de entusiastas de computadores vintage e equipamentos estranhos, por meio do Twitter. Na rede social, os autointitulados Foone e Xtoff exibiram os detalhes internos de testes digitais de gravidez disponíveis no mercado internacional e também no Brasil por preços bem baixos e descobriram que, por mais que eles possuam toda uma arquitetura de processamento em seu interior, isso é usado única e exclusivamente para ler as mesmas tiras de papel utilizadas em testes tradicionais.

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No interior de um dos testes desmontados por Foone, por exemplo, está uma única placa com processador Holtek de 8-bit, rodando a 4 Mhz ou 8 Mhz, de acordo com a bateria utilizada, acompanhado de 64 bytes de memória RAM. É um dispositivo complexo, afirma o especialista, que possui boa performance, apesar das limitações, sendo capaz de operar uma instrução por ciclo de processamento, o que otimiza sua performance, ainda que sua utilização seja incrivelmente simples.

Na comparação, o primeiro PC da IBM usava um microprocessador Intel 8088 adaptado, também de 8-bit e capaz de rodar a 5 Mhz. Lançado em agosto de 1981, o computador foi um marco do início da compuração doméstica e custava a partir de US$ 1.565. Hoje, quase 30 anos depois, os testes de gravidez analisados pelos especialistas são mais poderosos, custam cerca de R$ 30 nas farmácias brasileiras, e são descartáveis, sendo usados uma única vez e jogados no lixo na sequência.

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São também uma farsa, na visão de Xtoff corroborada por Foone. Os dispositivos, segundo eles, são vendidos como alternativas mais precisas aos testes tradicionais, que custam em média R$ 6 no Brasil. O poder de processamento em seu interior, no final das contas, é usado para acender e apagar LEDs que iluminam a mesma tira de papel usada nas versões comuns, com um sensor de iluminação indicando o resultado de acordo com a leitura, alterada pela presença do conjunto de linhas que aparece de acordo com a existência ou não da gravidez.

A diferença é que, em vez de interpretar as figuras de acordo com o manual, os testes digitais exibem a resposta sobre a gestação ou não em uma tela monocromática. Na visão deles, os dispositivos não apenas não entregam o que prometem como podem ser, na realidade, menos precisos que as versões tradicionais, apresentando erros de leitura devido a um processo de reação química que não é exato e idêntico em todos os casos. Além disso, há a questão da bateria, que é simples e com pouca carga, podendo descarregar antes mesmo do uso, o que tornaria o aparelhinho completamente inútil, a não ser que fosse desmontado para uso da tira tradicional em seu interior.

Foone ainda brinca, afirmando que não é possível rodar Doom no computador usado no teste de gravidez. Não pela falta de processamento, mas sim, pelo fato de modificações na ROM não serem possíveis, talvez, nem mesmo com um programador proprietário usado pela fabricante; mais um reforço da ideia de que estes são produtos efetivamente descartáveis. O especialista tentou manipular um pouco mais o produto, mas acabou o prendendo em um loop de reinicialização e travamento que acabou o tornando inutilizável.

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Entretanto, uma argumentação contrária veio pela também especialista em tecnologia Naomi Wu, que no Twitter, indicou que a acessibilidade proporcionada pelos testes digitais faz com que eles não sejam inúteis. Ao indicar a presença ou não da gravidez de forma clara, em vez de exibir a leitura de um manual e a comparação de símbolos, os dispositivos se tornam úteis para a população de baixa renda ou mulheres não alfabetizadas, bem como portadoras de dificuldades visuais ou daltonismo.

Foone aponta, ainda, que eles poderiam ser desenhados de forma a serem reutilizados, com a substituição da tira de papel em seu interior. Entretanto, isso também significaria que as fabricantes fariam menos dinheiro com o dispositivo. Diante da argumentação de Wu, ele repensou os argumentos sobre a existência dos testes digitais. Embora ainda menos precisos e mais caros que os tradicionais, parecem, sim, terem um propósito para existirem.

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Fonte: Foone, Xtoff, Naomi Wu