Terapia de diferenciação transforma células cancerígenas em saudáveis
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

O combate ao câncer é uma das áreas mais investigadas pela ciência, com diferentes frentes de tratamento em desenvolvimento, como a CAR-T Cell ou as vacinas de mRNA. Ampliando ainda mais o leque de possibilidades, pesquisadores do Cold Spring Harbor Laboratory, nos Estados Unidos, testam a eficácia da terapia de diferenciação, em laboratório, com o objetivo de converter células cancerígenas em saudáveis.
Por enquanto, a nova terapia norte-americana é testada contra os sarcomas, como o rabdomiossarcoma — um dos mais associados aos casos em crianças e adolescentes. Estes representam um grupo de cânceres que afeta as partes moles do corpo, como músculos, tendões e ligamentos, por exemplo. Em comum, eles se originam a partir de células mesenquimais primitivas, ou seja, um tipo de célula-tronco.
Fora da área de pesquisa, o tratamento padrão consiste na cirurgia de remoção do tumor, além da quimioterapia e da radioterapia. Passar por todas essas etapas pode ser difícil para as crianças, que nem sempre compreendem aquilo que estão enfrentando. Se tudo der certo, os pequenos terão uma nova forma de tratamento, menos dolorosa e mais simples.
Tratamento transforma as células cancerígenas
Antes de seguir, vale pontuar que a ideia para testar a nova abordagem surgiu quando outra equipe de pesquisa descobriu que as células leucêmicas (em casos de leucemia) não estão totalmente maduras — estão em estado desdiferenciado. Isso significa que, semelhantes às células-tronco, elas ainda poderiam passar pelo processo de diferenciação, onde “cresceriam” e se tornariam adultas.
Dessa forma, a terapia induz justamente a essa evolução, mas o processo faz com que, na verdade, as células se tornem saudáveis, deixando para trás a forma associada ao câncer.
Por enquanto, a estratégia do laboratório norte-americano já foi preliminarmente validada contra o rabdomiossarcoma e contra o sarcoma de Ewing — outro tipo de câncer infantil, mas que geralmente surge nos ossos das crianças.
Terapia de diferenciação contra o rabdomiossarcoma
Publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), o estudo foca especificamente nos testes pré-clínicos da terapia de diferenciação contra o câncer rabdomiossarcoma (RMS), quando este afeta as células musculares de crianças.
Através de análises genéticas, os pesquisadores descobriram que a proteína NF-Y é capaz de forçar a diferenciação nas células, impedindo o avanço do câncer nas células musculares.
“As células literalmente se transformam em músculos. O tumor perde todos os atributos do câncer. Eles estão mudando de uma célula que só quer produzir mais de si mesma para células dedicadas à contração”, explica Christopher Vakoc, um dos autores do estudo, em nota.
“Como toda a sua energia e recursos estão agora dedicados à contração, não pode voltar a este estado de multiplicação [cancerígena]”, acrescenta o pesquisador. Se esse movimento ocorrer em larga escala, a aposta é que isso provoque a cura do câncer.
Em tese, a estratégia envolvendo a terapia de diferenciação pode ser aplicada contra todos os cânceres, revolucionado o tratamento oncológico. Inclusive, é o que aposta Vakoc sobre as bases da nova terapia, sendo necessário apenas descobrir quais são as proteínas capazes de provocar a diferenciação tão necessária em cada tipo de tumor.
Fonte: PNAS e Cold Spring Harbor Laboratory